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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Largue o cel e olhe para o céu #37

 Messier 78


Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #036 - Messier 78

Messier 78 é um objeto do céu profundo que se localiza na constelação Orion (Órion). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.

Falta pouco tempo para a chegada do verão no hemisfério sul. Com a chegada dessa estação, será possível visualizar no céu uma das mais belas constelações: Órion. Facilmente reconhecível pela sua região central em forma de ampulheta, a constelação é constituída por estrelas brilhantes que facilitam sua identificação, mesmo em ambientes com considerável poluição luminosa. Por esse motivo, é muito indicada para aqueles que pretendem iniciar-se na prática observacional do reconhecimento do céu. Além disso, também é muito rica em Objetos do Céu Profundo (DSO), sendo ainda mais tentador desejar observá-la por meio de binóculos ou telescópios.

Vamos conhecer primeiro um pouco mais sobre a constelação na qual a nebulosa se encontra? Para entender a origem do nome Órion e sua conformação, é preciso voltar a tempos remotos, quando se cultuavam divindades cujas histórias ficcionais constituíram as mitologias greco-romana:

Órion, filho de Netuno, era um belo gigante e poderoso caçador. Seu pai deu-lhe o poder de andar pelas profundezas do mar ou, segundo outros dizem, de caminhar sobre sua superfície. (...) Órion viveu, como caçador, com Diana, de quem era favorito, chegando-se mesmo a dizer que ela quase se casou com ele. O irmão da deusa, muito desgostoso, censurava-a, frequentemente, mas em vão. Certo dia, observando Órion que vadeava o mar apenas com a cabeça acima d'água, Apolo mostrou-o a sua irmã, afirmando que ela não seria capaz de alvejar aquele objeto negro sobre o mar. A deusa caçadora lançou um dardo, com pontaria fatal. As ondas empurraram para a terra o cadáver de Órion e, percebendo, com muitas lágrimas, seu erro, Diana colocou-o entre as estrelas, onde ele aparece como um gigante, com um cinto, a espada, a pele de leão e uma clava. Sírius, seu cão, o acompanha, e as Plêiades fogem diante dele.” (BULFINCH, 2002) 

Com essa descrição, fica mais fácil então compreender como os antigos enxergaram o gigante no céu. Veja na Figura 1 a conformação da constelação Orion:

Figura 1 - Constelação Orion conforme visualizada no software Stellarium. Note a imagem do caçador-gigante, que reproduz com precisão a descrição contida no texto citado anteriormente. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2022)

Orion pode ser vista em latitudes entre +85° e -75°, tendo como constelações vizinhas Gemini, Taurus, Eridanus, Lepus e Monoceros (Figura 2) (CONSTELLATION GUIDE, 2021).

 

Figura 2 - Constelações de Gemini, Taurus, Eridanus, Lepus e Monoceros, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2022)

A constelação recebeu a designação oficial de Orion, a abreviatura Ori e as estrelas pertencentes a essa constelação podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pela palavra Orionis (que indica que a estrela pertence à constelação de Órion). As estrelas mais facilmente reconhecidas, conforme mostrado na Figura 3, são: Betelgeuse (α Orionis ou α Ori), Meissa (l Orionis ou l Ori), Bellatrix (γ Orionis ou γ Ori), Tabit (1 Ori), Alnitak (ζ Orionis ou ζ Ori), Alnilam (ε Orionis ou ε Ori), Mintaka (δ Orionis ou δ Ori), Hatysa (i Orionis ou i Ori), Saiph (κ Orionis ou κ Ori) e Rigel (β Orionis ou β Ori).

 

Figura 3 - Constelação Orion conforme visualizada no software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2022)

Em Orion, há um asterismo muito conhecido popularmente no Brasil como as Três Marias (composto pelas estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka). É ainda reconhecido também pelas denominações Três Reis Magos ou Cinturão de Órion (veja a Figura 4). Portanto, para ficar claro, as Três Marias não são uma constelação por si só, mas um agrupamento de estrelas pertencentes à constelação de Órion.

Figura 4 – Localização do Cinturão de Órion e do objeto Messier 78, conforme visualizadas no software Stellarium. onte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2022)

É nesta constelação que se localiza Messier 78, sendo também identificada no New General Catalog como NGC 2068 (Figura 5). Sua descoberta foi realizada por Pierre Méchain, em 1780. Trata-se de uma nebulosa de reflexão difusa, a mais brilhante do céu. Está distante aproximadamente 1.600 anos-luz de nós, possui magnitude visual de +8.3. Em termos de área, ocupa 8’ x 6’ de arco, que corresponde a um diâmetro linear de 10 anos-luz (MESSIER OBJECTS, 2015).


 
Figura 5 – Messier 78 Fonte: (ESO/IGOR CHEKALIN, 2011)

Um aspecto interessante a ser notado é a cor azulada da nebulosa. Ela ocorre porque há estrelas jovens azuis ao centro e porque as pequenas partículas de poeira possuem uma maior refletividade na cor azul. Vale ainda destacar que a nebulosa sedia muitas estrelas muito jovens que, na sua maioria, ainda não atingiram sua posição de equilíbrio na sequência principal (STOYAN et al., 2008). A nebulosa Messier 78 está localizada em uma região de objetos conhecida como Complexo de Nuvem Molecular de Órion, que inclui outras nebulosas como NGC 2064, NGC 2067 e NGC 2071, sendo M 78 a nebulosa de reflexão mais brilhante do grupo (MESSIER OBJECTS, 2015).

A nebulosa M 78 pode ser facilmente localizada, estando aproximadamente 2° a nordeste da estrela Alnitak, que se localiza no Cinturão de Órion (ver Figuras 3 e 4). Com binóculos 10 x 50, Messier 78 aparecerá como um objeto fraco e, mesmo assim, precisará de céus escuros para que se consiga visualizá-lo. Já com grandes binóculos e telescópios pequenos, será possível visualizar uma mancha de luz similar a um cometa, com duas estrelas de magnitude visual 10 a iluminando. Cabe destacar que, com uma abertura de 70 mm e uma ampliação de 16 vezes, já seria suficiente para revelar sua característica aparência de cometa, com as duas estrelas. Com um telescópio de 100 mm, dependendo-se das condições, poderão ser vistas a névoa ao redor de M 78 e a nebulosa de reflexão próxima NGC 2071. Já com um de 200 mm, já se começa a observar os detalhes de Messier 78 (MESSIER OBJECTS, 2015) (STOYAN et al., 2008).

O texto foi útil para você? Agradecemos a todos que puderem enviar seus comentários, críticas e sugestões para a coluna e o material por ela disponibilizado, por meio do e-mail skyandobservers@gmail.com.

EDIÇÕES ANTERIORES


Referências:

BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 418 p.

CONSTELLATION GUIDE. Orion Constellation (the Hunter): Stars, Facts, Myth, Location. 2021. Disponível em: https://www.constellation-guide.com/constellation-list/orion-constellation/. Acesso em: 18 dez. 2022.

ESO/IGOR CHEKALIN. Messier 78: a reflection nebula in Orion. 2011. Disponível em: https://www.eso.org/public/images/eso1105a/. Acesso em: 2 nov. 2022.

MESSIER OBJECTS. Messier 78. 2015. Disponível em: https://www.messier-objects.com/messier-78/. Acesso em: 2 nov. 2022.

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação Orion: conformação, constelações vizinhas, principais estrelas e localização. Boston Stellarium.org, 2022. Disponível em: https://stellarium.org/pt_BR/.Stellarium Astronomy Software

STOYAN, Ronald; BINNEWIES, Stefan; FRIEDRICH, Susanne; SCHROEDER, Klaus-Peter. M 78. Em: Atlas of the Messier Objects Highlights of the Deep Sky. New York: Cambridge University Press, 2008. p. 269–71. ISBN: 978-0-511-42329-1. Acesso em: 20 nov. 2022.

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