O Imperador Astrônomo do Brasil.

Nelson Alberto Soares Travnik

Na data de 2 de dezembro, os astrônomos brasileiros comemoram o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo. A grata efeméride assinala o nascimento de D. Pedro II, numa homenagem ao governante que mais fez pela astronomia no País.  

D. Pedro II foi um apaixonado pelas ciências. Em sua residência oficial – o Paço de São Cristóvão, que abriga o Museu Nacional alvo de um devastador incêndio em 02/09/2018 – construiu no telhado um observatório e possuía um gabinete com biblioteca, instrumentos astronômicos e espaços para guardar suas coleções particulares de numismática, amostras botânicas e mineralógicas.  Gostava de receber alunos para ensinar astronomia e aprender a observar o céu. Dizia “se eu não fosse imperador desejaria ser professor. Não conheço missão maior que a de dirigir inteligências dos jovens e preparar os homens do futuro“.   Acredita-se que tamanha devoção ao céu, veio através do litógrafo e artista francês Louis Boulanger (1798-1874) e de frei Pedro da Santa Mariana (1782-1864). 

Em todas suas atividades, não escondia sua predileção pela astronomia. Tinha um quarto privativo no Imperial Observatório para descansar após horas de observação. O Observatório havia sido criado por seu pai, D. Pedro I. Astrônomos que o conheciam eram unânimes em reconhecer que ele conhecia astronomia a fundo. Modernizou o Observatório doando vários instrumentos seus bem como importando um circulo mural, uma pêndula sideral, uma luneta meridiana além de aparelhos magnéticos e meteorológicos. Mas faltavam astrônomos de renome e para tanto convidou em 1870 o francês Emmanuel Liais (1826-1912) para assumir a direção do Observatório. Emmanuel Liais ficou no cargo até 1884 sendo substituído pelo belga Louis Ferdinand Cruls (1848-1908). O apoio constante de D. Pedro II a Liais e Cruls, produziram trabalhos de investigação de alto nível reconhecidos internacionalmente. Por outro lado, o imperador mantinha contato estreito com grandes nomes da astronomia mundial entre eles, Camille Flammarion (1842-1925) que o convidou para inaugurarem juntos o seu Observatório de Juvisy em 29/07/1887. 

D. Pedro II, foi o primeiro brasileiro a figurar como sócio da Sociedade Astronômica da França bem com era também Sócio Honorário da Academia de Ciências de Paris, tendo recebido o título de Magnânimo pela Academia Francesa por jamais ter alimentado dentro de si o ódio, a vingança e a perseguição. Definido pelo estadista inglês Willian Gladstone (1809-1898) como “Modelo para todos os soberanos do mundo”, dominava fluentemente sete idiomas e possuía conhecimentos enciclopédicos. Em suas freqüentes visitas a Europa, fazia questão de visitar alguns observatórios procurando se inteirar com as pesquisas e progressos recentes da astronomia. Estava sempre envolvido em novas idéias e descobertas importantes para o Brasil. 

Como astrônomo amador, D. Pedro II realizou inúmeras observações importantes dentre as quais se destacam a que fez junto ao astrônomo Louis  Cruls da primeira análise espectroscópica de um cometa usando equipamento fotográfico pela primeira vez; observação do eclipse solar de 1857 e a rara passagem de Vênus pelo disco solar em 06/12/1882. A astronomia foi a ponte que reuniu três grandes nomes: Victor Hugo, Camille Flammarion e D. Pedro II. 

Nosso imperador causou deslumbramentos em intelectuais, escritores e compositores como Camille Saint Sãens e Richard Wagner Este último, quando da inauguração do seu Teatro, o Festspielhaus em 1876, convidou D. Pedro II que compareceu. Em 2011 visitei o Teatro e me foi mostrado o camarote com a cadeira onde ele se sentou. A música também dominava o universo de D. Pedro II reconhecendo o talento do campineiro Antonio Carlos Gomes (1836-1896), patrocinou sua ida a Milão na Itália para estudos e aperfeiçoamento. O resultado todos conhecem: o “tonico de Campinas” como era conhecido, tornou-se o maior compositor de óperas das Américas!. 

Havia encomendado na Inglaterra um grande telescópio que chegou ao Rio justamente por ocasião da Proclamação da República e os republicanos não hesitaram: mandaram o telescópio de volta! Já no exílio, o astrônomo Pierre Charlois (1864-1910) do Observatório de Nice, batizou o asteroide nº 291 por ele descoberto com o nome de Brasília em homenagem a D. Pedro II. 

Exemplo de honestidade, dignidade e amor à pátria que falta aos homens de hoje, num modesto hotel de Paris com apenas 66 anos, devido a uma pneumonia aguda do pulmão, faleceu aos 20 minutos do dia 05/12/1891. No caixão foi vestido com a farda de General do Exército Brasileiro e coberto com a bandeira imperial. Sua cabeça repousou sobre uma almofada com um pouco de terra do Brasil. Com Honras de Chefe de Estado, o enterro foi acompanhado por uma multidão estimada em 250.000 pessoas, superior ao de Victor Hugo! Após ser velado na igreja da Madalena, seus restos mortais seguiram para Lisboa onde ficaria até 1921 no Panteão dos Braganças. Neste ano foram trazidos ao Brasil pelo encouraçado São Paulo e depositados na Catedral do Rio e Janeiro. Em 1925 vieram para a Catedral de Petrópolis, na ala destinada a Família Imperial. Diversos historiadores atribuem a D. Pedro II o título de “O Maior dos Brasileiros” e sua devoção ao céu certamente o levou ao encontro das estrelas que tanto amou.


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