Nebulosa Saco de Carvão
Saco de Carvão é uma nebulosa escura que se localiza na constelação Crux (Cruzeiro do Sul). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.
Crux já era conhecida pelos gregos, porém fazia parte originalmente da constelação Centaurus. O astrônomo Ptolomeu também seguiu esta linha em seu tratado Almagesto. A partir de 400 A.C., a constelação já não era mais visível em grande parte da Europa, devido à precessão dos equinócios, ficando sempre abaixo da linha do horizonte. Crux somente foi redescoberta entre os séculos XV e XVI, quando ocorreram as grandes navegações. Há uma controvérsia sobre quem separou Crux de Centaurus. Para alguns, isso ocorreu em 1679, pelo astrônomo francês Augustin Royler. Para outros, foi o astrônomo holandês Petrus Plancius em 1613 (CONSTELLATION GUIDE, 2021).
Cruzeiro do Sul (Figura 1) é a menor das 88 constelações oficiais definidas pela União Astronômica Internacional (IAU), sendo uma das mais reconhecidas no hemisfério Sul. Diversos países a representam em suas bandeiras, como a Austrália, Brasil, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné e Samoa. O ESO (European Southern Observatory), inclusive, a utiliza em sua logomarca. Existem também diversos registros de povos e lendas envolvendo essa constelação, incluindo os incas, os aborígenes australianos e os maoris, por exemplo.
Crux pode ser vista nas latitudes entre +20° e -90°, tendo como constelações vizinhas Centaurus e Musca (Figura 2) (CONSTELLATION GUIDE, 2021).
Oficialmente, a constelação recebeu a designação Crux, a abreviatura Cru e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Crucis. As estrelas principais de Crux são (Figura 3): Acrux (IAU) ou Estrela de Magalhães (Alpha Crucis ou α Cru), Mimosa (Becrux ou Beta Crucis ou β Cru), Gacrux (IAU) ou Rubídea (Gamma Crucis ou γ Cru), Imai (IAU) ou Pálida (Delta Crucis ou δ Cru), Zeta Crucis (ζ Cru), Ginan (IAU) ou Intrometida (Epsilon Crucis ou ε Cru ), Lambda Crucis (λ Cru), Iota Crucis (ι Cru) e BZ Crucis (INTERNATIONAL ASTRONOMICAL UNION (IAU), 2018).
Com dimensão aparente de 7°x5°, cuja abrangência se estende, em parte, para as constelações Centaurus e Musca (Figura 4), a Nebulosa Saco do Carvão (Figura 5) está distante cerca de 600 anos-luz, na constelação Crux (CONSTELLATION GUIDE, 2015). É também conhecida como Nuvem de Magalhães Negra, devido ao fato de ser uma mancha escura, em uma evidente referência contrastante com a Grande e Pequena Nuvem de Magalhães. A mancha, na verdade, consiste de duas nuvens espessas sobrepostas, de poeira interestelar opaca (CONSTELLATION GUIDE, 2015), possuindo camadas de água congelada, nitrogênio, monóxido de carbono e outras moléculas orgânicas simples (ESO, 2015), obscurecendo a luz das estrelas que se encontram por detrás dela. Esse material que compõe a nebulosa favorece a formação de novas estrelas e, sendo assim, ela não ficará eternamente escura (CONSTELLATION GUIDE, 2015). As eventuais estrelas que podem ser visualizadas na nebulosa estão à frente dela e muito mais próximas de nós (PLOTNER, 2017). Consta que o navegador e explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón tenha sido o seu primeiro observador, em 1499 (ESO; BRUNIER, 2009).
Saco de Carvão é distinguível como uma grande mancha escura na porção sul da constelação Crux, sendo conhecida desde tempos pré-históricos. Facilmente visível para observadores do hemisfério Sul, se localiza entre as estrelas Acrux e Mimosa da constelação Crux (Figuras 4 e 6). Para vê-la a olho nu, são necessárias boas condições do céu, preferencialmente longe da poluição luminosa. Vale a pena utilizar binóculos e até mesmo telescópio de baixa potência para observá-la mais detalhadamente (VENTRUDO, 2010).
O texto foi útil para você? Agradecemos a todos aqueles que puderem deixar seus comentários com críticas e sugestões para a coluna e o material por ela disponibilizado.
Referências:
CONSTELLATION GUIDE. Coalsack Nebula. [S. l.], 2015. Disponível em: https://www.constellation-guide.com/coalsack-nebula/. Acesso em: 24 mar. 2021.
CONSTELLATION GUIDE. Crux Constellation (the Southern Cross): Stars, Myth, Facts... [S. l.], 2021. Disponível em: https://www.constellation-guide.com/constellation-list/crux-constellation/. Acesso em: 24 mar. 2021.
ESO. A cosmic sackful of black coal: Part of the Coalsack Nebula in close-up. [S. l.], 2015. Disponível em: https://www.sciencedaily.com/releases/2015/10/151014084822.htm. Acesso em: 24 mar. 2021.
ESO; BRUNIER, S. The Coalsack and the Southern Cross. [S. l.], 2009. Disponível em: https://www.eso.org/public/images/b06/. Acesso em: 24 mar. 2021.
ESO; HORÁLEK, P. Gems of southern sky. [S. l.], 2019. Disponível em: https://www.eso.org/public/images/2019_07_03_SouthernCross_SSpikes_Fin-CC/. Acesso em: 24 mar. 2021.
INTERNATIONAL ASTRONOMICAL UNION (IAU). As Constelações. [S. l.], 2018. Disponível em: https://www.iau.org/public/themes/constellations/brazilian-portuguese/. Acesso em: 28 fev. 2021.
PLOTNER, Tammy. The Crux Constellation. [S. l.], 2017. Disponível em: https://www.universetoday.com/20563/crux-constellation/. Acesso em: 28 mar. 2021.
STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação Crux, suas estrelas principais, vizinhança e localização da Nebulosa Saco de Carvão. Versão 0.20.4. Boston: Stellarium.org, 2020. Stellarium.
VENTRUDO, Brian. The Coalsack Nebula. [S. l.], 2010. Disponível em: https://oneminuteastronomer.com/2036/coalsack-nebula/. Acesso em: 25 mar. 2021.