Jean Nicolini

Nelson Alberto Soares Travnik
nelson-travnik-@hotmail.com
Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum - SP

Seu nome está perpetuado no Observatório Municipal de Campinas, SP, na rodovia Americana-Nova Odessa, SP, no Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, 2ª edição, editora Nova Fronteira, de Ronaldo R. de Freitas Mourão e na galeria dos laureados pela Sociedade Astronômica da França.


Filiação

Jean nasceu em São Paulo, capital, a 9 de abril de 1922 e faleceu no dia 23 de julho de 1991 por volta das 13h30, quando seu Volkswagen bateu violentamente na mureta de concreto de um viaduto na cidade de Americana-SP. Foi um duro golpe para todos nós pois, apesar dos seus 69 anos, gozava de excelente saúde e disposição, ainda apto a desenvolver relevantes serviços em ambos observatórios onde trabalhava (Campinas e Americana). Jean está sepultado no Cemitério do Sub-Distrito de Souzas. Era filho de Noel Nicolini e Jeanne Cabrit, ambos de origem francesa, o que vem explicar sua identidade com a França. Sua devoção a astronomia aconteceu com a leitura dos livros de Camille Flammarion (1842-1925), o ‘Poeta do Céu”, o “Mestre de Juvisy”.

Uma vida dedicada a astronomia

Leitor voraz de história antiga e arqueologia, amante da música erudita principalmente barroca, astronomia era contudo a razão de sua existência, o Sol que banhava sua fronte. Em 15 de outubro de 1948 com 26 anos fundava em São Paulo, na Vila Olímpia o seu Observatório do Capricórnio. Mais tarde ele seria transferido para Atibaia e por fim incorporado por convênio ao Observatório Municipal de Campinas, inaugurado em 15 de janeiro de 1977. Graças ao Jean fui convidado com o endosso do prefeito Lauro P. Gonçalves, amador de astronomia, a compor a equipe do Observatório na ocasião, o primeiro observatório municipal do Brasil.

Produção Científica - Homenagens

Por suas observações dos planetas Vênus e Marte, foi laureado pela Sociedade Astronômica da França, SAF, com o “Premio George Bidault d’ Isle”, consistindo de uma medalha de prata entregue em sessão solene no auditório do Planetário do Ibirapuera - SP, pelo astrônomo francês Delhave. Participou como membro ativo das SAF, ALPO, BAA, AAVSO, LIADA, LIAA, UBA, SBS, e SIP e colaborou com o Observatório de Meudon - França, no Département de Phisique des Surfaces Planetaires, na determinação do período de rotação de Vênus. Participou do “International Mars Comitee” em 1954 para elaboração do mapa meteorológico de Marte. Desde 1961 até 1991 foi “Standard Observer” pela AAVSO. Foi observador credenciado pela NASA-JPL e o Smithsonian Institution no projeto LION, coordenado no Brasil pelo astrônomo Ronaldo R. F. Mourão, para observação dos chamados TLPs (Transiente Lunar Phenomena). Das suas quatro observações de TLPs merece destaque a realizada por ocasião da Missão Apollo 13 na cratera Censorinus e que foi uma das três mais importantes feitas por astrônomos brasileiros. 

Observou o Sol sistematicamente por mais de 40 anos. Suas observações propiciaram um precioso banco de dados de que serviram seus colegas Julio C. Penereiro e Walter Maluf para realizar a excelente publicação “50 Anos de Observação Solar”, apresentada em dois ENAST (Rio de Janeiro - 2007 e São Paulo - 2011). 

Publicou dois livros: Marte, o Planeta do Mistério e Manual do Astrônomo Amador, editora Papirus de Campinas,SP, este último ainda hoje uma referência para os astrônomos amadores. Desempenhou inúmeros cargos em associações astronômicas do País e exterior.

Um grande incentivador

Jean foi co-fundador da Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo, AAA, (1949), da Sociedade Interplanetária Brasileira, SIB (1952), da Sociedade Brasileira de Selenografia, SBS, (1956) e da União Brasileira de Astronomia, UBA, (1970). Entre seus maiores colaboradores destacavam-se Rubens de Azevedo, Rômulo Argentiere, Frederico Funari, Paulo Gonçalves, Orlando Zambardino, Francisco Jehova e Norberto Parada. Graças ao seu conhecimento e atenção com todas as pessoas que o procuravam, despertou inúmeras vocações. Nunca deixava de responder uma carta. Uma dos mais profícuos relacionamentos foi aquele que motivou o físico Rogério Marcon da UNICAMP a se dedicar a heliofísica tornando um dos maiores pesquisadores brasileiros nessa área. Marcon criou mais tarde o seu Observatório Solar Bernard Lyot dedicado a memória de Jean. Seu maior sonho, um celóstato foi concretizado quando recebeu a doação desse instrumento por seu colega de Belo Horizonte, astrônomo Ernesto Reisenhofer, fundador do Observatório Kappa Crucis. Posteriormente o celostato recebeu ampliação e modernização feita pelo fiel discípulo Rogério Marcon e seu pai de saudosa memória. Jean soube como poucos honrar com seus trabalhos científicos e pedagógicos a ciência astronômica. Seu nome continua sendo uma referência e um exemplo para todos os discípulos de Urânia. Dizem que ao lado de um grande homem está uma grande mulher. Jean era casado com Áurea Nicolini, esposa devotada e fiel colaboradora. Teve dois filhos: Ulisses (já falecido) e Leonardo.


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