Galáxia do Sombrero
Aléxia Lage
Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, baixe gratuitamente a ficha que contém dados astronômicos sobre o objeto em foco, de forma que possa sempre consultá-los quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #008 – M 104 – Galáxia do Sombrero
M
104 ou NGC 4594 é uma galáxia
espiral, conhecida como Galáxia do Sombrero e se localiza na constelação
de Virgem (Virgo). Assim, serão apresentadas primeiramente informações sobre
essa constelação.
Figura 2 - Constelações de Virgo, Serpens (a parte da cabeça da serpente), Boötes, Coma Berenices, Leo, Hydra, Crater, Corvus e Libra, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha vermelha delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)
Para
entender a origem do nome Virgem e sua conformação, é preciso entender a
influência das mitologias greco-romana nas denominações celestes. O poeta grego
Hesíodo a considerava como sendo Dice, a personificação da Justiça. Ela era
filha de Zeus, o pai dos deuses, e de Têmis, a deusa-guardiã dos juramentos dos
homens e da lei. De acordo com o
mitógrafo Arato, inicialmente ela era imortal e conviveu com os homens na Terra,
que a chamavam de Justiça. Quando eles deixaram de respeitar a justiça, ela se
retirou para as montanhas. Com o decorrer do tempo, os humanos foram se
envolvendo em guerras e ela definitivamente os abandonou e subiu aos céus. Esta
constelação foi associada em outras versões com Deméter/Demetra, divindade
protetora da agricultura, porque segura uma espiga de grãos em uma de suas mãos
(Figura 1). Outros lhes consideravam Ísis (deusa egípcia), Atárgatis (deusa
síria da fertilidade) e Tyche (que representa o acaso, a fortuna, sejam eles
bons ou ruins) (CONSTELLATION
GUIDE, [s.d.]; ERATÓSTENES, 1999).
Figura 1 - Constelação de Virgem conforme visualizada no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)
Figura 1 - Constelação de Virgem conforme visualizada no software Stellarium. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)
Virgem
pode ser vista em latitudes entre +80° e -80° (CONSTELLATION GUIDE, 2020a), tendo como constelações vizinhas Serpens
(a parte da cabeça da serpente), Boötes, Coma
Berenices, Leo, Hydra, Crater, Corvus e Libra (CONSTELLATION GUIDE, [s.d.])(Figura 2).
Figura 2 - Constelações de Virgo, Serpens (a parte da cabeça da serpente), Boötes, Coma Berenices, Leo, Hydra, Crater, Corvus e Libra, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha vermelha delimita a área de cada constelação. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)
Oficialmente,
a constelação recebe a designação Virgo, a abreviatura Vir e as
estrelas pertencentes a ela podem ser referenciadas pelas letras gregas
seguidas pelo genitivo Virginis. As estrelas principais de Virgem são: Spica
(α Virginis ou α Vir), Zazijava (β Virginis ou β Vir), Porrima (γ Virginis ou γ
Vir), Minelauva (δ Virginis ou δ Vir), Vindemiatrix (ε Virginis ou ε Vir), Heze
(ζ Virginis ou ζ Vir), Kang (κ Virginis ou κ Vir), Syrma (ι Virginis ou ι Vir),
Zaniah (h
Virginis ou h
Vir), Rigilawwa (μ Virginis ou μ Vir), τ
Virginis ou τ Vir, ν Virginis ou ν Vir, e 109 Vir (Figura 3) (RÉ;
DE ALMEIDA, 2000) (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020).
Figura 3 - Constelação de Virgem conforme visualizada no
software Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)
Em Virgem, localiza-se um
dos dois pontos onde o equador celeste cruza com a eclíptica, denominado Ponto de Libra ꭥ
(Figura 4).
Figura 4 – Localização do
Ponto de Libra ꭥ na constelação de Virgem. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)
É também nesta constelação
que se localiza Sombrero, uma galáxia espiral que se parece com um chapéu
mexicano. Essa similaridade se deve ao formato que ela possui. A parte central
é composta por um bojo brilhante e esbranquiçado, cheio de bilhões de estrelas
muito antigas, responsáveis pelo brilho intenso nessa região. É cercado por faixas
grossas de poeira e gás hidrogênio, nas quais se formam as estrelas de NGC 4594,
contendo a maioria do gás molecular frio dessa galáxia e também as estrelas
mais novas e mais luminosas. Envolvendo isso tudo, acha-se um halo de
aglomerados globulares e estrelas, que aparece reluzente em imagens de luz
visível e cuja massa e tamanho são compatíveis com uma grande galáxia eclíptica,
como revelado pelas imagens do Telescópio Espacial Spitzer da NASA (Figura 5) (CONSTELLATION GUIDE, 3013b).
Figura 5 – M 104 – Galáxia do Sombrero - Crédito da foto: ESO/IDA/Danish
1.5 m/R. Gendler and J.-E. Ovaldsen – License: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ (ESO/IDA/DANISH 1.5 M/R. GENDLER AND J.-E. OVALDSEN, 2015)
M
104 está localizado próximo ao limite da constelação de Virgo com Corvus
(Figura 6) e foi descoberto em 1781 pelo astrônomo francês Pierre Méchain. Embora
Charles Messier tenha observado esse DSO, ele não o incluiu originalmente em seu catálogo. Em 1912, Vesto
Slipher, astrônomo americano do Lowell Observatory, observou que a galáxia
tinha um redshift muito
grande, o que demonstrava que ela estava fora da Via Láctea e se afastando de
nós, o que provava que o Universo está em expansão (THE PLANETS, 2020). Em 1921, o astrônomo francês Camille
Flammarion a incluiu no catálogo Messier, pois havia descoberto registros do
próprio Messier sobre essa galáxia. NGC 4594 também contém quase
2000 aglomerados globulares, entre 10 a 13 bilhões de anos de idade. Está a 29,3
milhões de anos-luz da Terra, com magnitude visual aparente de +8.98 e sua
massa é de cerca de 800 bilhões de vezes a do Sol. Ao centro de M 104 se
encontra um buraco negro supermassivo, descoberto na década de 1990 (CONSTELLATION GUIDE, 3013b; MESSIER
OBJECTS, 2015).
Figura 6 – Localização da Galáxia do Sombrero na
constelação de Virgem. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2020)
Sombrero não pode ser visualizado
a olho nu, mas pode ser observado por meio de binóculos (7x35, por exemplo) ou um
telescópio de 100mm de abertura. O bojo central da galáxia pode ser melhor visto
em um telescópio de tamanho médio, sendo que para distingui-lo é necessário
pelo menos um de 200mm. Já a faixa de poeira somente é visível em telescópios
maiores, a partir de 250mm de abertura (CONSTELLATION GUIDE, 3013b).
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EDIÇÕES ANTERIORES
Referências:
CONSTELLATION GUIDE. Constellation
List. Disponível em:
<https://www.constellation-guide.com/constellation-list/>. Acesso em: 25
abr. 2020a.
CONSTELLATION
GUIDE. Sombrero Galaxy - Messier 104. Disponível em:
<https://www.constellation-guide.com/sombrero-galaxy-messier-104/>.
Acesso em: 24 maio. 2020b.
CONSTELLATION GUIDE. Virgo Constellation: Myth,
Stars, Facts, Star Map, Location. Disponível
em: <https://www.constellation-guide.com/constellation-list/virgo-constellation/>.
Acesso em: 24 maio. 2020.
ERATÓSTENES.
Mitología del Firmamento (Catasterimos). Tradução: Guerra, Antonio
Guzmán. Madrid: Alianza Editorial, 1999.
ESO/IDA/DANISH 1.5 M/R. GENDLER AND J.-E. OVALDSEN. The
Sombrero Galaxy. Disponível
em: <https://www.eso.org/public/brazil/images/sombrero/>. Acesso em: 24
maio. 2020.
MESSIER
OBJECTS. Messier 104: Sombrero Galaxy, 10 set. 2015. Disponível em:
<https://www.messier-objects.com/messier-104-sombrero-galaxy/>. Acesso
em: 31 maio. 2020
RÉ, P.;
DE ALMEIDA, G. Observar o céu profundo. Lisboa: Plátano, 2000.
STELLARIUM
DEVELOPERS. Constelação de Virgem. Boston:
Stellarium.org, 2020. v. 0.20.1
THE PLANETS. Sombrero
Galaxy Facts.
Disponível em: <https://theplanets.org/sombrero-galaxy/>. Acesso em: 31
maio. 2020.