A conjução de Marte e Antares em novembro de 2025.

 Antônio Rosa Campos

I - Mitologia

Mitologia é o conjunto de histórias, lendas e crenças que fundamentam uma cultura, explicando a origem do mundo, da humanidade e fenômenos naturais. Essas narrativas são vitais na transmissão de valores e conhecimentos entre gerações, proporcionando uma compreensão simbólica e cultural do universo. Cada civilização desenvolveu sua mitologia única, influenciando sua cosmovisão e fornecendo uma estrutura narrativa para entender a existência e o significado da vida.

II - Deuses da Guerra: Ares e Marte

Figura 1 - Aris: retratado o mais selvagem, associado à matança brutal e à violência da batalha. - Crédito GeminiIA -

Na mitologia grega e romana, Ares e Marte representam os deuses da guerra. Ares é impetuoso, associado à violência e à sede de batalha, gerando descontentamento entre os deuses gregos. Marte, na mitologia romana, contrasta como uma figura mais disciplinada e estratégica, ligada à habilidade militar, coragem e lealdade. A semelhança visual entre o planeta Marte e a estrela Antares, embora não diretamente mitológica, pode ter contribuído para associações simbólicas com a guerra.

Figura 2 - Marte, em armadura romana, representa o poder e a disciplina militar. Crédito GeminiIA 

III - Marte, Antares e o Espetáculo Estelar

A conexão entre Marte e Antares na representação dos deuses da guerra é possivelmente mais simbólica do que mitológica. Culturas antigas associavam corpos celestes a divindades, utilizando a observação do céu para interpretações mitológicas. A cor avermelhada de Marte e Antares, evocando o combate e o calor da guerra, influenciou mitos. Ares e Marte compartilham essa associação, sendo reverenciados como deuses guerreiros em suas culturas, incitando coragem e evocando admiração nos cerimoniais militares. Ambos personificam a força e a bravura, fundamentais no teatro de operações de um conflito armado.

Antares

Antares é uma supergigante vermelha de tipo espectral M1.5 Iab-Ib, situada na constelação do Escorpião, com temperatura efetiva próxima de 3.600 K e raio estimado em cerca de 680 vezes o do Sol. Localiza-se a uma distância média de aproximadamente 550 anos-luz da Terra e apresenta luminosidade milhares de vezes superior à solar. Estudos no domínio do infravermelho revelam uma envoltória estendida de gás e poeira, resultante da intensa perda de massa estelar típica das supergigantes evoluídas.

Antares forma um sistema binário com uma companheira azul-esbranquiçada de tipo B2.5 V, observável por interferometria de alta resolução. Essa configuração permite análises diretas de movimento orbital e de interações atmosféricas entre ambas as estrelas. As medições mais recentes obtidas pelo catálogo Gaia DR3 da European Space Agency (ESA, 2023) consolidam esses parâmetros físicos e reforçam o papel de Antares como um dos objetos de referência na calibração de modelos estelares e na caracterização das fases finais de evolução das estrelas massivas.

Marte

O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935 - 2014) descreveu Marte como o “planeta vermelho”, visível a olho nu como “astro de tonalidade avermelhada”, destacando ainda suas calotas polares e regiões escuras observáveis ao telescópio (MOURÃO, 1987, p. 298). O autor ressalta a associação mitológica de Marte a Ares, o deus da guerra, e lembra que Antares — cujo nome significa literalmente “rival de Ares” — simboliza essa antiga correspondência entre planeta e estrela, reconhecida desde as tradições babilônicas e gregas.

Nas observações modernas, a conjunção entre Marte e Antares ganha relevância tanto estética quanto científica. Antares é uma estrela supergigante vermelha de tipo espectral M1.5 Iab, com magnitude visual variável entre 0,6 e 1,6 e distância estimada em cerca de 550 anos-luz (STARWALK, 2025). Durante certas aproximações, Marte cruza a eclíptica próxima à constelação de Escorpião, produzindo o notável contraste cromático entre o brilho estável da estrela e o fulgor móvel do planeta. Efemérides recentes da NASA confirmam conjunções visíveis entre ambos em 2023, 2025 e 2027, com separações angulares inferiores a 5°, evidenciando o contínuo interesse desses encontros tanto para observadores quanto para estudos de dinâmica planetária (NASA, 2025).

IV - O Alinhamento na Esfera Celeste

A sutil conexão entre Marte e Antares transcende o simbolismo, tornando-se um espetáculo tangível na dinâmica celeste. Se antigas culturas usavam a observação do céu para interpretações mitológicas, hoje, graças à precisão das efemérides e observações modernas, essa história celeste se manifesta novamente aos olhos desarmados.

Em 18 de novembro próximo, uma conjunção notável cativará os observadores do céu noturno. Devido à dinâmica celeste, Marte se alinhará a apenas 4º ao norte de Antares, uma gigante vermelha de magnitude visual estimada em 1,07. Este alinhamento proporcionará um espetáculo visual singular, destacando-se como um encontro celeste ímpar entre dois astros cuja coloração vermelha os torna inconfundíveis no firmamento.

Figura 3 - Concepção Artistica de pequeno centro urbano onde poderá ser visualizado este alinhamento próximo ao horizonte. Crédito: GeminiIA.

A proximidade visual entre Marte e Antares oferecerá uma oportunidade extraordinária para os entusiastas da astronomia e diletantes do céu noturno. Seja por meio de astrofotografias que capturem a intensidade de suas cores, ou de vídeos que registrem o instante máximo de conjunção, o fenômeno promete encantar e inspirar. Prepare suas câmeras e telescópios e adentre a magia do universo enquanto Marte e Antares se unem em um alinhamento celeste que transcende as fronteiras terrestres — um espetáculo fascinante que o céu nos oferece para ser observado e eternizado.

Referências

MOURÃO, R. R. F. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. 914 p.

CAMPOS, Antônio Rosa (Org.). Almanaque Astronômico Brasileiro 2025. Belo Horizonte: Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (CEAMIG), 2 dez. 2024. 163 p. Disponível em: <https://is.gd/Alma2025>  Acesso em 02 Dez. 2024.

EUROPEAN SPACE AGENCY (ESA). Gaia Data Release 3: Summary of the content and survey properties. Astronomy & Astrophysics, v. 674, A1, 2023. Disponível em: <https://www.cosmos.esa.int/web/gaia/dr3>. Acesso em: 17 out. 2025.

HARPER, G. M.; BROWN, A.; BENNIS, A. L. Fundamental parameters and mass-loss properties of Antares (α Scorpii). The Astronomical Journal, v. 154, n. 1, p. 11-25, 2017. DOI: 10.3847/1538-3881/aa75c1.

KEELEY, D. A. et al. Interferometric observations of the Antares binary system: Orbital parameters and stellar dimensions. The Astrophysical Journal, v. 932, n. 1, p. 1-12, 2022. DOI: 10.3847/1538-4357/ac6bdf.

O’GORMAN, E. et al. The extended atmosphere of the red supergiant Antares: ALMA and VLT interferometric measurements. Astronomy & Astrophysics, v. 617, A48, 2018. DOI: 10.1051/0004-6361/201833360.




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