Largue o cel e olhe para o céu #12


Nebulosa do Anel

Aléxia Lage


Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #011 - M 57 - Nebulosa do Anel

M 57 é conhecida como Nebulosa do Anel e se localiza na constelação de Lyra (Lira). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação. 

Para entender a origem de Lyra e sua conformação, é preciso compreender a influência das mitologias nas denominações celestes. A constelação é representada como uma lira, instrumento musical de cordas. Esse objeto teria sido uma invenção do deus olímpico Hermes, sendo construída com o casco de uma tartaruga, perfurada na borda para que pudessem ser atadas sete cordas de tripa de vaca. A ele também é atribuída a invenção de uma palheta para esse instrumento. Posteriormente, a lira chegou às mãos de Orfeu, um grande músico de sua época, casado com a ninfa Eurídice. Um dia, porém, ela foi picada por uma cobra e morreu, o que o deixou desconsolado, não querendo mais doravante casar-se com alguma das mulheres que se ofereciam a ele. Segundo o poeta romano Ovídio, Orfeu teria morrido em função da agressão de mulheres que se sentiram rejeitadas por ele, sendo atacado por pedras e lanças. Já na versão do poeta da Grécia Antiga, Eratóstenes, ele morreu em função da ira do deus Dioniso, porque Orfeu considerava Apolo a divindade suprema. Por se sentir tão ofendido por tal menosprezo, Dioniso ordenou o esquartejamento dos membros de Orfeu. Em homenagem a ele, as musas colocaram então a lira em meio às estrelas (RIDPATH, 2018) (Figura 1).
 
Figura 1 - Constelação da Lyra conforme visualizada no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

Lyra pode ser vista em latitudes entre + 90° e -40°, tendo como constelações vizinhas Cygnus, Draco, Hercules e Vulpecula (CONSTELLATION GUIDE, 2020)(Figura 2). 
 
Figura 2 - Constelações de Cygnus, Draco, Hercules,Vulpecula e Lyra, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

Oficialmente, a constelação recebe a designação Lyra, a abreviatura Lyr e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Lyrae. As estrelas principais de Lyra são: Vega (α Lyrae ou α Lyr), Sheliak (β Lyrae ou β Lyr), Sulafat (γ Lyrae ou γ Lyr), δ Lyrae ou δ Lyr (dupla ótica (δ1 e δ2)), Nasr Alwaki I (ζ1) (Figura 3) (RÉ; DE ALMEIDA, 2000).
 
Figura 3 - Constelação da Lyra conforme visualizada no software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

É também nesta constelação que se localiza M 57, uma nebulosa planetária (Figura 4). Contudo, não se deixe levar pela designação “planetária”. No século XIX, quando esse termo foi introduzido, as óticas dos telescópios não eram tão bem desenvolvidas quanto as atuais e as imagens desses objetos pareciam-se com um planeta desfocado, daí a utilização dessa equivocada terminologia. Na verdade, trata-se do resultado de matéria ejetada de uma estrela de cerca de uma massa solar no final de sua vida. A estrela remanescente então se tornará posteriormente uma anã branca (RÉ; DE ALMEIDA, 2000). 

Figura 4 – M 57 – Nebulosa do Anel - Crédito da foto: NASA, ESA, and C. Robert O’Dell (Vanderbilt University) (NASA, ESA, AND C. ROBERT O’DELL (VANDERBILT UNIVERSITY), 2013)

M 57, catalogada também como NGC 6720, foi descoberta em 1779 pelo astrônomo francês Antoine Darquier de Pellepoix. Está localizada ao sul de Vega, a aproximadamente 40% da distância entre as estrelas Sheliak e Sulafat (Figura 5), com dimensão aparente de 230" x 230" e à distância de 2.300 anos-luz da Terra. Sua magnitude aparente corresponde a 8.8, sendo que a anã branca central possui magnitude visual de 14.8. Na imagem da Figura 5, nota-se que há diferentes cores, devido a camadas da anã branca ou de variados elementos em temperaturas diversificadas. A camada avermelhada na imagem é quase toda constituída por hidrogênio, sendo que os outros elementos incluem oxigênio, nitrogênio e enxofre molecular e hélio. O núcleo da nebulosa planetária possui massa estimada de 0,61 a 0,62 massas solares, sendo cerca de 200 vezes mais luminoso do que o Sol (CONSTELLATION GUIDE, 2020).
 
Figura 5 – Localização da Nebulosa do Anel na constelação de Lyra. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

Não é possível observar corretamente a nebulosa utilizando-se binóculos pequenos, sendo melhor visualizada em telescópios de 20 centímetros ou maiores (CONSTELLATION GUIDE, 2020). Em um pequeno telescópio, o anel parecerá um disco muito brilhante, nebuloso e, com um aumento maior, um disco de luz um tanto achatado, mais escuro ao centro (CONSOLMAGNO; DAVIS, 2018).  

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Referências:

CONSOLMAGNO, G.; DAVIS, D. M. Turn left at Orion. 5. ed. Great Britain: Cambridge University Press, 2018. 

CONSTELLATION GUIDE. Lyra Constellation: Facts, Myth, Stars, Deep Sky Objects, Pictures. Disponível em: <https://www.constellation-guide.com/constellation-list/lyra-constellation/>. Acesso em: 20 ago. 2020. 

NASA, ESA, AND C. ROBERT O’DELL (VANDERBILT UNIVERSITY). Hubble image of the Ring Nebula (Messier 57). Disponível em: <https://www.spacetelescope.org/images/heic1310a/>. Acesso em: 30 ago. 2020. 

RÉ, P.; DE ALMEIDA, G. Observar o céu profundo. Lisboa: Plátano, 2000. 

RIDPATH, I. Star Tales. 2. ed. Cambridge: The Lutterworth Press, 2018. 

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação da Lira. Boston: Stellarium Developers, 2020. 
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