Largue o cel e olhe para o céu #23

M20 - Nebulosa Trífida

Aléxia Lage



Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #022 - M20 - Nebulosa Trífida.

M20 é conhecida como a Nebulosa Trífida e se localiza na constelação Sagittarius (Sagitário). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.

Para entender a origem de Sagitário e sua conformação, é preciso compreender a influência das mitologias nas denominações celestes. A constelação é representada como um centauro, uma criatura mítica com a parte inferior como a de um cavalo com quatro patas e, a superior, com o torso e a cabeça humanas, com uma capa atada ao pescoço e empunhando um arco e flecha (Figura 01), apontada para a constelação vizinha de Escorpião (Scorpius) (Figura 02). Sagittarius é uma constelação de origem suméria, representando o deus da guerra e da caça, concebido como um arqueiro centauro com asas. Posteriormente, os gregos teriam adotado o centauro, sem as asas (RIDPATH, 2018). Para Eratóstenes, que nós conhecemos como aquele que calculou a circunferência da Terra em tempos idos, tratava-se de Crotus, filho de Eupheme, a enfermeira das musas, e não um centauro, pois este não utilizava arcos, além de possuir uma cauda de sátiro (uma mistura de corpo de homem e bode) (ERATÓSTENES, 1999). Alguns acreditam, erroneamente, que Sagitário representa Quíron, um centauro sábio e erudito, porém ele na verdade é representado na constelação Centaurus. Hyginus, escritor romano, disse que há um círculo de estrelas aos pés de Sagittarius “jogado como por uma pessoa em um jogo”, se referindo à constelação Corona Australis (Figura 02) (RIDPATH, 2018).

Figura 1 - Constelação de Sagittarius conforme visualizada no software Stellarium.
Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).


Figura 2 - Constelação de Sagittarius, Scorpius e Corona Australis, conforme visualizadas no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)


Sagittarius pode ser vista em latitudes entre + 55° e -90°, tendo como constelações vizinhas Aquila, Scutum, Ophiucus, Serpens, Scorpius, Telescopium, Corona Australis, Microscopium e Capricornus (CONSTELLATION GUIDE, 2020) (Figura 3).


Figura 3 - Constelações de Aquila, Scutum, Ophiucus, Serpens, Scorpius, Telescopium, Corona Australis, Microscopium e Capricornus, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).


Oficialmente, a constelação recebe a designação Sagittarius, a abreviatura Sgr e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Sagittarii. As estrelas principais de Sagittarius são: Rukbat (α Sagittarii ou α Sgr), β1 Sgr e β2 Sgr (dupla ótica), Alnasl (γ Sagittarii ou γ Sgr), Kaus Media (δ Sagittarii ou δ Sgr), Kaus Australis (ε Sagittarii ou ε Sgr), Kaus Borealis (λ Sagittarii ou λ Sgr), Nunki (σ Sagittarii ou σ Sgr) e μ Sagittari ou μ Sgr e (Figura 4) (RÉ; ALMEIDA, 2000) (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).

Figura 4 - Constelação de Sagittarius conforme visualizada no software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

É também nesta constelação que se localiza M20, a Nebulosa Trífida, também denominada no New General Catalog como NGC 6514 (Figura 5).

Figura 5 - Nebulosa Trífida. Fonte: (TODD BOROSON/NOIRLAB/NSF/AURA, 2020).

Trífida, segundo o Grande Dicionário Houaiss, é uma palavra que significa “que tem três partes ou que pode ser desdobrado em três partes” (“Trífida”, 2012). Esta nebulosa aparenta estar dividida em três partes, por isso então o seu nome.

M20, na verdade, é composta por vários objetos do céu profundo: uma nebulosa de emissão, uma nebulosa de reflexão, uma nebulosa escura e um aglomerado estelar aberto. Ao visualizar-se esta nebulosa, faz-se necessário explicar com um pouco mais de detalhe de que se tratam esses objetos que a compõem. A cor avermelhada que se vê na M20 está relacionada com a nebulosa de emissão, composta por nuvens gasosas de hidrogênio muito aquecidas, onde estão se formando novas estrelas. Essas nuvens são energizadas pela luz ultravioleta de estrelas adjacentes, ou seja, elas estão emitindo luz devido à ionização do gás nelas existentes. Já a cor azulada se deve às nuvens de poeiras interestelares, que apenas refletem a luz de estrelas próximas, e por isso foi caracterizada como uma nebulosa de reflexão. São também regiões formadoras de estrelas. A nebulosa escura consiste de nuvens de poeira absorventes e bloqueantes da luz visível dos objetos que se localizam atrás dela. A aparente divisão em três partes de M20 se deve a esta nebulosa, que é conhecida pela denominação Barnard 85 (B85). E, o aglomerado aberto localizado no centro da Nebulosa Trífida, conhecido como C1759-230, que é envolvido pela nebulosa avermelhada de emissão (MESSIER OBJECTS, 2015).

A Nebulosa Trífida foi descoberta por Charles Messier em 1764, sendo registrada como o vigésimo objeto em seu catálogo. Edward Emerson Barnard, por sua vez, publicou em seu primeiro catálogo a nebulosa escura, identificando-a como B85, em 1919. Com diâmetro linear de mais de 40 anos-luz, sua idade é estimada em 300 mil anos. O observatório espacial Spitzer descobriu, em 2005, 30 estrelas embrionárias e 200 estrelas formadas recentemente. Acredita-se que as estrelas muito jovens e massivas já tenham se tornado em supernovas, as quais podem ser responsáveis pelas faixas de poeira observadas em M20 (MESSIER OBJECTS, 2015).

Para localizar M20, basta utilizar o asterismo Bule de Chá, formado por estrelas da constelação de Sagitário. A Nebulosa Trífida se localiza cerca de 6° da estrela Kaus Borealis (λ Sgr) (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020) (Figura 6).

Figura 6 - Localização da Nebulosa Trífida em relação à estrela Kaus Borealis (λ Sgr). Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

Utilizando binóculos, M20 aparenta ser um fragmento difuso de formato circular. Com magnitude aparente de 6.3, M20 é muito brilhante, mesmo quando visto de um pequeno telescópio (80mm), revelando suas faixas de poeira escuras. Já em telescópios maiores (150mm), o formato irregular de M20 já se evidencia, assim como as três faixas escuras que surgem a partir de sua região central (MESSIER OBJECTS, 2015).

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