Messier 8 – Nebulosa da Lagoa
M 8 é uma nebulosa
que se localiza na constelação Sagittarius (Sagitário). Assim, serão
apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.
Para entender a origem de Sagitário e sua conformação, é preciso compreender a influência das mitologias nas denominações celestes. A constelação é representada como um centauro, uma criatura mítica com a parte inferior como a de um cavalo com quatro patas e, a superior, com o torso e a cabeça humanas, com uma capa atada ao pescoço e empunhando um arco e flecha (Figura 01), apontada para a constelação vizinha de Escorpião (Scorpius) (Figura 02). Sagittarius é uma constelação de origem suméria, representando o deus da guerra e da caça, concebido como um arqueiro centauro com asas. Posteriormente, os gregos teriam adotado o centauro, sem as asas (RIDPATH, 2018). Para Eratóstenes, que nós conhecemos como aquele que calculou a circunferência da Terra em tempos idos, tratava-se de Crotus, filho de Eupheme, a enfermeira das musas, e não um centauro, pois este não utilizava arcos, além de possuir uma cauda de sátiro (uma mistura de corpo de homem e bode) (ERATÓSTENES, 1999). Alguns acreditam, erroneamente, que Sagitário representa Quíron, um centauro sábio e erudito, porém ele na verdade é representado na constelação Centaurus. Hyginus, escritor romano, disse que há um círculo de estrelas aos pés de Sagittarius “jogado como por uma pessoa em um jogo”, se referindo à constelação Corona Australis (Figura 02) (RIDPATH, 2018).
Sagittarius pode ser vista em latitudes entre + 55° e -90°, tendo como constelações vizinhas Aquila, Scutum, Ophiucus, Serpens, Scorpius, Telescopium, Corona Australis, Microscopium e Capricornus (CONSTELLATION GUIDE, 2020)(Figura 3).
Oficialmente, a constelação recebe a designação Sagittarius, a abreviatura Sgr e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Sagittarii. As estrelas principais de Sagittarius são: Rukbat (α Sagittarii ou α Sgr), β1 Sgr e β2 Sgr (dupla ótica), Alnasl (γ Sagittarii ou γ Sgr), Kaus Media (δ Sagittarii ou δ Sgr), Kaus Australis (ε Sagittarii ou ε Sgr), Kaus Borealis (λ Sagittarii ou λ Sgr), Nunki (σ Sagittarii ou σ Sgr) e μ Sagittari ou μ Sgr e (Figura 4) (RÉ; ALMEIDA, 2000)(CONSTELLATION GUIDE, 2020).
É também nesta constelação que se localiza Messier 8, denominada como Nebulosa da Lagoa (Figura 5) e como NGC 6523 no New General Catalog.
A Nebulosa da Lagoa é uma grande nuvem interestelar, isto é, cheia de gás e poeira. É classificada como nebulosa de emissão e região HII. Foi descoberta pelo astrônomo italiano Giovanni Battista Hodierna em 1654 e observada por Charles Messier em 1764. Messier 8 possui magnitude aparente de 6.0 e está a uma distância de 4.100 anos-luz da Terra. O tamanho aparente da nebulosa é cerca de três vezes o tamanho da Lua cheia, cobrindo uma área de 90’ por 40’ de arco, o que corresponde a um diâmetro real de 110 por 50 anos-luz (MESSIER OBJECTS, 2015). Messier 8 possui muitas nuvens escuras de poeira densa conhecidas como Glóbulos de Bok, os quais estão formando novas estrelas. Os glóbulos mais proeminentes foram catalogados pelo astrônomo americano Edward Emerson Barnard como Barnard 88 (B88), Barnard 89 (B89) e Barnard 296 (B296). Está relacionada a dois outros objetos: a Nebulosa da Ampulheta e NGC 6530 (CONSTELLATION GUIDE, 2014).
A Nebulosa da Ampulheta[1] fica ao centro de Messier 8, sendo conhecida por ser a região mais brilhante e formadora de estrelas descoberta por John Herschel. A origem desse brilho advém da excitação de estrelas jovens e muito quentes. A estrela quente Herschel 36 (mag 9.5, classe espectral O7) é quem ilumina a região da Ampulheta. Com Herschel 36, a estrela 9 Sagittarii (mag 5.97, classe espectral O5) também contribui muito com a radiação que faz com que a nebulosa brilhe. Já NGC 6530 refere-se a um jovem aglomerado aberto fracamente concentrado em direção ao seu centro, contendo de 50 a 100 estrelas e provavelmente está situado em frente à Nebulosa da Lagoa (FROMMERT; KRONBERG, 2007). É formado com material de M8, possuindo magnitude visual de 4.6 cobrindo uma área de 14’ de arco no céu, estando centrado na parte oriental da nebulosa. Sua estrela mais brilhante é uma estrela quente O5 de mag 6.9 com idade estimada em 2 milhões de anos (FROMMERT; KRONBERG, 2007). O nome da Nebulosa da Lagoa tem sua origem na grande faixa de poeira em forma de lagoa vista à esquerda do centro do aglomerado (MESSIER OBJECTS, 2015).
Para observar a Nebulosa da Lagoa, localize primeiramente Kaus Borealis (Lambda Sagittarii) na constelação Sagitário ou, se souber reconhecer o asterismo de Bule, procure pela estrela que marca o topo do Bule. Messier 8 pode ser encontrado a cerca de 5 graus a oeste de Kaus Borealis (Lambda Sagittarii) (Figura 6). Com a magnitude aparente de 6.0, a Nebulosa da Lagoa é pouco visível a olho nu se as condições do céu não estiverem excepcionalmente boas. Quando observada através de um telescópio ou binóculos, a nebulosa possui coloração acinzentada, mas utilizando fotos de maior exposição revelarão uma cor rosada (MESSIER OBJECTS, 2015).
Utilizando binóculos, a Nebulosa da Lagoa aparecerá como uma mancha ovalada com um núcleo brilhante visível e um aglomerado estelar sobreposto a ela. Pequenos telescópios revelarão duas regiões distintas separadas por uma faixa escura de poeira. Já os telescópios de 200mm de abertura ou mais mostrarão faixas mais escuras pela região central, um núcleo mais brilhante, nós e outros detalhes da nebulosa. Contudo, para visualizar toda a Nebulosa da Lagoa, é melhor utilizar baixa ampliação, pois é um objeto excepcionalmente grande(MESSIER OBJECTS, 2015).
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[1] Existe outra nebulosa com este mesmo nome, porém se localiza na constelação da Mosca.
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Referências:
CONSTELLATION GUIDE. Lagoon Nebula - Messier 8 (M8). 2014. Disponível em: https://www.constellation-guide.com/lagoon-nebula-messier-8/. Acesso em: 25 set. 2022.
CONSTELLATION
GUIDE. Sagittarius Constellation: Facts, Mythology, Stars, Location, Star
Map. Constelattion Guide, 2020. Disponível em:
https://www.constellation-guide.com/constellation-list/sagittarius-constellation/.
Acesso em: 22 jul. 2020.
ERATÓSTENES. Mitología del Firmamento
(Catasterimos). Madrid: Alianza Editorial, 1999. Disponível em:
https://www.alianzaeditorial.es/libro/clasicos-de-grecia-y-roma/mitologia-del-firmamento-eratostenes-9788491043836/.
Acesso em: 30 maio. 2020.
ESO/S. GUISARD/S. BRUNIER. The GigaGalaxy Zoom
composite. 2009. Disponível em:
https://www.eso.org/public/images/eso0936b/. Acesso em: 25 set. 2022.
FROMMERT, Hartmut; KRONBERG, Christine. Messier
Object 8. 2007. Disponível em: https://www.messier.seds.org/m/m008.html.
Acesso em: 25 set. 2022.
MESSIER
OBJECTS. Messier 8: Lagoon Nebula. 2015. Disponível em:
https://www.messier-objects.com/messier-8-lagoon-nebula/. Acesso em: 25 set.
2022.
RÉ, Pedro; ALMEIDA, Guilherme De. Observar o céu
profundo. Lisboa: Plátano, 2000.
RIDPATH, Ian. Sagittarius. Em: Star Tales.
2a. ed. Cambridge, MA: The
Lutterworth Press, 2018. p. 234–237. . Acesso em: 28 maio. 2022.
STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação de Sagittarius. Boston, 2020. Disponível em: https://stellarium.org/pt/. Acesso em: 25 jul. 2020.Stellarium.