Largue o cel e olhe para o céu #4

Nebulosa do Caranguejo

Aléxia Lage


Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #003 – Nebulosa do Caranguejo. 


Na coluna do mês anterior, foi abordado um dos objetos do céu profundo encontrado na constelação de Touro, as Plêiades. Agora, será apresentada a Nebulosa do Caranguejo, localizada nessa mesma constelação.

Na mitologia grega, conta-se que Zeus, pai dos deuses olímpicos, se transformou em um touro, como uma estratégia para conquistar a princesa fenícia Europa. Na literatura grega, ele ficou conhecido como "O Busto", pois o touro é representado apenas parcialmente (cabeça, ombros e membros anteriores), simbolizando Zeus em forma taurina, com sua porção inferior imersa nas ondas (WIKIPÉDIA, 2019). Tendo isso entendido, fica mais fácil então compreender como os antigos visualizavam a constelação no céu (Figura 1).

Figura 1 - Constelação de Touro conforme visualizada no software Stellarium. Note ainda a imagem do busto de um touro, conforme descrito no texto. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019)

A constelação recebeu a designação oficial de Taurus, a abreviatura Tau e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pela palavra Tauri (que indica que a estrela pertence à constelação de Touro). Conforme mostrado na Figura 1, algumas estrelas conhecidas são: Aldebaran (α Tauri ou α Tau), Tianguan (ζ Tauri ou ζ Tau), Elnath (β Tauri ou β Tau) e Alcione ou Alcyone (h Tauri ou h Tau) (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019)

Figura 2 - Localização da Nebulosa do Caranguejo (M1), próximo a um dos chifres do touro. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019)

Próximo a um dos chifres do touro, acha-se a Nebulosa do Caranguejo (M1), sendo o único remanescente de supernova registrado no Catálogo Messier (Figura 3). Quando uma estrela de massa superior a 8 vezes a massa do Sol explode, no fim de sua vida, gera uma estrela de nêutrons e um material expelido em uma nuvem irregular, a grande velocidade. Durante sua expansão, a nuvem vai se dispersando ou se dividindo em diversos filamentos que vão se dissipando (RÉ; ALMEIDA, 2000).

M1, também conhecida pelas designações de Taurus A e NGC 1952, foi observado pelos chineses em 1054, sendo o primeiro DSO historicamente associado a uma explosão da supernova SN 1054. Também foi registrado por observadores árabes, japoneses e pelos nativos americanos. Pelos registros históricos, chegou-se à conclusão que a SN 1054 ficou visível por 23 dias, mesmo à luz do dia, com magnitude atingindo -7, sendo assim o segundo objeto mais brilhante no céu à noite, antecedido somente pela Lua (MESSIER OBJECTS, 2015).

Figura 3 – Nebulosa do Caranguejo. Crédito da foto ESO (EUROPEAN SOUTHERN OBSERVATORY (ESO), 1999)


Distante de nós a 6 500 anos-luz, M1 possui um diâmetro de 11 anos-luz (3,4 parsecs) e se expande a uma velocidade de 1 500 Km/s. A nebulosa contém uma estrela de nêutrons denominada Pulsar do Caranguejo, catalogada como PSR 0531 + 21. A taxa de rotação da estrela é de 30,2 vezes por segundo, sendo o objeto mais rápido observado, emitindo radiação nos comprimentos de onda ópticos, rádio, ultravioleta, raios X e raios gama (MESSIER OBJECTS, 2015).

A nebulosa contém restos da atmosfera da estrela que a originou, tendo em sua composição hidrogênio e hélio ionizados, oxigênio, carbono, ferro, nitrogênio, enxofre e néon. Os filamentos contêm gás ionizado que proporcionam brilho à nebulosa, em temperaturas na faixa de 11.000 a 18.000 K (MESSIER OBJECTS, 2015).

Para localizar a nebulosa, procure Zeta Tauri (ζ Tauri ou ζ Tau), conhecida também como Tianguan. M1 está localizada a 1 grau dessa estrela, entre os dois chifres (Figura 4). 

Figura 4 – Localização de M1, a 1° da estrela Zeta Tauri, conforme mostrado na imagem. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019)

Para observá-la, considere as seguintes referências de utilização de equipamentos (RÉ; ALMEIDA, 2000):
  • Binóculo 7 x 50mm: no limite de detecção, aparece como um pedacinho de luz.
  • Telescópio de 114mm:  obtém-se maior definição do objeto, mas não se observa qualquer estrutura interna.
  • Grandes telescópios (superior a 300mm): em um telescópio de 406mm, os filamentos e a estrutura da nebulosa são aparentes (MESSIER OBJECTS, 2015).
O texto foi útil para você? Agradecemos a todos aqueles que puderem deixar seus comentários com críticas e sugestões para a coluna e o material por ela disponibilizado.
Referências:

EUROPEAN SOUTHERN OBSERVATORY (ESO). The Crab Nebula in Taurus. 17 nov. 1999. Disponível em: <https://www.eso.org/public/usa/images/eso9948f/>. Acesso em: 29 dez. 2019.

MESSIER OBJECTS. Messier 1: Crab Nebula. Disponível em: <https://www.messier-objects.com/messier-1-crab-nebula/>. Acesso em: 29 dez. 2019.

RÉ, Pedro; ALMEIDA, Guilherme de. Observar o céu profundo. Lisboa: [s.n.], 2000.

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação do Touro. . Boston: Stellarium.org. , 2019

WIKIPÉDIA. Taurus. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Taurus>. Acesso em: 1 dez. 2019. 

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