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sábado, 1 de janeiro de 2022

Largue o cel e olhe para o céu #26

 47 Tucanae


Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #025 - 47 Tucanae

O objeto do céu profundo conhecido como 47 Tucanae é um aglomerado globular (um agrupamento esférico de estrelas unidas gravitacionalmente) que se localiza na constelação Tucana (Tucano, em português). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.

Diferentemente das outras constelações apresentadas nas edições anteriores desta coluna, Tucana não tem sua origem relacionada às mitologias grega e romana. No final do século XVI, os navegadores holandeses Pieter Dirkszoon Keyser e Frederick de Houtman observaram um conjunto de constelações austrais, sendo uma delas a de Tucana, que representa uma ave de bico longo conhecida como Tucano, encontrada em florestas da América Central e América do Sul (Figura 1). Petrus Plancius a representou primeiramente em seu globo celeste em 1598, sendo seguido por John Bayer que a considerou em seu atlas de 1603 (RIDPATH, 2018) (Figura 2).

Figura 1 - Ave conhecida como Tucano, que pode ser encontrada nas florestas da América Central e América do Sul. Fonte: (RENARD_D, 2014)
Figura 2 - Constelação Tucana conforme visualizada no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2021).

Tucana pode ser vista em latitudes entre +25° e -90°, tendo como constelações vizinhas Eridanus, Phoenix, Grus, Indus, Octans e Hydrus (CONSTELLATION GUIDE, 2020) (Figura 3).

Figura 3 - Constelações de Eridanus, Phoenix, Grus, Indus, Octans e Hydrus, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2021).

Oficialmente, a constelação recebe a designação Tucana, a abreviatura Tuc e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Tucanae. As estrelas principais de Tucana são: α Tucanae ou α Tuc, β Tucanae ou β Tuc, δ Tucanae ou δ Tuc, ε Tucanae ou ε Tuc, γ Tucanae ou γ Tuc e ζ Tucanae ou ζ Tuc (Figura 4) (CONSTELLATION GUIDE, 2020).

Figura 4 - Constelação Tucana conforme visualizada no software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2021).

É nesta constelação que se localizam alguns DSOs como a galáxia anã de Tucana, a Pequena Nuvem de Magalhães e, próximo a ela,  o aglomerado globular 47 Tucanae, também denominado no New General Catalog como NGC 104 (Figuras 5 e 6).

Figura 5 – 47 Tucanae. Fonte: (ESO/M.-R. CIONI/VISTA MAGELLANIC CLOUD SURVEY., 2021)

Figura 6 - Localização de 47 Tucanae na constelação Tucana. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2021).

Como o nome 47 Tucanae já sugere, este objeto foi catalogado originalmente como uma estrela, antes de ser registrado corretamente como um aglomerado globular (ANNE’S ASTRONOMY NEWS, 2012).

NGC 104 foi descoberto por Nicolas Louis de Lacaille em 1751. Com diâmetro aparente de 31’ de arco, é um aglomerado globular com um núcleo denso e muito brilhante. Está distante aproximadamente 16,7 mil anos-luz da Terra. Sua idade é estimada em cerca de 13,1 bilhões de anos, contendo mais de 500 mil estrelas (CONSTELLATION GUIDE, 2020). É o segundo maior e mais brilhante aglomerado globular, contendo centenas de sistemas estelares binários. Seu núcleo contém pelo menos 23 estrelas retardatárias azuis, que são estrelas muito quentes e brilhantes, resultantes de colisões entre duas estrelas normais que se movem mais lentamente do que as estrelas mais típicas e mais leves. Além disso, também há 23 pulsares do tipo milissegundos, sendo a segunda maior população de pulsares em um aglomerado globular. Já as estrelas gigantes vermelhas são encontradas ao redor do aglomerado. (ANNE’S ASTRONOMY NEWS, 2012)

Um estudo de sete anos realizado com o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA revelou um processo de organização das estrelas neste aglomerado denominado segregação em massa: as estrelas que são mais pesadas desaceleram e se aprofundam no núcleo do aglomerado, ao passo que as estrelas mais leves vão acelerando e se movendo através do aglomerado para a sua periferia (NASA; ESA, 2007). 

O aglomerado pode ser visto a olho nu como uma estrela ligeiramente difusa, parecendo um cometa sem cauda, a 2,5° a oeste da Pequena Nuvem de Magalhães. Utilizando binóculos 7x50 ou 10x50, poderá ser visto com um núcleo brilhante de luz estelar, envolvido por um halo de luz. Utilizando um equipamento de 100mm já será possível visualizar um núcleo brilhante envolto em uma esfera de 15’ de arco cujos membros mais brilhantes são possíveis de serem vistos individualmente. Já com um de 200mm, vê-se um núcleo denso contrastando com as regiões externas menos densas (FREESTARCHARTS.COM, [s. d.]).

O texto foi útil para você? Agradecemos a todos aqueles que puderem enviar seus comentários, críticas e sugestões para a coluna e o material por ela disponibilizado, por meio do e-mail skyandobservers@gmail.com.

EDIÇÕES ANTERIORES

Referências:

ANNE’S ASTRONOMY NEWS. 47 Tucanae, a bright globular cluster in Tucana. [S. l.], 2012. Disponível em: http://annesastronomynews.com/photo-gallery-ii/galaxies-clusters/47-tucanae-by-michael-sidonio/. Acesso em: 17 dez. 2021. 

CONSTELLATION GUIDE. Tucana Constellation: Facts, Story, Stars, Deep Sky Objects. [S. l.], 2020. Disponível em: https://www.constellation-guide.com/constellation-list/tucana-constellation/. Acesso em: 30 out. 2020. 

ESO/M.-R. CIONI/VISTA MAGELLANIC CLOUD SURVEY. The globular star cluster 47 Tucanae. [S. l.], 2021. Disponível em: https://www.eso.org/public/images/eso1302a/. Acesso em: 13 dez. 2021. 

FREESTARCHARTS.COM. 47 Tucanae - NGC 104 - Globular Cluster. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: https://freestarcharts.com/47-tucanae. Acesso em: 17 dez. 2021. 

NASA; ESA. Print Layout: Stellar sorting in globular cluster 47 Tucanae. [S. l.], 2007. Disponível em: https://web.archive.org/web/20070930030445/http://www.spacetelescope.org/goodies/printlayouts/html/heic0616.html. Acesso em: 17 dez. 2021. 

RENARD_D. Foto de um tucano. [S. l.], 2014. Banco de Imagens. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/animal-animais-natureza-tucano-1974025/. Acesso em: 31 out. 2020. 

RIDPATH, Ian. Star Tales. 2. ed. Cambridge: The Lutterworth Press, 2018. 

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação Tucana: conformação, constelações vizinhas, principais estrelas e localização. Versão 0.21.2. Boston: Stellarium.org, 2021. Stellarium. E-book. Disponível em: https://stellarium.org/pt/. Acesso em: 18 dez. 2021.

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