Largue o cel e olhe para o céu #33

Messier 22


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Messier 22 é um aglomerado globular e se localiza na constelação Sagittarius (Sagitário). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.

Para entender a origem de Sagitário e sua conformação, é preciso compreender a influência das mitologias nas denominações celestes. A constelação é representada como um centauro, uma criatura mítica com a parte inferior como a de um cavalo com quatro patas e, a superior, com o torso e a cabeça humanas, com uma capa atada ao pescoço e empunhando um arco e flecha (Figura 1), apontada para a constelação vizinha de Escorpião (Scorpius) (Figura 2). Sagittarius é uma constelação de origem suméria, representando o deus da guerra e da caça, concebido como um arqueiro centauro com asas. Posteriormente, os gregos teriam adotado o centauro, sem as asas (RIDPATH, 2018). Para Eratóstenes, que nós conhecemos como aquele que calculou a circunferência da Terra em tempos idos, tratava-se de Crotus, filho de Eupheme, a enfermeira das musas, e não um centauro, pois este não utilizava arcos, além de possuir uma cauda de sátiro (uma mistura de corpo de homem e bode) (ERATÓSTENES, 1999). Alguns acreditam, erroneamente, que Sagitário representa Quíron, um centauro sábio e erudito, porém ele na verdade é representado na constelação Centaurus. Hyginus, escritor romano, disse haver um círculo de estrelas aos pés de Sagittarius “jogado como por uma pessoa em um jogo”, se referindo à constelação Corona Australis (Figura 2) (RIDPATH, 2018).

Figura 1 - Constelação de Sagittarius conforme visualizada no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

Figura 2 - Constelação de Sagittarius, Scorpius e Corona Australis, conforme visualizadas no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

Sagittarius pode ser vista em latitudes entre + 55° e -90°, tendo como constelações vizinhas Aquila, Scutum, Ophiucus, Serpens, Scorpius, Telescopium, Corona Australis, Microscopium e Capricornus (CONSTELLATION GUIDE, 2020)(Figura 3).

Figura 3 - Constelações de Aquila, Scutum, Ophiucus, Serpens, Scorpius, Telescopium, Corona Australis, Microscopium e Capricornus, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

Oficialmente, a constelação recebe a designação Sagittarius, a abreviatura Sgr e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Sagittarii. As estrelas principais de Sagittarius são: Rukbat (α Sagittarii ou α Sgr), β1 Sgr e β2 Sgr (dupla ótica), Alnasl (γ Sagittarii ou γ Sgr), Kaus Media (δ Sagittarii ou δ Sgr), Kaus Australis (ε Sagittarii ou ε Sgr),  Kaus Borealis (λ Sagittarii ou λ Sgr), Nunki (σ Sagittarii ou σ Sgr) e μ Sagittari ou μ Sgr e (Figura 4) (RÉ; ALMEIDA, 2000)(CONSTELLATION GUIDE, 2020).

Figura 4 - Constelação de Sagittarius conforme visualizada no software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

É também nesta constelação que se localiza M22, denominada no New General Catalog como NGC 6656 (Figura 5).
Figura 5 – Messier 22. Fonte: (ESA/HUBBLE & NASA, 2015).

O aglomerado se encontra apenas a 1° da eclíptica sendo fácil de ser visto quando os planetas se aproximam dele.  M22 foi descoberto pelo astrônomo amador alemão Abraham Ilhe em 1665, justamente quando ele observava o planeta Saturno (MESSIER OBJECTS, 2015). Com o formato levemente oval, alongado em PA 25° (STOYAN et al., 2008) e magnitude aparente igual a +5.1, é um dos 150 aglomerados globulares da Via Láctea mais próximos de nós, distando 10.600 anos-luz da Terra. Possui idade estimada de 12 bilhões de anos, ocupando uma área de 32’ de arco, com diâmetro de 100 anos-luz, ligeiramente maior que a Lua Cheia. Está recuando de nós à velocidade de 149 km/s. A massa do aglomerado equivale a 500.000 massas solares, com 83.000 estrelas (MESSIER OBJECTS, 2015), sendo pelo menos 78 delas variáveis (STOYAN et al., 2008) e as mais brilhantes de 11ª magnitude. Além das estrelas, existem dois buracos negros conhecidos como M22-VLA1 e M22-VLA2. Cada um deles contém uma estrela companheira da qual lhe retiram matéria. Também abriga uma nebulosa planetária denominada GJJC1 ou IRAS 18333-2357, que se localiza a 1’ de arco ao sul do centro de M22 (MESSIER OBJECTS, 2015), com uma estrela central de magnitude +14.3. A magnitude aparente da nebulosa é igual a +15.0 e suas dimensões são 10” x 7”. Um possível evento de microlente gravitacional foi observado pelo Hubble Space Telescope (HST) em 1999 (STOYAN et al., 2008).

Este aglomerado globular é um dos mais fáceis de ser localizado, sendo visível inclusive a olho nu, desde que as condições do céu sejam boas (preferencialmente escuro, longe de centros urbanos ou fontes de luz). Na constelação de Sagitário, localize a estrela Kaus Borealis. M22 está a 2,5° a nordeste dessa estrela (Figura 6) (MESSIER OBJECTS, 2015). Ao utilizar binóculos, como os de 7x50 ou 10x50, o aglomerado aparecerá como uma bola nebulosa, sem revelar nenhum detalhe que seja perceptível. Com um telescópio de 150mm, com aumentos altos, são resolvidas as estrelas mais brilhantes de magnitude +11, as mais externas e o núcleo do aglomerado que aparecerá um pouco mais brilhante. Com telescópios maiores, a partir de 300mm, M22 surge impressionantemente com milhares de estrelas visíveis (FREESTARCHARTS.COM, [s.d.]).

Figura 6 - Localização de Messier 22 na constelação de Sagitário. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

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Referências:

CONSTELLATION GUIDE. Sagittarius Constellation: Facts, Mythology, Stars, Location, Star Map. Constelattion Guide, 2020. Disponível em: https://www.constellation-guide.com/constellation-list/sagittarius-constellation/. Acesso em: 22 jul. 2020.

ERATÓSTENES. Mitología del Firmamento (Catasterimos). Madrid: Alianza Editorial, 1999. Disponível em: https://www.alianzaeditorial.es/libro/clasicos-de-grecia-y-roma/mitologia-del-firmamento-eratostenes-9788491043836/. Acesso em: 30 maio. 2020.

ESA/HUBBLE & NASA. The crammed centre of Messier 22. 2015. Disponível em: https://www.spacetelescope.org/images/potw1514a/. Acesso em: 15 jul. 2022. 

FREESTARCHARTS.COM. Messier 22 - M22 - Sagittarius Cluster (Globular Cluster). [s.d.]. Disponível em: https://freestarcharts.com/messier-22. Acesso em: 15 jul. 2022. 

MESSIER OBJECTS. Messier 22: Sagittarius Cluster. 2015. Disponível em: https://www.messier-objects.com/messier-22-sagittarius-cluster/. Acesso em: 15 jul. 2022. 

RÉ, Pedro; ALMEIDA, Guilherme De. Observar o céu profundo. Lisboa: Plátano, 2000. 

RIDPATH, Ian. Sagittarius. Em: Star Tales. 2a. ed. Cambridge, MA: The Lutterworth Press, 2018. p. 234–237. Acesso em: 28 maio. 2022.

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação de Sagittarius. Boston, 2020. Disponível em: https://stellarium.org/pt/. Acesso em: 25 jul. 2020.Stellarium

STOYAN, Ronald; BINNEWIES, Stefan; FRIEDRICH, Susanne; SCHROEDER, Klaus-Peter. M 22. Em: Atlas of the Messier Objects Highlights of the Deep Sky. New York: Cambridge University Press, 2008. p. 124–125. Acesso em: 22 jul. 2022.
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