Em 24 de maio próximo a Lua -100% iluminada e uma elongação solar de 172° ocultará novamente a brilhante Antares (Alfa Scorpii), Magnitude visual: 1.07 (Figura 1). Proporcionando um belo espetáculo aos observadores munidos com pequenos instrumentos óticos como: binóculos, lunetas e telescópios; nesta oportunidade esse evento poderá ser observado em uma grande extensão das Américas e na costa oeste do continente africano.
Como mencionado, observadores localizados na costa oeste do continente africano, incluindo países como Angola, Argélia, Benin, Burkina Faso, Camarões, Costa do Marfim, Gabão, Gana, Níger, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Senegal e Togo, terão a oportunidade de observar esse evento. Conforme indicado na Tabela 1, esse fenômeno em partes deste continente está ocorrendo durante o crepúsculo matutino.
Os observadores localizados na região do mar do Caribe, como Aruba, Barbados, Cuba, Ilhas Cayman, República Dominicana, Guadalupe, Jamaica, Porto Rico, São Cristóvão e Nevis, Trinidad e Tobago, bem como aqueles que se encontram na região do Istmo, incluindo Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá, terão a oportunidade de observar ambas as fases (desaparecimento e reaparecimento) de acordo com as Circunstâncias Gerais de Visibilidade apresentadas na Tabela 2.
Também os observadores localizados na região sul, sudeste e costa do Atlântico na América do Norte (Bermudas, Canadá, Estados Unidos, Groenlândia, México, São Pedro e Miquelón) poderão acompanhar esse evento, conforme apresentado na Tabela 3.
Já em uma imensa porção do continente sul-americano, os observadores localizados no Brasil, Colômbia, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela poderão acompanhar esse evento, conforme apresentado na tabela 4.
Circunstâncias Gerais de visibilidade no Brasil
Não podemos deixar de mencionar que, além das localidades mencionadas na Tabela 4, este evento abrange de forma geral uma vasta extensão das regiões norte, nordeste e também grande parte do centro-oeste e sudeste do território brasileiro. Assim sendo, os dados das circunstâncias gerais de visibilidade para 550 municípios do Brasil podem ser consultados utilizando o Suplemento nº 7 (Figura 2 - Ilustrativa) do Almanaque Astronômico Brasileiro de 2024, que está disponível para download gratuito no seguinte link: A Ocultação de Antares em 24/05/2024.
Além das circunstâncias gerais de visibilidade apresentadas, na figura 3 incluímos o mapa global com a faixa de visibilidade do fenômeno, que abrange todas as regiões mencionadas, bem como as ilhas na região norte e sul do oceano Atlântico e no norte do oceano Pacífico bem como à costa leste da América do Norte e Central.
Registro de Ocultações de Antares pela Lua no Brasil: 1986-1991
Durante a série de 68 ocultações de Antares pela Lua ocorridas entre 30 de março de 1986 e 04 de abril de 1991 (CORREA et al., 1990), diversos observadores brasileiros registraram as ocultações de alguns desses eventos, os quais podem ser visualizados na Tabela 5 abaixo.
Essa tabela foi construída após consulta ao Acervo Astronômico mantido pelo astrônomo Edvaldo Trevisan e no presente texto voltaremos a fazer menção ao registro contido na CBA (Circular Popular de Astronomia) nº 121.
O observador brasileiro Carlos Adib de Porto Alegre-RS reportou que durante a ocultação ocorrida em 11/02/1988 na fase de reaparecimento, a estrela companheira (mag. 5.4) de Antares foi visualizada por "alguns segundos"; ele utilizou um refrator de 7,6 cm (DF= 90 cm) e ainda que: "Isso somente foi possível porque o reaparecimento (nesta ocultação) ocorreu no limbo escuro da Lua. A estrela companheira de Antares foi a primeira a reaparecer, mas, em seguida, ela deixou de ser vista ao ser ofuscada pelo brilho da estrela principal (mag 1.1) que reapareceu no mesmo lugar" (ADIB, 2023).
Antares é a 15ª estrela mais brilhante do céu sendo a guia perfeita ao delinearmos uma das grandes constelações existentes na esfera celeste sendo seu nome romano Cor Scorpionis, o "Coração do Escorpião", uma escolha por demais acertada para a designação desta magnífica estrela de primeira magnitude (BURNHAM'S, 1978) naquela região celeste. Flanqueiam Antares a inferior Paikauhale (Tau Scorpius) e a superior Al Niyat, ambas consideradas diretamente como: "as artérias", ligadas a estrela brilhante no coração do Escorpião (KALER, 2017) conforme vemos no mapa celeste (figura 4).
Antares e uma supergigante vermelha de classe e tipo espectral M1.5Iab-Ib sendo considerada uma variável semirregular de tipo tardio apresentando cerca de 1 magnitude em períodos entre máximos e mínimos de luz com variações entre: 0.75 - 1.21 V (AAVSO, 2023). Suas dimensões excepcionalmente grande (aproximadamente 700 vezes maior que o do Sol) faz com que provavelmente seja superada em tamanho apenas por Betelgeuse (BURNHAM'S, 1978). Entretanto novos dados indicam que sua atmosfera se estende por um tamanho 12 vezes maior que esse diâmetro (MOTA, 2020) conforme concepção artística apresentada na Figura 5.
Durante o início da década de 1950, Evans e outros reconheceram que uma série única de ocultações lunares de Antares e Aldebaran, eventos que ocorrem em um ciclo de 19 anos, proporcionaria a oportunidade de tentar medir os diâmetros angulares dessas estrelas. Usando técnicas fotométricas convencionais, foram obtidas cinco observações bem-sucedidas da ocultação de Antares. Evans analisou os dados dessas ocultações e concluiu que Antares possivelmente não era esférica ou tinha manchas severas. Embora os resultados de Evans tenham sido recebidos com ceticismo na época, sua análise foi posteriormente confirmada por medidas interferométricas e estudos posteriores de ocultações (GLASS, 2014).
Observadores interessados não devem deixar de aproveitar as ocultações de Antares, especialmente aquelas que ocorrem entre a lua cheia e a nova, quando o reaparecimento ocorrerá na borda escura da Lua, e o companheiro surgirá primeiro, permanecendo visível por 5 ou 6 segundos antes que a primária apareça. As ocultações de Antares para esta série iniciaram em 23 de agosto de 2023 e encerrarão em 27 de agosto de 2028, totalizando 68 ocultações, sendo que 18 serão possíveis de ser registradas na América do sul.
A companheira verde
Alpha Scorpii tem uma pequena estrela companheira (figura 6) geralmente descrita de coloração verde, Mv = 5.4, classe e tipo espectral B3V (MULLANEY, 2005), isso seja possivelmente um efeito ótico devido ao contraste com o "amarelo-dourado e rosa" profundo da primária. No entanto, existem pequenas controvérsias em relação a quem foi o primeiro a registrar essa observação em primeira mão. Durante uma ocultação de Antares pela Lua em 13 de abril de 1819, realizada em Viena, há um relato intrigante fornecido pelo Professor Johann Tobias Bürg. Ele descreveu o reaparecimento da seguinte maneira: "Às 12h 03m 17,1s, observei a emersão de uma estrela com magnitude 6,7. Cerca de 5 segundos depois, ela subitamente se transformou em uma estrela de primeira magnitude. Foi a partir dessa transição que o momento da emersão foi datado" (BURNHAM'S, 1978). Essa pequena estrela foi vista novamente pelo astrônomo escocês James William Grant (SHUBINSKI, 2021), na Índia em 1844 e, independentemente por Ormsby Macknight Mitchel com o refrator de 11,7 polegadas no Observatório de Cincinnati em 1845-1846 (BURNHAM, 1978; BELL, 2014).
Quando as condições atmosféricas estão boas, ele aparece claramente em um telescópio de 6 polegadas (152 mm) como uma pequena centelha de esmeralda cintilante, quase afogada na luz rubra ardente da gigante Antares. W. Dawes, na década de 1850, observou a estrela repetidamente utilizando igual abertura; E.J. Hartung (1968) a acha visível "em boas condições com 75 mm". W. Edgecomb usou Antares como objeto de teste para seu novo espelho de 15½" (393 mm) em julho de 1887 e relatou que: "o companheiro... destaca-se claro e ousado com 140 vezes o aumento. Imagens muito boas." (BURNHAM, 1978).
Robert Burnham Jr. sempre a achou bastante fácil no refrator de 7 polegadas (177,8 mm) do Observatório Lowell quando o ar está calmo. Quanto à cor do companheiro, há as diferenças usuais de opinião; Hartung a considera: "verde pálido”, a qual menciona: que vi bem com 300 mm sob luz solar forte contra o céu azul". W.T. Olcott a chama de "verde vivo", enquanto K. McKready (1912) se refere a ela como azul; Mary Proctor em Evenings With the Stars (1924) a descreve como: "a astuta companheira de matiz verde", enquanto E. Crossley, J. Gledhill e J.M. Wilson, em seu Handbook of Double Stars (1879), citam as estimativas de cor de vários observadores: "azul", "roxo", "muito azul" e "verde".
Unicamente pelo efeito de contraste, não é surpreendente que a pequena estrela pareça realmente esverdeada (BURNHAM, 1978), pois foi identificada essa coloração por uma equipe de astrônomos amadores do CEAMIG utilizando o Telescópio 0,6 m Zeiss do Observatório Astronômico Frei Rosário da UFMG em Caeté-MG em 1980. Registro semelhante ocorreu durante o reaparecimento de Antares em 22 de janeiro de 1990 (tabela 5 acima), quando o observador Roberto Ferreira Silvestre de Uberlândia reportou ter observado a companheira verde por pouco mais de 3s (SILVA, 1990).
Importância
As ocultações de estrelas pela Lua oferecem uma oportunidade ímpar para contribuir com a ciência enquanto se explora o céu. Ao testemunhar e registrar esses momentos, os astrônomos amadores desempenham um papel crucial na coleta de dados valiosos. Seu envolvimento não apenas enriquece o conhecimento coletivo sobre as estrelas envolvidas, mas também proporciona uma jornada única e emocionante de descoberta pessoal do meio interestelar que nós encontramos. A união de esforços para observar, registrar e compartilhar esses eventos inspira a todos com a maravilha do universo.
Suas observações são peças fundamentais no quebra-cabeça cósmico. Mãos à obra?
Sites recomendados:
"Como observar"
http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/observar.htm
"formulário de reporte"
http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/1reporte_ocultacoes_lunares_v2.0c2_portugues.xls (ocultações lunares) ou
http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/reporte_asteroides.xls
(ocultações de estrelas por asteroides).
No Facebook:
https://www.facebook.com/groups/806932362709528/
“Ocultações Astronômicas”.
Este grupo destina-se à divulgação e discussão de eventos astronômicos na área de 'Ocultações'; Ocultações de estrelas e planetas pela Lua, ocultações de estrelas por asteroides e as técnicas empregadas para o registro destes eventos (PADILHA FILHO, 2016).
Boas Observações!
Referências:
Mourão, R.R.F. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987, 914P.
CAMPOS, Antônio Rosa (Org.). Almanaque Astronômico Brasileiro 2024. Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (CEAMIG), 02 de dezembro de 2023. 163 páginas. Disponível para download gratuito em: [https://drive.google.com/file/d/1M8iuzi67xYPrKj_uNjQRhsGtyOxGJ5rO/view?usp=sharing]. Acesso em: 02 Dez. 2023.
Padilha Filho. A. A ocultação de TYC 5667-00417-1 por 236 Honoria. Sky and Observers, jul 2016. Disponível em: <https://sky-observers.blogspot.com/2016/07/a-ocultacao-de-tyc-5667-00417-1-por-236.html >, Acesso em 22 mai. 2017.
Herald, D. Occult4 v4.1.0.27 (24 March. 2014) Uptade v4.2.0 available in: <http://www.lunar-occultations.com/occult4/occultupdate.zip> Acesso em: 28 Abr. 2016.
Burnham, Robert Jr. – Burnham´s Celestial Handbook (23567-X, 23568-8, 23673-0)– An Observer´s Guide to the Universe beyond the Solar System – Vol. Three – Dover Publications, Inc. New York – USA, 1978.
AAVSO, (Web Site) The International Variable Star Index (VSX).Available in: <https://www.aavso.org/vsx/index.php?view=detail.top&oid=34002> Acess: 07 Set. 2023.
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Mullaney, James. Double and Multiple Stars and How to Observe Them. 131 p. (Astronomers' Observing Guides). Editor: © Springer-Verlag London Limited, 2005. ISBN 1-85233-751-6 (acid-free paper).
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ADIB, Carlos. RE: Re: Vídeos Postados no YouTube. E-mail recebido em 26 de dezembro de 2023 às 16:31. De: adibcd@yahoo.com. Para: Antonio Rosa Campos. - O conteúdo discutido no e-mail pode ser encontrado no site pessoal do autor: Carlos Adib - Astronomia. Acesso em 26/12/2023.