Largue o cel e olhe para o céu #10

Galáxia do Cata-vento do Sul

Aléxia Lage


Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #009 – Galáxia do Cata-vento do Sul


M83 é uma galáxia espiral barrada, conhecida como Galáxia do Cata-vento do Sul e se localiza na constelação de Hydra (Hidra). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.

Para entender a origem do nome Hydra e sua conformação, é preciso compreender a influência das mitologias greco-romana nas denominações celestes. Existem duas versões de lendas relacionadas à Hydra, a cobra d’água. A primeira é relacionada a uma criatura de nove cabeças, sendo que a localizada no meio seria imortal. No céu, porém, Hydra é ilustrada apenas com uma delas, talvez uma referência àquela cabeça que nunca morre (Figura 1). Ela era tão venenosa que sua respiração e o cheiro do seu rastro, caso aspirados por alguém, levariam a pessoa à morte. Hércules, filho de uma mortal com Zeus, o deus dos deuses, foi ao pântano onde ela vivia, cortou a sua cabeça imortal, e a matou. Isso ficou conhecido como um dos doze trabalhos de Hércules. Entretanto, enquanto ele investia contra a cobra, um caranguejo emergiu do pântano e atacou um dos seus pés, mas ele conseguiu esmagá-lo. Esse animal seria representado na constelação de Câncer, que está próxima à Hydra (RIDPATH, 2018).

Em outra versão da lenda, a cobra d’água teria impedido um corvo de trazer água em um copo, conforme pedido por Apolo, também filho de Zeus. Entretanto, o corvo mentiu, pois na verdade, ele parou no caminho para comer figos e, na volta, o pássaro alegou que Hydra o teria impedido de buscar água. Apolo percebeu a mentira e o castigou colocando-o no céu (constelação do Corvo) próximo à constelação de Hydra, que o impede de beber fora do copo (constelação de Crater) (Figura 2) (CONSTELLATION GUIDE, 2020).

Figura 1 - Constelação de Hydra conforme visualizada no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

Hydra pode ser vista em latitudes entre +54° e -83°, tendo como constelações vizinhas Libra, Virgo, Corvus, Crater, Leo, Sextans, Cancer, Canis Minor, Monoceros, Puppis, Pyxis, Antlia, Centaurus e Lupus (CONSTELLATION GUIDE, 2020)(Figura 2). 

Figura 2 - Constelações de Hydra, Libra, Virgo, Corvus, Crater, Leo, Sextans, Cancer, Canis Minor, Monoceros, Puppis, Pyxis, Antlia, Centaurus e Lupus, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

Oficialmente, a constelação recebe a designação Hydra, a abreviatura Hya e as estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pelo genitivo Hydrae. As estrelas principais de Hydra são: Alphard (α Hydrae ou α Hya), β Hydrae ou β Hya, γ Hydrae ou γ Hya, δ Hydrae ou δ Hya, ε Hydrae ou ε Hya, ζ Hydrae ou ζ Hya, x Hydrae ou x Hya, ν Hydrae ou ν Hya, μ Hydrae ou μ Hya e l Hydrae ou l Hya  (Figura 3) (RÉ; DE ALMEIDA, 2000) (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020). 

Figura 3 - Constelação de Hydra conforme visualizada no software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

É também nesta constelação que se localiza M83, uma galáxia que apresenta um padrão de estrelas em forma de barra na sua parte central, sendo por isso categorizada como galáxia espiral barrada (Figura 4). O nome Cata-vento do Sul se deve ao fato dela ser muito parecida com outra galáxia do Cata-vento (M101), que se localiza na constelação da Ursa Maior (CONSTELLATION GUIDE, 2014). 

Figura 4 – M83 – Galáxia do Cata-vento do Sul - Crédito da foto: ESO/IDA/Danish 1.5 m/R. Gendler, S. Guisard (www.eso.org/~sguisard) and C. Thöne  – License: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ (ESO/IDA/DANISH 1.5 M/R. GENDLER, S. GUISARD (WWW.ESO.ORG/~SGUISARD) AND C. THÖNE, 2009)

M83, catalogado também como NGC 5236, está localizado próximo ao limite da constelação de Hydra com Centaurus (Figura 5) e foi descoberto em 1752 pelo astrônomo francês Nicolas Louis de Lacaille. Charles Messier incluiu esse DSO em seu catálogo em 1781. A galáxia contém aproximadamente 3000 aglomerados de estrelas, sendo que alguns possuem menos de 5 milhões de anos. Estende-se por uma área superior a 40 000 anos-luz e, comparada à Via Láctea, possui cerca de 40% do seu tamanho. Dista 15 milhões de anos-luz da Terra e o seu núcleo visível está descentralizado. Isso sugere que a galáxia tenha absorvido uma outra menor no passado. Além disso, foram também observadas em M83 seis supernovas (SN 1923A, SN 1945B, SN 1950B, SN 1957D, SN 1968L e SN 1983N) e posteriormente os cientistas encontraram aproximadamente 300 remanescentes de supernovas. Sabe-se ainda que NGC 5236 está tendo uma formação estelar mais rápida que a da Via Láctea, especialmente na sua região central. Em 2008, a NASA revelou que foram descobertas inúmeras estrelas de formação recente nas regiões externas da galáxia (CONSTELLATION GUIDE, 2014).

Figura 5 – Localização da Galáxia do Cata-vento do Sul na constelação de Hydra. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)

Messier 83 é visível com a ajuda de um binóculo com uma abertura de 40-50mm ou um pequeno telescópio (THE SKYLIVE.COM, 2020). Refratores de 80 milímetros mostram um núcleo brilhante rodeado por uma nebulosa difusa que abrange cerca de 1/3 do diâmetro aparente da lua cheia. Refletores de 250 milímetros mostrarão uma galáxia com braços em espiral bem formados, numerosas faixas de poeira e a barra central totalmente visível (FREESTARCHARTS.COM, [s.d.]).

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Referências:

CONSTELLATION GUIDE. Southern Pinwheel Galaxy - Messier 83. Disponível em: <https://www.constellation-guide.com/messier-83-southern-pinwheel-galaxy/>. Acesso em: 4 jul. 2020. 

CONSTELLATION GUIDE. Hydra Constellation. Disponível em: <https://www.constellation-guide.com/constellation-list/hydra-constellation/>. Acesso em: 4 jul. 2020. 

ESO/IDA/DANISH 1.5 M/R. GENDLER, S. GUISARD (WWW.ESO.ORG/~SGUISARD) AND C. THÖNE. The Southern Pinwheel. Disponível em: <https://www.eso.org/public/images/m83/>. Acesso em: 4 jul. 2020. 

FREESTARCHARTS.COM. Messier 83 - M83 - Southern Pinwheel Galaxy (Barred Spiral Galaxy). Disponível em: <https://freestarcharts.com/messier-83>. Acesso em: 4 jul. 2020. 

RÉ, P.; DE ALMEIDA, G. Observar o céu profundo. Lisboa: Plátano, 2000. 

RIDPATH, I. Star Tales. 2. ed. Cambridge: The Lutterworth Press, 2018. 

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação de Hydra. Boston: [s.n.]. 

THE SKYLIVE.COM. Messier 83 (Southern Pinwheel Galaxy). Disponível em: <https://theskylive.com/sky/deepsky/messier-83-southern-pinwheel-galaxy-object>. Acesso em: 4 jul. 2020. 

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