Em outubro e novembro de 2025, o cometa interestelar 3I/ATLAS (C/2025 N1) poderá proporcionar um feito inédito na exploração espacial: as sondas Europa Clipper (NASA) e Hera (ESA) poderão atravessar sua cauda iônica, permitindo o primeiro registro direto de material proveniente de um objeto interestelar. As simulações realizadas pelo programa Tailcatcher indicam alinhamentos geométricos favoráveis e distâncias mínimas de interseção da ordem de 8 milhões de quilômetros, possibilitando que a Europa Clipper detecte variações no vento solar e no campo magnético heliosférico causadas pela interação com o plasma do cometa. O evento marca uma oportunidade singular para o estudo das interações entre o vento solar e matéria interestelar, ampliando o conhecimento sobre a dinâmica e a composição de corpos vindos de outros sistemas estelares.
A Primeira Travessia da Cauda de um Cometa Interestelar: Perspectivas para o 3I/ATLAS em 2025
Durante o final de outubro e o início de novembro de 2025, duas sondas espaciais — Europa Clipper (NASA) e Hera (ESA) — poderão realizar algo inédito na história da exploração espacial: atravessar diretamente a cauda iônica de um cometa interestelar, o 3I/ATLAS (C/2025 N1).
Segundo o estudo aceito para publicação em Research Notes of the American Astronomical Society (Grant & Jones, 2025), o cometa 3I/ATLAS apresenta trajetória hiperbólica retrógrada próxima ao plano da eclíptica, o que favorece possíveis alinhamentos geométricos com as trajetórias das sondas interplanetárias.
As simulações indicam duas janelas potenciais de imersão direta na cauda iônica:
Hera: entre 25 de outubro e 1.º de novembro de 2025;
Europa Clipper: entre 30 de outubro e 6 de novembro de 2025.
Esses intervalos podem permitir o registro de partículas iônicas e distorções magnéticas produzidas pela interação entre o vento solar e o fluxo de plasma do cometa — fenômeno conhecido como estrutura de dobra magnética (magnetic draping).
Um visitante raro
Objetos interestelares são raros visitantes do Sistema Solar.
Em pouco mais de uma década, apenas (03) três foram confirmados:
1. 1I/‘Oumuamua – detectado em 2017, não exibiu coma nem emissão gasosa.
2. 2I/Borisov – observado em 2019, apresentou coma azulada e uma cauda iônica bem desenvolvida.
3. 3I/ATLAS – descoberto em 1.º de julho de 2025, atualmente em fase ativa de aumento de brilho e produção de água.
De acordo com Xing et al. (2025), quando o 3I/ATLAS encontrava-se a 2,9 UA do Sol, sua taxa de produção de água era de (1,36 ± 0,35) × 10²⁷ moléculas s⁻¹, valor notavelmente alto para um cometa tão distante. Isso sugere que, ao atingir o periélio em 29 de outubro de 2025, o cometa poderá exibir uma cauda iônica ampla e ativa, aumentando as chances de detecção pelas sondas.
O método Tailcatcher
A previsão desses possíveis cruzamentos foi obtida pelo programa Tailcatcher, desenvolvido para localizar e prever encontros entre caudas iônicas e espaçonaves.
Ele calcula o chamado parâmetro de impacto, que representa a menor distância entre o fluxo do vento solar e a posição do cometa. Os testes realizados com cruzamentos anteriores — como os de Jones et al. (2000, 2020, 2022) — demonstraram alta precisão.
Para o caso do 3I/ATLAS, os resultados indicam distâncias mínimas de interseção da ordem de (8,0 × 10⁶ km), considerando velocidades do vento solar entre 200 e 900 km/s. Essas estimativas reforçam a possibilidade de que Europa Clipper e Hera atravessem regiões periféricas ou mesmo o núcleo da cauda iônica.
Oportunidade científica
A Europa Clipper, missão dedicada ao estudo de Europa, satélite de Júpiter, carrega instrumentos capazes de medir plasma (Westlake et al., 2023) e campos magnéticos (Kivelson et al., 2023). Assim, ela poderá detectar alterações no vento solar, variações de densidade e flutuações magnéticas causadas pela passagem pelo material ionizado do cometa.
Já a Hera, missão europeia voltada ao sistema Didymos/Dimorphos, não possui sensores específicos para medições de plasma, mas seu alinhamento orbital ainda permitirá avaliar efeitos indiretos da interação entre o vento solar e o material do cometa. Mesmo na ausência de medições diretas de íons, as assinaturas de campo magnético dobrado e choques de plasma serão indicadores confiáveis da presença e estrutura da cauda iônica.
Caso confirmadas, essas observações constituirão a primeira detecção direta de material proveniente de um objeto interestelar.
Perspectivas futuras
O estudo de Grant & Jones (2025) ressalta que, com o avanço dos programas de rastreamento automatizado, é provável que descobertas e cruzamentos semelhantes tornem-se mais frequentes. Se outro objeto interestelar com trajetória favorável for identificado, a sonda Comet Interceptor, da ESA, poderá encontrá-lo de perto, coletando amostras diretas do material interestelar.
Esses eventos marcam um novo patamar para a astrofísica experimental do Sistema Solar, permitindo observar interações reais entre matéria interestelar e o vento solar, ampliando nossa compreensão sobre a formação e evolução dos sistemas planetários.
Referências Bibliográficas:
- EUBANKS, T. et al. Interstellar Comet 3I/ATLAS: Observational Opportunities. arXiv:2508.15768, 2025. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2508.15768.
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- GRANT, S. R.; JONES, G. H. Prospects for the Crossing of Comet 3I/ATLAS’s Ion Tail. Research Notes of the American Astronomical Society, 2025. arXiv:2510.13222.
- JONES, G. H. et al. Solar Wind and Comet Tail Interactions. Nature, v. 404, p. 574, 2000.
- KIVELSON, M. G. et al. Europa Clipper Magnetometer Overview. Space Science Reviews, v. 219, p. 48, 2023. DOI: 10.1007/s11214-023-00989-5.
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- MICHEL, P. et al. The Hera Mission to the Didymos Binary Asteroid System. Space Science Reviews, v. 221, p. 70, 2025.
- SELIGMAN, D. Z. et al. C/2025 N1 (ATLAS): A New Interstellar Comet. The Astrophysical Journal Letters, v. 989, L36, 2025.
- WESTLAKE, J. H. et al. Plasma Investigation for Europa Clipper. Space Science Reviews, v. 219, p. 62, 2023.
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