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domingo, 1 de novembro de 2020

Largue o cel e olhe para o céu #14

Pequena Nuvem de Magalhães

Aléxia Lage


Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #013 – Pequena Nuvem de Magalhães

NGC 292 é conhecida como a Pequena Nuvem de Magalhães (PNM) e se localiza na constelação de Tucana (Tucano, em português). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação. 

Diferentemente das outras constelações apresentadas nas edições anteriores desta coluna, Tucana não tem sua origem relacionada às mitologias grega e romana. No final do século XVI, os navegadores holandeses Pieter Dirkszoon Keyser e Frederick de Houtman observaram um conjunto de constelações austrais, sendo uma delas a de Tucana, que representa uma ave de bico longo conhecida como Tucano, encontrada em florestas da América Central e América do Sul (Figura 1). Petrus Plancius a representou primeiramente em seu globo celeste em 1598, sendo seguido por John Bayer que a considerou em seu atlas de 1603 (RIDPATH, 2018). 
 
Figura 1 – Ave conhecida como Tucano, que pode ser encontrada nas florestas da América Central e América do Sul. Fonte: (RENARD_D, 2014).

Tucana pode ser vista em latitudes entre +25° e -90° (Figura 2), tendo como constelações vizinhas Eridanus, Phoenix, Grus, Indus, Octans e Hydrus (CONSTELLATION GUIDE, 2020) (Figura 3).
 
Figura 2 - Constelação de Tucana conforme visualizada no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020a)

Figura 3 - Constelações Tucana, Eridanus, Phoenix, Grus, Indus, Octans e Hydrus visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020a)
Oficialmente, a constelação recebe a designação Tucana, a abreviatura Tuc e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Tucanae. As estrelas principais de Tucana são: α Tucanae ou α Tuc, β Tucanae ou β Tuc, δ Tucanae ou δ Tuc, ε Tucanae ou ε Tuc, γ Tucanae ou γ Tuc e ζ Tucanae ou ζ Tuc (Figura 4).

Figura 4 - Constelação de Tucana conforme visualizada no software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte:(STELLARIUM DEVELOPERS, 2020a)

Por se encontrar mais ao Sul, a PNM não foi conhecida durante muito tempo pela cultura ocidental. A Pequena Nuvem de Magalhães faz parte do conto aborígene australiano de Jukara, referente a um casal de idosos que se alimentava de peixes do rio do céu, a Via Láctea. Posteriormente, graças ao diário do escritor italiano Antonio Pigafetta, que participou da viagem de circum-navegação pelo mundo juntamente com Fernão de Magalhães, as nuvens de Magalhães se tornaram conhecidas: 
“O Polo Antártico não tem as mesmas estrelas que o Ártico. Veem-se ali duas aglomerações de estrelinhas luminosas que parecem pequenas nuvens, a pouca distância uma da outra.[6] Em meio a essas aglomerações de estrelas, se destacam duas muito grandes e muito brilhantes, mas cujo movimento é pouco aparente. As duas indicam o Polo Antártico." (PIGAFETTA, 2006, p.69).
A nota [6] acima referenciada no diário foi escrita por Carlos Amoretti, um dos maiores estudiosos dos diários de Pigafetta e baseou-se no manuscrito original do diário da viagem de circum-navegação. Amoretti detalha um pouco mais a informação fornecida por Pigafetta (Figura 5): 
“[6] Duas nuvenzinhas, isto é, duas aglomerações de estrelas assinaladas pelos astrônomos no polo austral. Uma em cima e outra embaixo da constelação de Hidra. Vê-se perto do polo muitas estrelas que formam a constelação de Octante, porém, como estas estrelas são de quinta e de sexta magnitude, tudo indica que as duas estrelas grandes e brilhantes de que fala Pigafetta são a Alfa e a Beta desta mesma Hidra (PIGAFETTA, 2006, p.100)."
Observando-se uma carta celeste, percebe-se que a constelação de Hidra à qual Amoretti se refere é a Hidra Macho (Hydrus). Na Figura 5 abaixo, mostram-se os detalhes descritos por ele na citação acima. 
 
Figura 5 - Posição da Pequena e Grande Nuvem de Magalhães na constelação Hydrus e das estrelas Alpha Hydri e Beta Hydri, conforme a nota [6] de Carlos Amoretti. Fonte: (PIGAFETTA, 2006), (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020b).

Para as tribos tupi-guarani, as constelações são compostas por estrelas e pelas manchas claras e escuras da Via Láctea e, em alguns casos, apenas as manchas já compõem uma constelação por si só. Este é o caso da Pequena Nuvem de Magalhães. Para eles, trata-se de uma constelação, conhecida como Bebedouro do Porco-do-Mato (Coxi Huguá) (AFONSO, 2006).

Catalogada como NGC 292 (Figuras 6 e 7), com dimensão aparente de 280’ x 160’, PNM está distante cerca de 197.000 anos-luz de distância do sistema solar, sendo uma das galáxias mais longínquas visíveis a olho nu. A PNM compõe, juntamente com a Grande Nuvem de Magalhães e a Via Láctea, o Grupo Local, um conjunto de cerca de 30 galáxias localizadas na mesma região. Sua magnitude aparente corresponde a 2.7 e contém várias centenas de milhões de estrelas. É classificada como uma galáxia anã irregular. Entretanto, para alguns, parece haver um indício de que tenha uma estrutura espiral barrada distorcida, provavelmente devido à influência gravitacional da Via Láctea. Com cerca de 15.000 a 17.000 anos-luz de largura na sua maior dimensão, a PNM se estende por quase 5 graus no céu, o que equivale a 9 ou 10 luas cheias (SESSIONS, 2017). 
 
Figura 6 - Pequena Nuvem de Magalhães - Crédito da foto: ESO/VISTA VMC (ESO/VISTA VMC, 2017).

Figura 7 - Localização da Pequena Nuvem de Magalhães na constelação Tucana. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020a).

Para localizar PNM, procure primeiramente a estrela brilhante Achernar, da constelação Eridanus. Cerca de 15 graus abaixo dessa estrela encontra-se a Pequena Nuvem de Magalhães (Figura 8) Note-se que a PNM não pode ser visualizada na América do Norte (exceto extremo sul do México), norte da África e toda a Europa e Ásia (exceto as regiões do sul da Índia e Sudeste Asiático) devido à sua localização extremamente meridional (SESSIONS, 2017). 
 
Figura 8 - Localização da Pequena Nuvem de Magalhães em relação à estrela Achernar. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

Visível a olho nu, a PNM pode ser mais facilmente localizada em um céu escuro. Ao utilizar um telescópio, será visualizada como uma nuvem irregular de luz e muitas vezes maior que o campo de visão. Procure observar mais próximo às suas bordas, onde os objetos se destacarão mais facilmente em contraste com o céu escuro. Mais de  uma dezena de objetos poderão ser observados na PNM como aglomerados globulares e nebulosas de emissão e reflexão tais como NGC 220, NGC 222, NGC 231, NGC 249, NGC 261, NGC 265, NGC 330, NGC 346, NGC 371, NGC 376, NGC 395, NGC 419, NGC 458,  NGC 456, NGC 460 e NGC 465 (CONSOLMAGNO; DAVIS, 2018).

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Referências:

AFONSO, G. B. Mitos e estações no céu tupi-guarani. Scientific American Brasil, v. 4, n. 45, p. 46–55, fev. 2006. 

CONSOLMAGNO, G.; DAVIS, D. M. Turn left at Orion. 5. ed. Great Britain: Cambridge University Press, 2018. 

CONSTELLATION GUIDE. Tucana Constellation: Facts, Story, Stars, Deep Sky Objects. Disponível em: <https://www.constellation-guide.com/constellation-list/tucana-constellation/>. Acesso em: 30 out. 2020. 

ESO/VISTA VMC. Imagem VISTA da Pequena Nuvem de Magalhães. Disponível em: <https://www.eso.org/public/brazil/images/eso1714a/>. Acesso em: 25 out. 2020. 

PIGAFETTA, A. A Primeira Viagem ao Redor do Mundo. Tradução: Jurandir Soares Dos Santos. [s.l.] L&PM Pocket, 2006. 

RENARD_D. Foto de um tucano. Banco de Imagens. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/animal-animais-natureza-tucano-1974025/>. Acesso em: 31 out. 2020. 
RIDPATH, I. Star Tales. 2. ed. Cambridge: The Lutterworth Press, 2018. 

SESSIONS, L. Small Magellanic Cloud orbits Milky Way. Disponível em: <https://earthsky.org/clusters-nebulae-galaxies/the-small-magellanic-cloud>. Acesso em: 31 out. 2020. 
STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação de Tucana. Boston: Stellarium.org, 2020a. 

STELLARIUM DEVELOPERS. Posição da Pequena e Grande Nuvem de Magalhães na constelação Hydrus. Boston: [s.n.]. 

STELLARIUM DEVELOPERS. Localização da Pequena Nuvem de Magalhães em relação à estrela Achernar. Boston: [s.n.]. 

O asteroide (52) Europa em 2020.


Em 29 de dezembro, o asteroide Europa  estará com seu posicionamento favorável às observações (fase da Lua = +0.987), quando então sua magnitude chegará a 10.0 (CAMPOS, 2019), portanto dentro dos limites de magnitudes observáveis de instrumentos óticos de médio porte. A tabela abaixo apresenta suas efemérides e bem como uma carta celeste ilustrativa (CHEVALLEY, 2017), objetivando sua localização nos próximos dias.

 


Como demonstra seu número em ordem de nomeação indicado acima entre parênteses, 52 Europa foi descoberto em 04 de fevereiro de 1858 pelo astrônomo alemão Herman Goldschmidt (1802 - 1866) no Observatório de Paris. O nome é alusão a figura mitológica grega de Europa, filha de Agenor, irmão de Cadmo, amada de Júpiter.  (MOURÃO, 1987).

Em 12 de agosto de 2012, (52) Europa ocultou a estrela TYC 6223-00442-1, revelando ser essa um sistema binário de magnitudes 11,3 a componente primária e 12,4 respectivamente a componente secundária; já o asteróide (52) Europa tem um diâmetro médio de = 350 (± 5 km) (GIACCHINI et al, 2012).

Hermann Mayer Salomon Goldschmidt teve seu nome imortalizado na superfície lunar, quando uma cratera localizada próxima do polo norte lunar (diâmetro: 113 km, profundidade: 1,3 km, coordenadas selenográficas LAT: 73° 00' 00"N, LONG: 003° 48' 00"W) foi nomeada oficialmente em 1935 pelo Working Group for Planetary System Nomenclature (WGPSN), da International Astronomical Union (IAU). Os descobrimentos de Hermann Goldschmidt são ao total 14 asteroides.

Esse relevo foi registrado fotograficamente em 07 de agosto de 2011, (22:58:02 UT). Essa imagem poderá ser visualizada em: http://vaztolentino.com.br/imagens/7590-O-grande-descobridor-de-asteroides-Hermann-GOLDSCHMIDT

Notas:

1 = (ua)* Conforme a Resolução da IAU 2012 B2, acolhendo proposta do grupo de trabalho “Numerical Standards for Fundamental Astronomy”, redefiniu-se a unidade astronômica de comprimento correspondendo à distância media da Terra ao Sol equivalendo assim a 149.597.870.700 metros, devendo ser representada unicamente por au (“astronomical unit”) (OAM, 2015).

2 = As coordenadas equatoriais ascensão reta e declinação (J2000.0) são apresentadas no formato HH:MM:SS (hora/grau, minuto e segundo).

3 = A fase lunar acima mencionada assume os seguintes valores: 0.000 = Nova; +0.500 = Quarto crescente; 1.000 = Cheia e -0.500 = Quarto minguante.

4 = Na carta celeste acima apresentada encontra-se ilustrada a presença do asteroide (39) Laetitia, magnitude visual estimada também em 10.0 (https://sky-observers.blogspot.com/2020/11/o-asteroide-39-laetitia-em-2020.html). Assim sendo, este asteroide também é acessível observacionalmente a instrumentos de médio porte.

Referências:

Mourão, R.R.F. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

Campos, A.R. Almanaque Astronômico Brasileiro 2020. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2019. 146p. Disponível em: <https://is.gd/Alma_2020> Acesso em 02 Dez 2019.

Chevalley, P. SkyChart / Cartes du Ciel - Version 4,0, March. 2017. Disponível em:  <https://www.ap-i.net/skychart/en/news/version_4.0>. - Acesso em: 04 Jan. 2019.



Giacchini, B.L. - REA- Rede de Astronomia Observacional, Descoberta da duplicidade de TYC 6223-00442-1 durante uma ocultação por (52) Europa. Belo Horizonte: Ed. REA-Brasil. 2013. Disponível em: <http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/noticias.htm> - Acesso em 08 set. 2014.

Tolentino, R.J. V. Vaz Tolentino Observatório Lunar. O grande descobridor de asteroides Hermann GOLDSCHMIDT. ago. 2011. Disponível em: <http://vaztolentino.com.br/imagens/7590-O-grande-descobridor-de-asteroides-Hermann-GOLDSCHMIDT> - Acesso: 13 Nov. 2017.

O asteroide (39) Laetitia em 2020.


Em 21 de dezembro, o asteroide Laetitia  estará com seu posicionamento favorável às observações (fase da Lua = +0.406), quando então sua magnitude chegará a 9.8 (CAMPOS, 2019), portanto dentro dos limites de magnitudes observáveis de instrumentos óticos de pequeno porte. A tabela abaixo apresenta suas efemérides e bem como uma carta celeste ilustrativa (CHEVALLEY, 2017), objetivando sua localização nos próximos dias.


Como demonstra seu número em ordem de nomeação indicado acima entre parênteses, 39 Laetitia foi descoberto em 08 de fevereiro de 1856 pelo astrônomo pelo astrônomo francês Jean Chacornac no Observatório de Paris. (MOURÃO, 1987).

Notas:

1 = (ua)* Conforme a Resolução da IAU 2012 B2, acolhendo proposta do grupo de trabalho “Numerical Standards for Fundamental Astronomy”, redefiniu-se a unidade astronômica de comprimento correspondendo à distância media da Terra ao Sol equivalendo assim a 149.597.870.700 metros, devendo ser representada unicamente por au (“astronomical unit”) (OAM, 2015).

2 = As coordenadas equatoriais ascensão reta e declinação (J2000.0) são apresentadas no formato HH:MM:SS (hora/grau, minuto e segundo).

3 = A fase lunar acima mencionada assume os seguintes valores: 0.000 = Nova; +0.500 = Quarto crescente; 1.000 = Cheia e -0.500 = Quarto minguante.

Referências:

Mourão, R.R.F. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

Campos, A.R. Almanaque Astronômico Brasileiro 2020. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2019. 146p. Disponível em: <https://is.gd/Alma_2020> Acesso em 02 Dez 2019.

Chevalley, P. SkyChart / Cartes du Ciel - Version 4,0, March. 2017. Disponível em:  <https://www.ap-i.net/skychart/en/news/version_4.0>. - Acesso em: 04 Jan. 2019.


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