Largue o cel e olhe para o céu #3

Plêiades



Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, disponibilizamos para download gratuito um documento contendo os dados básicos sobre o objeto estudado a cada edição. Denominado como Ficha de Catalogação, a ideia é oferecer-lhe uma forma prática e objetiva de você poder imprimir e guardar essas notas, de forma que possa sempre consultá-las rapidamente quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #002 - Plêiades.


Uma das coisas que gosto muito de utilizar para aprender Astronomia é entender o porquê da denominação das estrelas ou outros objetos celestes, que muitas vezes têm suas origens na mitologia de diversas culturas. Entendendo historicamente como isso ocorreu, descobre-se muitas vezes porque um determinado objeto, por exemplo, uma constelação, tem uma determinada conformação ou proximidade a outra. Esse é justamente o caso da constelação de Touro e das Plêiades, um aglomerado aberto localizado nessa mesma constelação. 

Na mitologia grega, conta-se que Zeus, pai dos deuses olímpicos, se transformou em um touro, como uma estratégia para conquistar a princesa fenícia Europa. Na literatura grega, ele ficou conhecido como "O Busto", pois o touro é representado apenas parcialmente (cabeça, ombros e membros anteriores), simbolizando Zeus em forma taurina, com sua porção inferior imersa nas ondas (WIKIPÉDIA, 2019). Tendo isso entendido, fica mais fácil então compreender como os antigos visualizavam a constelação no céu (Figura 1).

Figura 1 - Constelação de Touro conforme visualizada no software Stellarium. Note ainda a imagem do busto de um touro, conforme descrito no texto. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019)

A constelação recebeu a designação oficial de Taurus, a abreviatura Tau e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pela palavra Tauri (que indica que a estrela pertence à constelação de Touro). Conforme mostrado na Figura 1, algumas estrelas conhecidas são: Aldebaran (α Tauri ou α Tau), Tianguan (ζ Tauri ou ζ Tau), Elnath (β Tauri ou β Tau) e Alcione ou Alcyone (η Tauri ou η Tau) (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019). 

Figura 2 - Localização das Plêiades (M42), no ombro do touro. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019)

Já a denominação de Plêiades também parece ter sua origem na mitologia. É interessante conhecer a descrição mitológica abaixo, pois no céu, Touro se encontra próximo da constelação de Órion, como pode ser visto na Figura 2: 

“Na mitologia grega, o aglomerado representa as Sete Irmãs, companheiras da deusa Ártemis e filhas da ninfa do mar Pleione e do titã Atlas, que seguravam as esferas celestes sobre seus ombros. Existem vários mitos diferentes que contam a história de como as irmãs se tornaram estrelas. Em um deles, uma vez que seu pai foi forçado a carregar os céus, o caçador Órion começou a perseguir as irmãs. Para confortar Atlas, Zeus primeiro as transformou em pombas e depois em estrelas. Dizem que Órion ainda pode ser visto perseguindo-as pelo céu.
Em outra história, as Plêiades ficaram tristes pelo destino de seu pai ou pela perda de suas irmãs, as Hyades. Sua dor os levou a cometer suicídio, e Zeus colocou as irmãs no céu para imortalizá-las.” (MESSIER OBJECTS, 2015).
No ombro do touro, acham-se as Plêiades, sendo um dos DSOs mais fáceis de se observar sem binóculos. Quando nos encontramos em uma região onde o céu é escuro e livre de poluição luminosa, podem-se visualizar até 14 estrelas. O aglomerado, também conhecido pelas designações M45 e Melotte 22, não possui, contudo, uma denominação NGC. Distante de nós a 444 anos-luz, M45 abrange uma área de 110 minutos de arco. A massa estimada é de cerca de 800 vezes a do Sol, possuindo mais de 1000 objetos confirmados. Dentre as estrelas mais brilhantes que representam as Plêiades, temos as sete irmãs Sterope, Electra, Merope, Maia, Celaeno, Taygeta e Alcione, além dos pais delas, Pleione e Atlas, conforme nos mostra a mitologia grega. (MESSIER OBJECTS, 2015). A localização das estrelas pode ser vista na Figura 3.

Figura 3 – As Plêiades e suas estrelas mais brilhantes. Crédito da foto: Arnaud Mariat em Unsplash (MARIAT, 2019)

No aglomerado, há duas nebulosas de reflexão mais destacadas (Figura 4), sendo que também foram encontradas outras ao redor das estrelas Alcyone, Taygeta, Electra e Celaeno: 
  • Nebulosa Maia: de conformação tênue, não está relacionada à formação de M45. Trata-se apenas de uma casual nuvem de poeira, pela qual as estrelas estão atualmente passando. Isso foi constatado por meio da velocidade radial diferente da do aglomerado. 
  • Nebulosa Merope:  de aspecto brilhante, se encontra em torno da estrela de mesmo nome. Também é conhecida como Nebulosa de Tempel, devido ao seu descobridor, o astrônomo alemão Wilhelm Tempel.
Figura 4 – Localização das nebulosas de reflexão Maia e Merope. Crédito da foto: Arnaud Mariat em Unsplash (MARIAT, 2019)

O aglomerado Messier 45 pode ser facilmente identificado e observado a olho nu, sendo identificáveis seis estrelas. Para localizá-lo, basta imaginar uma reta partindo da estrela Betelgeuse (Órion) em direção à estrela Aldebaran (Touro). Na continuação dessa reta, acham-se as Plêiades (COSTA, 2009). 

Entretanto, pode-se observar mais detalhes da seguinte forma (RÉ; ALMEIDA, 2000):
  • Binóculo 7 x 50mm ou Luneta de 80mm f/5: visualização de cerca de 30 estrelas.
  • Telescópio de 114mm:  visualização de mais de duzentas estrelas. 
Por fim, uma importante consideração é utilizar um aumento baixo, inferior a 50x, para que se possa visualizar todo o aglomerado no campo de visão. 

O texto foi útil para você? Agradecemos a todos aqueles que puderem deixar seus comentários com críticas e sugestões para a coluna e o material por ela disponibilizado.

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Referências:

COSTA, Fernando. A Constelação de Touro. Disponível em: <http://www.observatorio.ufmg.br/dicas10.htm>. Acesso em: 1 dez. 2019. 

MARIAT, Arnaud. M45 or Pleiades Cluster, group of stars in a blue nebulae. Disponível em: <https://unsplash.com/photos/IPXcUYHeErc>. Acesso em: 24 nov. 2019. 

MESSIER OBJECTS. Messier 45: Pleiades. Disponível em: <https://www.messier-objects.com/messier-45-pleiades/>. Acesso em: 24 nov. 2019. 

RÉ, Pedro; ALMEIDA, Guilherme de. Observar o céu profundo. Lisboa: [s.n.], 2000. 

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação do Touro. . Belo Horizonte: Stellarium.org. , 2019
WIKIPÉDIA. Taurus. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Taurus>. Acesso em: 1 dez. 2019. 
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