A ocultação de M45 (Plêiades) pela Lua em 16 de novembro de 2024.

 Antônio Rosa Campos

16 de novembro próximo, a Lua -100% iluminada e apresentando uma elongação solar de 173°ocultará  o Aglomerado Aberto M45 (Plêiades) (CAMPOS, 2023) que possui magnitude aparente de 1.6, com 110’ de arco e suas brilhantes estrelas (Figura 1). Isso proporcionará um espetáculo magnífico aos observadores equipados com pequenos instrumentos ópticos, como binóculos, lunetas e telescópios. Este fenômeno poderá ser observado em uma vasta extensão da superfície terrestre.

 

O atual ciclo de ocultações de M45 pela Lua (HERALD, 2022) teve seu início em 05 de setembro último (JD = 2.460192.8375), quando a faixa de visibilidade se concentrou predominantemente sobre o sul da Austrália, ocorrendo na faixa diurna ao Sul da Nova Zelândia. Prevê-se que esse ciclo se encerre em 07 de julho de 2029 (DJ = 2461231.736175) quando então um total de 79 ocorrências encerrar-se-á.

É relevante ressaltar que o evento previsto para 16 de novembro próximo será visível em diversas regiões das Américas. O quadro 1 abaixo, apresenta planisfério terrestre, contendo as principais estrelas de M45 e toda essa faixa de visibilidade.

Em uma breve análise temos: 16 Tau (Calaeno); 17 Tau (Electra); 19 Tau (Taygeta); Ocultação visível nas Américas e Polinésia Francesa (visibilidade somente do reaparecimento em Papeete); 20 Tau (Maia) Ocultação visível nas Américas, Polinésia Francesa e Ilhas Cook (Somente é observável o reaparecimento em Papeete e Rarotonga); 21 Tau (Sterope) = Ocultação visível nas Américas (Brasil reaparecimento ocorre no crepúsculo, exceto em Rio Branco-AC); 23 Tau (Merope); 25 Eta Tau (Alcyone); = Ocultação Visível na América do Norte; 27 Tau (Atlas) e 28 Tau (Pleione) = Ocultação Visível na América do Norte.

Desta forma, os observadores localizados nestes continentes poderão utilizar os dados constantes na publicação anexa ao Almanaque Astronômico Brasileiro, consultando de forma gratuita e disponível para download gratuito o Suplement 15.a; nele poder-se-á localizar por região as localidades sempre mencionadas bem como as condições gerais de visibilidade para as fases de Desaparecimento e Reaparecimento das estrelas acima mencionadas. 

Circunstâncias Gerais de visibilidade no Brasil

Não podemos deixar de mencionar ainda que este evento engloba de forma geral outras localidades nas regiões centro-oeste, norte, nordeste e partes do sudeste no território brasileiro. Assim, efemérides para 70 municípios do Brasil poderão ser consultadas utilizando o Suplemento nº 15.b (Figura 2 - Ilustrativa) do Almanaque Astronômico Brasileiro de 2024, que se encontra também disponível para download gratuito no link: Ocultação de M45 (Plêiades) em 16/11/2024 assim cada observador poderá localizar por região as condições gerais de visibilidade para a fase de Reaparecimento das estrelas acima mencionadas.


Registro de Ocultações de M-45 pela Lua no Brasil: 1991

Durante a série de ocultações de M45 pela Lua que ocorreram entre 27 de agosto de 1986 e 10 de março de 1992 (HERALD, 2022), Os astrônomos Maluf e Lobo (1992) registraram a ocultação das Plêiades (M45) em 28 de setembro de 1991. Esse registro (figura. 3) foi um dos mais notáveis envolvendo este magnífico Aglomerado, demonstrando, assim, que os esforços e a colaboração de astrônomos amadores contribuem de maneira significativa e valorizada.

M45

O Aglomerado de Estrelas das Plêiades. α = 03h 47m 24s, δ = +24° 7′ 00,0″ (2000.0) encontra-se cerca de 12° a noroeste do Grupo das Híades. Chamado de "Sete Irmãs" é sem dúvidas o aglomerado estelar galáctico mais famoso nos céus, conhecido e reverenciado desde a mais remota antiguidade.

Em vários escritos gregos e romanos, elas são referidas como As Sete Estrelas, a Rede de Estrelas, as Sete Virgens, as Sete Irmãs Atlânticas, as Filhas de Pleione ou os Filhos de Atlas. Na mitologia grega, elas eram meio-irmãs das Híades e foram salvas por Zeus da perseguição pelo gigante Orion, assim diz a lenda, ao serem transformadas em um grupo de pombas celestes  (BURNHAM'S, 1978).

As brilhantes estrelas do grupo das Plêiades

Dentre as suas estrelas mais brilhantes destacam-se Sterope, Electra, Merope, Maia, Celaeno, Taygeta, Alcyone, Pleione e Atlas. E também constituída por nebulosas de reflexão, de origem diversa, destacando-se a Nebulosa Maia e a Nebulosa Merope (LAGE, 2019). 

Tomando por base essas informações, podemos inserir os dados constantes destas estrelas sendo: Catálogo de Flamsteed /Bayer Nome para uma rápida identificação da estrela; e a seguir a identificação também nos principais catálogos como: Identificação de Estrela Variável; outro desenvolvido pelo Observatório Harvard; Identificação da estrela no catálogo Bonner Durchmusterung (BD); Número da estrela no Catálogo Henry Draper; Número da estrela no Catálogo SAO (Smithsonian Astrophysical Observatory) e número da estrela no Catálogo Fundamental de Estrelas FK5 (Fifth Fundamental Catalog). Todos estes dados se encontram no Yale Bright Star Catalog Fifth edition, with notes (1991).

Nele ainda podemos encontrar as características visuais das estrelas daquela região celeste como:  código de estrelas duplas/ou múltiplas e também a sua respectiva catalogação e número constante no catálogo de estrelas duplas compilado entre 1917-1932 por Robert Grant Aitken, astrônomo norte-americano conhecido por suas observações de estrelas duplas; no magnitude aparente (brilho), espectro e outras propriedades observáveis a visão desarmada ou através de instrumentos ópticos. 

Hoffleit e Warren Jr. (1991) fornecem informações detalhadas sobre essas estrelas no "The Bright Star Catalog, 5th Revised Edition (Preliminary Version). Assim, veremos a seguir as características das principais apresentadas na Figura 4 acima: 

16 Tau – Calaeno:  – Também chamada de Celaeno, Celieno e também Celeno essa estrela e possui uma magnitude aparente de 5.46, tipo e classe espectral B7IV. Observações indicam que seja uma binária e que são suspeitas de se eclipsarem mutuamente, sep. 0.0062". Isso não foi resolvido pelo método de interferometria granular em 1981.69".

17 Tau – Electra: possui uma magnitude aparente de 3.7, tipo e classe espectral B6III. Electra talvez esteja localizada na nebulosa de reflexão, (nuvem de poeira e gás que reflete a luz de estrelas próximas) Electra é um membro da associação estelar Tau R1, que está localizada a uma distância de aproximadamente 110 parsecs (cerca de 360 anos-luz) da Terra; 

Em 19 de março de 1972, ocorreu uma ocultação envolvendo 17 Tau, na qual a diferença de magnitude entre Electra e o objeto ocultado era de 3.4, e a separação angular entre eles era de 0.010 arco de segundos.

19 Tau – Taygeta: essa estrela e possui uma magnitude aparente de 4,3; tipo e classe espectral B6IV, indicando que é uma estrela subgigante de classe B, sistema triplo de estrelas, o componente primário é SB (binária espectroscópica) com uma magnitude de 4.6, e uma separação visual de 6.1 na banda de luz visível, com uma separação angular de 0.012 segundos de arco. Este par é composto por estrelas de magnitude 4.4 e 8.1 na faixa visível, com uma separação angular de 69 segundos de arco. 

20 Tau - Maia: possui uma magnitude aparente de 3.87, classe espectral B8III, indicando que é uma estrela gigante de classe B. E também membro da associação estelar Tau R1 e está uma distância de 110 parsecs (cerca de 360 anos-luz) da Terra. As linhas de seu espectro apresentam descontinuidades na região do ultravioleta (UV).

21 Tau - Sterope: possui magnitude aparente de 5,76. Classe espectral B8V, indicativo que ela seja uma estrela de sequência principal (estrela anã) de classe B. São nomes alternativos desta estrela: Asterope. Também e conhecida como Sterope I. 

23 Tau - Merope: possui magnitude aparente 4.18 e tipo e classe espectral B6IVe; uma estrela subgigante de classe B que apresenta emissão variável de hidrogênio, o que sugere atividade instável na atmosfera estelar. Merope  integra a associação estelar Tau R1 a uma distância de 110 parsecs (cerca de 360 anos-luz) da Terra. Existe a suspeita de ser uma estrela dupla, mas provavelmente é uma estrela única.

25 Tau - Alcyone: possui magnitude aparente 2,87 tipo e classe espectral B7IIIe. É uma estrela gigante de classe B com características de emissão em seu espectro). É a estrela mais brilhante de M45, integra também a associação estelar Tau R1 a uma distância de 110 parsecs (cerca de 360 anos-luz) da Terra. Seu diâmetro angular é de 0.0016 segundos de arco; O componente A é uma estrela dupla com separação angular de 0.031 segundos de arco. As estrelas B, C, D têm magnitudes de 8.1 A0V, 8.1 Am(A5/F0/F2) e 8.7v F2V, respectivamente, em separações angulares de 117" a 190". (velocidade de rotação projetada) da componente B é de 155 km/s. E importante salientar que várias determinações fotométricas indicam 6.3 para o componente B. Outros catálogos indicam magnitude 8.1 para a estrela HD 23629.

27 Tau - Atlas: possui magnitude aparente de 2,87 tipo e classe espectral B8III sendo uma estrela gigante de classe B. O Componente A é um sistema binário espetroscópico (SB) com magnitudes de 4.1 e 5.6 e separações angulares de 0.006" e 0.019". A estrela B tem magnitude visual de 6.8 e está localizada a 0.4" da estrela principal.

Designada como ADS 2786A ("Aitken's Double Star"), possui um período orbital de 1254.68 dias, com velocidades radiais de 14.5 km/s e -0.4 km/s (componentes do movimento radial), a velocidade de rotação vista de forma lateral (ou "projetada") a partir da linha de visão do observador de 248 está relacionada à sua órbita.

28 Tau - Pleione: possui magnitude aparente de 5.09 tipo e classe espectral B8Vpe, sendo portanto uma estrela anã de classe B com características de linhas espectrais peculiares ou emissão. A variabilidade desta estrela, pode ter relação com episódios com a ejeção de material estelar, a ejeção de material estelar em forma de conchas (shell ejection) em 1936 levou a uma diminuição na luminosidade entre 1937 e 1958. Sua variabilidade e suas características únicas fazem desta estrela um objeto de estudo interessante para a compreensão das estrelas Be (por apresentar linhas de emissão em seu espectro) e sua interação com o meio interestelar.

E importante mencionar também que as informações postadas na Ficha de Catalogação #002 - Plêiades. (2019). Disponível gratuitamente  em: https://drive.google.com/open?id=1UG_jNZgOLO1ZpuXgxKb9yp3aDzj-9jbK apresenta uma excelente referência para os instrumentos que poderão ser empregados nesta observação conforme podemos vislumbrar na tabela 3.

Importância

As ocultações de estrelas pela Lua oferecem uma oportunidade ímpar para contribuir com a ciência enquanto se explora o céu. Ao testemunhar e registrar esses momentos, os astrônomos amadores desempenham um papel crucial na coleta de dados valiosos. Seu envolvimento não apenas enriquece o conhecimento coletivo sobre as estrelas envolvidas, mas também proporciona uma jornada única e emocionante de descoberta pessoal do meio interestelar que nós encontramos. A união de esforços para observar, registrar e compartilhar esses eventos inspira a todos com a maravilha do universo. 

Suas observações são peças fundamentais no quebra-cabeça cósmico. Mãos à obra?

Sites recomendados:

www.rea-brasil.org/ocultacoes

"Como observar"

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/observar.htm

"formulário de reporte"

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/1reporte_ocultacoes_lunares_v2.0c2_portugues.xls (ocultações lunares) ou

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/reporte_asteroides.xls 

(ocultações de estrelas por asteroides).

No Facebook:

https://www.facebook.com/groups/806932362709528/

Ocultações Astronômicas”.

Este grupo destina-se à divulgação e discussão de eventos astronômicos na área de 'Ocultações'; Ocultações de estrelas e planetas pela Lua, ocultações de estrelas por asteroides e as técnicas empregadas para o registro destes eventos (PADILLA FILHO, 2016).

Boas observações e céus limpos!

Referências:

Mourão, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

Campos, Antônio Rosa (Org.). Almanaque Astronômico Brasileiro 2024. Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (CEAMIG), 02 de dezembro de 2023. 163 páginas. Disponível para download gratuito em: <https://drive.google.com/file/d/1M8iuzi67xYPrKj_uNjQRhsGtyOxGJ5rO/view?usp=sharing>. Acesso em: 02 Dez. 2023.

Burnham, Robert Jr. – Burnham´s Celestial Handbook (23567-X, 23568-8, 23673-0)– An Observer´s Guide to the Universe beyond the Solar System – Vol. Three – Dover Publications, Inc. New York – USA, 1978.

Lage, Aléxia. Ficha de Catalogação #002 - Plêiades. 02 dez. 2019. Disponível em: <https://drive.google.com/open?id=1UG_jNZgOLO1ZpuXgxKb9yp3aDzj-9jbK>. Acesso em: 30 out. 2023.

Maluf, W. J., Lobo, J. C. (1992). A Ocultação de M 45 - Plêiades Pela Lua em 28/09/91. REA (Rede de Astronomia Observacional), Dezembro / 1992 - Reporte nº 5, pp. 46-48. Disponível em: http://www.rea-brasil.org/reportespdf/reporte05.pdf. Acesso em: 01 nov. 2023.

Padilla Filho, Antônio. A ocultação de TYC 5667-00417-1 por 236 Honoria. Sky and Observers, jul 2016. Disponível em: <https://sky-observers.blogspot.com/2016/07/a-ocultacao-de-tyc-5667-00417-1-por-236.html>, Acesso em 22 mai. 2017.

Herald, Dave. Occult: Terms of Use. Outubro de 2022. Murrumbateman, NSW 2582, Austrália. Disponível em: <http://lunar-occultations.com/iota/occult4.htm>. Acesso em: 01/11/2023.

Hoffleit, D. and Warren, Jr., W.H., 1991, "The Bright Star Catalog, 5th Revised Edition (Preliminary Version)". Available in: <https://www.handprint.com/ASTRO/XLSX/Yale_BSC.xlsx> Acess in 16 Oct. 2022.

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