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domingo, 1 de julho de 2012

O Céu do mês – Julho 2012

Antônio Rosa Campos
arcampos_0911@yahoo.com.br
CEAMIG – REA/Brasil - AWB

A história celeste se repete! Eu posso seguramente começar a resenha deste mês com essa afirmativa. Mas peço a todos que antes de continuar essa leitura, procurem por Vênus e Júpiter no céu do alvorecer desse dia. Linda conjunção; não é mesmo? Plutão conforme mencionei na resenha do mês de abril passado, será ocultado pela Lua em 2 oportunidades, mas essas ocorrências dar-se-á na Antártida (em 03/07) e no extremo sul do continente latino americano. Tem mais; logo no dia 09, Vênus estará (também no amanhecer) 0.9° Norte de Aldebaran (mag 0.9) o que deverá fazer com que ao aglomerado das Hyades ganhe um aspecto mais belo do que realmente é o que será também realizado por Plutão na constelação de Sagittarius. A Lua protagonizará uma ocultação de Júpiter que países da Europa, África e Ásia poderão acompanhar, sendo que ele estará a 4.7° Norte de Aldebaran no dia 30 deste mês. Este mês ainda é uma boa oportunidade para começar a vislumbrar a brilhante faixa da nossa galáxia na região da constelação de Escorpião/Sagittarius, mas falarei um pouco mais do Serpentário que também está naquela área do céu.



Alinhamento planetário de Vênus e Júpiter

Embora esse alinhamento (figura 2) seja na realidade 1.8° maior que a última conjunção que ocorreu em 13 de março último, ele sempre chamará a atenção dos admiradores do céu, quando ficam resplandecentes na esfera celeste. Isso é tão verdadeiro que levou o astrônomo norteamericano Roger W. Sinnott a publicar na revista Sky & Telescope (Dezembro, 1986) uma excepcional análise, sobre a possibilidade de ser um evento semelhante ocorrido em 17 junho do ano 2 de nossa era, que levou o evangelista Matheus (2:1) a narrar essa passagem como: “A Estrela de Belém”.

É fato que não saberemos exatamente o que levou o evangelista a narrar essa história (também não é esse o objetivo), pois existem outras análises. Mas não podemos deixar de mencionar esse evento no como um atrativo para o restante dessa época excepcional, para a observação astronômica.

Planetas!

Mercúrio = Prevista sua máxima elongação, agora será um dos momentos em que seus eventos tornarão a repetir-se. Então o planeta passará para o nodo descendente neste dia primeiro dia. Em 12 de julho ocorrerá seu afélio quando sua distância ao Sol será de 0.4667 UA e em 14/07 já estará estacionário, sendo visualizado bem baixo no crepúsculo vespertino do dia 20/07 a 0.5° Norte da Lua; no dia 25 ele estará agora na mínima distância da Terra a uma distância de 0.5850 UA; sendo que em 28/07 estará em conjunção inferior. Este mês fará todo seu trânsito na constelação de Câncer.

Vênus = A opinião geral entre os observadores é que Vênus está proporcionando, antecedendo o alvorecer um dos mais belos trânsitos pela constelação de Taurus. Isso e um fato inquestionável, visto que sua breve incursão pelo aglomerado aberto M-45 (Plêiades) em abril último (Vejam crônica e informações em Sky and Observers), foi acompanhada por diversos observadores.



Mas agora, mergulhado dentre as estrelas que compõem o Aglomerado Aberto das Hyades (figura 3) isso desde o dia 20 de junho último, ele terminará esse trânsito já no dia 09/07 (observem ainda que este dia, o planeta estará bem próximo de Aldebaran); quando então chegará também em seu máximo brilho, já no dia 10 sua magnitude alcança o máximo brilho (mag. -4.5) e em 11/07 estará no afélio com 0.7280 UA de distância ao Sol.

Lua (Fases) = As fases lunares este mês, ocorrerão nas datas e horários do fuso horário de Brasília (UT = + 03:00 h) mencionadas de acordo com o quadro 1:
Marte = Marte poderá ser facilmente localizado na constelação de Virgem próximo a Zavijava (mag. 3.6). Pois logo a após o ocaso do sol deverá ser um dos primeiros objetos celestes a ser visível no céu, mesmo que sua magnitude estimada em 0.8 não o torne tão brilhante, sua proximidade com essas estrelas logo denunciarão sua presença entre elas. Até o dia 15 ele poderá ser observado na primeira parte da noite pois sua elongação, ainda faz com que suas observações sejam favoráveis, embora agora seu diminuto tamanho aparente não seja mais o ideal para pequenos instrumentos. Em 13/07 ele estará a 1.2° Sul de Zaniah (mag. 3.8), quando então em 24/07 cruzando o plano da eclíptica em nodo descendente ele estará a 3.8° Norte da Lua. Ele ainda nesta época será um indicador de posição bem interessante, pois em 27 estará a 0.5° Norte da NGC 4697, uma galáxia elíptica de magnitude 9.2.


Júpiter = Nesta época é somente pela madrugada que podemos localizar Júpiter, na constelação de Taurus. Como sua elongação de 35.4° (em 01/07) faz com que ele esteja relativamente baixo no horizonte leste. Mas esse número não representa que ele ficará impossibilitado de observações, visto que no dia 15/07 será possível a observadores, localizados na Ásia, África e Europa (consultem no mapa abaixo (figura 4), uma visão global deste fenômeno), a vislumbrarem uma bela ocultação desde planeta pela Lua; neste momento então ele estará com uma magnitude de -2.1, mantendo-se assim até o último dia do mês, quando então sua elongação terá aumentado para 58.2°.

Saturno = Como Marte está posicionado no setor oeste (próximo da fronteira com Leo) da constelação de Virgo, Saturno está praticamente no centro dessa constelação, bem próximo a brilhante Spica (mag. 1.0). Sua presença ali fará com que na noite de 25 de julho, seja vislumbrada uma configuração interessante formada pela presença da Lua (fase = + 0,45%), Saturno (mag. 0.8) e dessa própria estrela. Sua elongação faz com que ele seja visível na primeira parte da noite, visto que será de 90.0° em 15/07 e 75.5° em 31/07.

Urano = Já na segunda quinzena deste mês será possível dar início as observações de Urano na constelação de Cetus, pois sua elongação em 15/07 será de 104.5°, fazendo com que ele, seja observado numa boa altura do horizonte leste. Sua magnitude agora está estimada em 5.8 durante todo este mês. Em 11 de julho Urano estará também em sua máxima declinação norte; dois dias depois encontrar-se estacionário iniciando movimento retrógrado (em relação ao equador e a eclíptica).

Netuno = Vale ainda nossos comentários anteriores, mas lá dentro daquele quadrado de estrelas da constelação de Aquarius, Netuno poderá ser identificado com uma magnitude de 7.8 no sentido leste da nossa esfera de observação. Suas elongações neste período são: 175.9° em 01/07, 140.2° em 15/07 e 155.8° em 31/07.

Ceres e Plutão = Neste período os pequeninos planetas vão imitar em alguns aspectos seus irmãos maiores. O pequenino Ceres vai comportando-se igualmente a Júpiter, ele encontra-se desde o dia 04 de junho na constelação de Taurus, sua magnitude encontra-se em 9.1 e devido a suas elongações é visível apenas pela madrugada antes do nascer do Sol; mas nesta época não será isto que ocorrerá com Plutão, na constelação de Sagittarius ele continuará sua magnitude estimada em 14.0 mesmo após sua oposição que ocorreu no dia 29 do mês passado e sua identificação está privilegiada pela localização do aglomerado aberto M-25. Ele realizará um trânsito por esse aglomerado aberto o dia 14 próximo, permanecendo ali até o último dia deste mês. Então como fizemos no caso de Vênus, a figura 5 abaixo apresenta esse trânsito também.


Notas:

(UA) = Unidade Astronômica. Unidade de distância equivalente a 149.600 x 106m. Convencionou-se, para definir a unidade de distância astronômica, tornar-se como comprimento de referência o semi-eixo maior que teria a órbita de um planeta ideal de m=0, não perturbado, e cujo período de revolução fosse igual ao da Terra.

(a.l) = Ano Luz. Unidade de distância e não de tempo, que equivale à distancia percorrida pela luz, no vácuo, em um ano, a razão de aproximadamente 300.000 Km por segundo. Corresponde a cerca de 9 trilhões e 500 bilhões de quilômetros.

CONSTELAÇÃO

Ophiuchus

Este Serpentário era para estar entre as constelações do signo do zodíaco, mas não está; muito embora o Sol cruze aquela constelação entre os dias 28 de novembro a 17 de dezembro e o motivo pela qual ela não conste nessa história, também não será objeto de nossa análise. Na mitologia ela significa aquele que segura uma serpente e por esse motivo divide no céu, aquela grande constelação equatorial em dois pontos distintos: Serpens Caput (Cabeça da Serpente ao Norte da Libra) e Serpens Cauda (Cauda da Serpente) sendo circundada por pela própria constelação de Ophiuchus e a oeste por Scutum (escudo). Naquele ninho celeste podemos vislumbrar ainda algumas preciosidades que acabam fazendo daquela área do céu, um local bastante atraente para exploração ótica (figura 6).






Numa apresentação sintética, estou dividindo a análise das principais estrelas de Ophiuchus em 2 categorias, as anãs e as gigantes, então encontraremos ali um número bastante interessante de estrelas entre as magnitude de 2.0 e maior que 5.5. Rasalhague (2.0) é uma gigante branca que encontra-se a 60 anos-luz de distância e marca a cabeça do Serpentário. O estudo de seu espectro revelou a presença ao seu redor de matéria interestelar, talvez constituída de Cálcio. Cebalrai (2.7), já uma gigante amarela de classe espectral K2III, encontra-se a 125 anos-luz de distância; nesta categoria ainda é importante mencionar a similaridade de Yed Prior (2.7) uma gigante alaranjada que se encontra a 105 anos-luz e Yed Posterior (3.2) outra gigante alaranjada de classe espectral G9.5III a 99 anos-luz.

As anãs desse grupo de estrelas de Ophiuchus também possuem de uma semelhança fantástica. Zeta Oph (2.56) é uma branco-azulada a 460 anos-luz de distância tornando-se assim seu componente mais distante do Sol, enquanto Iota Oph (4.3) de classe espectral B8V encontra-se a 170 anos-luz. Embora também seja uma estrela branca, Sabik (2.4) e também um sistema binário de classe espectral A2V. Propositalmente deixei para comentar numa penúltima análise as estrelas alaranjadas 70 Oph (4.0) e 36 Oph (5.0), ambas de classe espectral K0V encontram-se a uma distância de 17 e 18 anos-luz respectivamente do Sol. (Mourão, 1987).

70 Ophiuchi

Também dupla física, 70 Ophiuchi é uma das mais conhecidas estrelas binárias descobertas por Sir Wiliam Herschel em 1779, e, provavelmente está entre as 12 binárias mais estudadas no céu. Muito embora Herschel não tenha registrado nenhuma cor entre os components, o Almirante Smyth as interpretou como "topázio claro e violeta", enquanto Flammarion, em 1879, imaginou que a estrela de menor brilho era cor de rosa. Na realidade o sistema hoje apresenta para as duas componentes as cores amarelas e alaranjadas de magnitude 4.2 e 6.0 respectivamente.


A separação aparente entre o par (figura 7) varia de 6.7” (1933) a 1.7” 1982, e um período orbital de 87.85 anos e a distância entre ambas é apenas 23 UA. (vide nota acima mencionada).

A Estrela de Barnard

Seria um disparate enorme abordarmos Ophiuchus e não mencionarmos a Estrela de Barnard (mag. 9.5) uma anã vermelha de classe espectral M4V, pois essa estrela apresenta o maior movimento aparente em direção ao Sol conhecido.


Sua velocidade radial e estimada em 140 quilômetros por segundos sendo que foi descoberta em 1916 por Edward Barnard, ela ainda encontra-se a uma distância de 5.9 anos-luz, sendo portando a segunda estrela nas vizinhanças do Sol, superada apenas por Próxima (mag. 11), a estrela mais débil do sistema triplo Alpha Centauri.

NEBULOSAS

A proximidade dessa constelação com um dos braços da Via-Láctea, é também um dos motivos pela qual ela vai apresentar interessantes aglomerados globulares em sua maioria, catalogados pelo famoso bisbilhoteiro de cometas Messier que utilizou uma luneta de 8 centímetros de abertura, para identificar 103 objetos que ganharam em sua homenagem, a popular inicial letra M. Isso faz com que M 107 (mag. 8.1) seja de difícil observação, pois sua forma arredondada e difusa irá requerer o emprego de telescópios acima de 150 mm de abertura; isso é um pouco relativo, pois M 9 (mag. 7.9) já torna-se evidente com binóculos 7 x 50, o que também será aplicável para observação de M 14 (mag. 7.6) e do M 19 (mag. 7.2), assim é recomendável a utilização de equipamentos óticos de 140 mm. Então facilmente ao alcance dos 7 x 50, teremos os aglomerados globulares M 10, M 12 e M 62, todos com magnitude estimada em 6.6. Sem dúvidas objetos celestes indispensáveis em nossas maratonas observacionais realizadas em homenagem a ao astrônomo francês Charles Messier.

Será muito compensador ainda para os observadores incluírem nesse pacote de objetos Deep-Sky os aglomerados NGC 6633 (mag. 4.6) que é facilmente observável com binóculos 7 x 50 e o mais atraente entre todos IC 4665 (Índex Catalogue) de magnitude 4.2, que será bastante atraente ao empregar-se um baixo aumento em nossos telescópios; isso então será a indicação definitiva que neste Serpentário não existirá perigo e que é bastante gratificante conhecer essa parte do céu.

Boas Observações!

Referências:

- Mourão, Ronaldo Rogério de Freitas - Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro (RJ) - 1987, 914 P.

- Campos, Antônio Rosa - Almanaque Astronômico Brasileiro 2012, Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), Belo Horizonte (MG) - 2011, 104P.

- Burnham, Robert Jr. – Burnham´s Celestial Handbook (23567-X, 23568-8, 23673-0)– An Observer´s Guide to the Universe beyond the Solar System – Vol. Two – Dover Publications, Inc. New York – USA, 1978.

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