Entre as chuvas de meteoros conhecidas, as Fenicídeas (254 PHO) destacam-se por sua história singular e enigmática. Seu corpo de origem é o cometa D/1819 W1 Blanpain, descoberto em 1819 e considerado extinto após fragmentar-se durante sua última passagem próxima ao Sol.
Figura 1 – Imagem ilustrativa do céu noturno; não mostra o radiante real dos Geminídeos (004 GEM). Fonte: Meta AI (imagem digital ilustrativa).
Fragmentos desse antigo cometa foram posteriormente identificados no asteroide 2003 WY25, remanescente sólido de seu antigo núcleo. Esses detritos seguem uma trajetória que cruza a órbita terrestre a cada dezembro, dando origem à chuva das Fenicídeas.
De acordo com Jenniskens (2007), o asteroide 2003 WY25 apresenta elementos orbitais praticamente idênticos aos do cometa Blanpain, com diferença angular inferior a 0,2°, e demonstra atividade cometária intermitente. A poeira liberada durante a fragmentação de 1819 teria sido responsável pelo surto excepcional observado em 1956, quando a Terra cruzou o fluxo de partículas resultante da desintegração do núcleo cometário. Esse achado reforça a hipótese de que fragmentos de cometas extintos podem continuar gerando chuvas de meteoros, mesmo séculos após o desaparecimento de seus corpos-pais originais.
A associação entre o cometa e o asteroide faz das Fenicídeas um importante exemplo da evolução cometária, demonstrando que a extinção do núcleo ativo não implica o fim da chuva de meteoros. Apesar da atividade modesta na maioria dos anos, o registro do surto de 1956 — com cerca de 100 meteoros por hora — manteve o fenômeno no foco de pesquisas astronômicas.
Visibilidade e condições práticas de observação
Em 2025, as Fenicídeas estarão ativas de 1 a 5 de dezembro, com máximo previsto para o dia 1. O radiante situa-se em α = 08h / δ = +27° (J2000), dentro dos limites da constelação Phoenix (Fênix). Para observadores do Hemisfério Sul, trata-se de um radiante de baixa elevação, mais favorável às regiões de latitudes médias austrais (até –35°).
A velocidade meteórica pré-atmosférica (V∞) é de 15 km/s, classificada como muito lenta. Meteoros com essa velocidade tendem a apresentar rastos longos, suaves e discretos, exigindo observação sob céus escuros e estáveis.
O pico da atividade ocorrerá em um cenário de forte interferência lunar, já que a Lua Cheia acontece em 4 de dezembro (23:14 UTC), coincidindo com o perigeu lunar no mesmo dia (11:07 UTC; 356 961 km). O brilho intenso da Lua iluminará grande parte do céu, dificultando a percepção de meteoros menos brilhantes. O terminador lunar — a linha que separa a parte iluminada da parte escura da Lua — estará próximo do limbo ocidental. Condições realmente favoráveis retornarão apenas após a Lua Minguante (11 de dezembro, 20:52 UTC).
Ainda assim, observadores experientes poderão registrar meteoros mais luminosos antes do nascer da Lua ou enquanto ela estiver baixa no horizonte.
Locais ideais incluem áreas rurais ou serranas, com céu Bortle ≤ 4 e altitude superior a 800 m.
Condições para o Brasil e América do Sul
Nas latitudes médias brasileiras (–15° a –25°), o radiante ergue-se entre 20° e 30° acima do horizonte sul-sudeste pouco antes da meia-noite, permanecendo visível até por volta das 03h (HLB).
Regiões do Centro-Sul do Brasil — como: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — bem como países vizinhos como Uruguai, Chile e Argentina, terão condições mais adequadas, com radiante mais alto e atmosfera geralmente estável.
Nas áreas amazônicas e equatoriais (Acre, Amazonas, Roraima), o radiante fica mais baixo (~ 20°), sofrendo maior absorção atmosférica, embora meteoros de brilho elevado possam ser registrados. Para observadores do Chile Central, Argentina Ocidental e Uruguai, o radiante atinge posições próximas ao zênite durante a madrugada, oferecendo a melhor geometria de visibilidade. As melhores janelas de observação situam-se entre 23h e 01h (HLB), antes que a Lua atinja o meridiano local.
Considerações práticas
Velocidade (V∞): 15 km/s — muito lenta
Período de atividade: 1 – 5 dezembro 2025
Máximo: 1 dezembro 2025
Fase lunar predominante: Lua Cheia (04 dez 2025 – 23:14 UTC)
Observabilidade: limitada pelo brilho lunar; favorecida em céus escuros antes do nascer da Lua
Regiões indicadas: América do Sul austral e sudeste brasileiro
THZ ou ZHR: variável (atividade irregular)
Mesmo com a interferência da Lua, observar as Fenicídeas é testemunhar o retorno de fragmentos de um cometa desaparecido há mais de dois séculos — um lembrete eloquente da dinâmica e da delicada estrutura dos pequenos corpos do Sistema Solar.
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Referências:
JENNISKENS, Peter. Meteor Showers from Broken Comets. In: Dust in Planetary Systems — Proceedings of ESA SP-643, Kauai, Hawaii, 26–30 September 2005. Noordwijk: European Space Agency, 2007. p. 3–6. Disponível em: sandbox:/mnt/data/2007ESASP.643....3J.pdf. Acesso em: 19 nov. 2025.
THE SKY LIVE. Phoenicids Meteor Shower. Disponível em: https://theskylive.com/meteorshower-phoenicids. Acesso em: 19 nov. 2025.
UNIVERSEGUIDE. Phoenicids Meteor Shower Data. Disponível em: https://www.universeguide.com/meteorshower/phoenicids. Acesso em: 19 nov. 2025.
DOCKRILL, Peter. Scientists May Have Solved the Mystery of the Disappearing Phoenicids Meteor Shower. ScienceAlert, 28 ago. 2017. Disponível em: https://www.sciencealert.com/scientists-may-have-solved-the-mystery-of-the-disappearing-phoenicids-meteor-shower. Acesso em: 19 nov. 2025.
INTERNATIONAL METEOR ORGANIZATION (IMO). Meteor Shower Calendar. Disponível em: https://www.imo.net/members/imo_observations/shower-calendars/. Acesso em: 19 nov. 2025.
META AI. [Imagem ilustrativa do céu noturno; fundo estético para o texto “A Chuva de Meteoros Geminídeos (004 GEM) em 2025”]. Imagem digital. 2025. Arquivo pessoal de Antônio Rosa Campos.
