Há 60 anos, na cidade de Matias Barbosa, MG, três entusiastas pela ciência do céu se reuniram para criar um local destinado a observar e estudar os astros do Universo. Em abril de 1954 era inaugurado o Observatório Astronômico Flammarion, assim denominado em homenagem ao renomado astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925), cujos livros contribuíram decisivamente para a criação do Observatório.
Contando apenas com um modesto telescópio, os três discípulos de Urânia, (a Musa da Astronomia), Fausto B. de Andrade, Ruy Q. Fabiano Alves e Nelson Travnik, passaram a observar e estudar os astros mais acessíveis ao telescópio. Com isto podemos dizer que estava introduzida oficialmente a astronomia na região e o Flammarion era um dos poucos existentes no Estado. Para o aprimoramento dos trabalhos científicos, muito contribuiu o estreito relacionamento com os: Observatório Nacional do Rio de Janeiro, CNPq - MST e o Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Além desses contatos o Flammarion filiou-se a algumas das mais importantes associações astronômicas do mundo como as: ‘Société Astronomique de France, SAF, França, a British Astronomical Association, BAA, Inglaterra, a Association of Lunar and Planetary Observers, ALPO, Estados Unidos, a Schweizerischen Astronomischen Gesellschaft, SAG, Suiça e a Vereinigung der Sternfreunde VdS, Alemanha.
TRABALHOS CIENTÍFICOS
O Observatório passou a adquirir notoriedade com as observações das aproximações máximas de Marte (oposições periélicas) de 1956 e 1971. Nesta última contando já com uma excelente luneta “Jaegers” americana de 152mm de abertura, na época a segunda maior do Estado, flagrou em primeira mão no Brasil o inicio de uma tempestade de poeira bem como logrou obter com boa resolução, 90 diapositivos coloridos que, enviados para o ‘International Mars Comitee’ sediado no Lowell Observatory, Flagstaff, Arizona, EEUU, recebeu do seu coordenador Charles Capen, os maiores elogios. Outras pesquisas foram centradas no planeta Júpiter e nos cometas. Assim, os cometas Bradfield 1974b em 17/03/1974 e o West 1975n em 22/02/1975, viram-se fotografados em primeira mão no Brasil com grande repercussão no meio astronômico e na imprensa do País. Contudo, a maior participação do Flammarion viria em 1969 quando por indicação do Astrônomo Chefe do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, Ronaldo R. F. Mourão, foi credenciado pela NASA-JPL-SMITHSONIAN INSTITUTION, a colaborar com observações no Programa LION (Lunar International Observers Network), destinado a registrar a ocorrência dos chamados fenômenos transitórios lunares, TLPs, importantes para o êxito do Projeto Apollo, que realizaria em 20/7/1969, a descida do primeiro homem em nosso satélite. Neste Programa, três importantes constatações foram consignadas pelo Flammarion que após analisadas foram confirmadas e publicadas pela NASA.
DIVULGAÇÃO
O Flammarion desempenhou também importante papel na área da divulgação através de uma coluna mensal “O Mês Astronômico” publicada a partir de 1956 pelos jornais ‘Gazeta Comercial’ e ‘A Tarde’ de Juiz de Fora, MG. Mantido com recursos particulares e impossibilitado de evoluir em seus trabalhos científicos com aquisição de novos instrumentos e periféricos modernos, a saída encontrada foi propor um convênio com a Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, visando a instalação sob sua orientação, de um moderno observatório astronômico no campus ao lado do Estação Meteorológica do Deptº de Geociências. Projeto neste sentido foi elaborado mas não sensibilizou o Conselho Universitário que optou apenas por um Convênio de Colaboração Técnica. Importa também registrar o grande empenho do Flammarion em dotar Juiz de Fora de um moderno Panetário Zeiss. Projetos neste sentido foram elaborados por Nelson Travnik e Antonio Resende Guedes a partir da Administração Itamar Franco. Nunca lograram êxito apesar de reiteradas promessas. Após 38 anos, reconhecendo enfim sua importância para o ensino e cultura, a UFJF estará inaugurando nos próximos meses um moderno Planetário Zeiss modelo ZKP 4 junto a um observatório astronômico no campus próximo a Biblioteca, concretizando assim um sonho acalentado por Travnik e Guedes, este último já falecido.
CREPÚSCULO
Em agosto de 1976 sem apoio e falta de perspectivas favoráveis para ampliar suas atividades científicas, o Flammarion encerrou suas atividades. O triste episodio foi destaque em alguns dos principais jornais do País como ‘A Tarde’ de São Paulo e ‘O Globo’ do Rio de Janeiro. Em Juiz de Fora foi destaque na primeira página do ‘Diário Mercantil’ de 18/7/1976. Muito concorreu para isto a ida do seu diretor Nelson Travnik para a cidade de Campinas/SP, afim de, a convite, integrar a equipe do recém inaugurado Observatório Municipal de Campinas, ainda o maior em seu gênero no País. Estava assim encerrada uma época importante da ciência astronômica na região, desconhecida de muitos mas que após 38 anos será retomada pela UFJF.
O autor é atualmente diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba, SP e desde 1959 é Membro Titular da Sociedade Astronômica da França, SAF.