O céu do mês – dezembro 2016

Cícero Antônio Costa Silva
ancimoeja@yahoo.com.br
                                                                          CEAMIG


Caro Leitor,
O mês de dezembro chega trazendo com ele, no dia 21, o Solstício. De inverno, no hemisfério norte e de verão no hemisfério sul, o solstício ocorrerá as 10:44 UT. Nesta data, o Sol no caminho anual aparente através do céu, alcança sua posição mais ao sul do Equador celeste, 23º 23’ de declinação sul. Na Terra, é o Trópico de Capricórnio que delimita este ponto. O Sol atravessa o céu ao meio dia perfeitamente no zênite no dia do solstício e uma haste fincada no chão, perfeitamente alinhada no “prumo”, não projetará sombra neste momento. Ou seja, os raios solares incidem perpendicularmente na superfície da Terra, na data do solstício, sobre o Trópico de Capricórnio no hemisfério sul.
Falando de céu noturno, em dezembro teremos várias ocultações de estrelas pela Lua. Uma delas muito bem posicionadas para observadores no Brasil, Sigma Leonis. Os dois planetas mais brilhantes Vênus e Júpiter, cada qual protagonista no céu vespertino e matutino respectivamente. Quer um desafio maior para o seu telescópio? Urano e Netuno ainda estão razoavelmente bem posicionados no céu noturno logo após o pôr-do-sol.
A constelação do mês é a pequena, obscura e circumpolar Chamaeleon, o Camaleão. Uma constelação que, ao contrário de várias outras, não possui uma origem mitológica. Foi imaginada, desenhada pelos navegadores do sec. 16. Mas apesar de diminuta, guarda pelo menos um objeto de céu profundo para apontarmos nossos telescópios amadores.
Ótimas observações para todos nós!

Fig. 1


Tabela 1


Ocultações de Planetas pela Lua
Ocultação de Netuno
A figura mostra as circunstâncias da ocultação do planeta Netuno pela Lua. A Lua 45% iluminada ocultará Netuno para regiões da Groelândia e Canadá. A Lua, já com um brilho bastante intenso ofuscará o planeta que apresenta magnitude 8 dificultando a observação do evento através de instrumentos óticos mais modestos.


Fig. 2

Ocultação de estrelas pela Lua

Rho Sagitarii
Em 02/12 a Lua +11% iluminada e com uma elongação 38º a leste do Sol ocultará a estrela Rho Sagitarii para uma estreita faixa de visibilidade noturna ao Sul da américa do sul. Já em 30/12  a Lua +1% iluminada e com uma elongação de 12o a leste do Sol ocultará novamente esta estrela de magnitude 3,9 e classe espectral F0III/IV. Porém, como verificamos na figura abaixo, desta vez será um evento diurno. Verifiquem o link:



Fig. 3

Lambda Aquarii
Em 07/12 a Lua +46% iluminada e com uma elongação de 85o a leste do Sol ocultará a estrela Lambda Aquarii de magnitude 3,7 e classe espectral M2IIIvar. A faixa de visibilidade noturna deste evento o extremo norte da América do Sul, América Central e Caribe.


Fig. 4

Hyadum II
Em 12/12 a Lua +98% iluminada e com uma elongação de 165o a leste do Sol ocultará a estrela Hyadum II de magnitude 3,8 e classe espectral G9.5III. Apenas o extremo sul do Oceano Atlântico e a Cidade do Cabo na África do Sul estarão aptos a testemunhar este evento.


Fig. 5

Theta 1 e Theta 2 Tauri
Em 13/12, a Lua +99% iluminada e com uma elongação reduzida para 166o a leste do Sol oculta Theta 1 e Theta2 com minutos de diferença entre uma e outra. De magnitudes 3,8 e 3,4 respectivamente e classes espectrais são G7III e A7III e situando a distância de aproximadamente 150 anos luz, Theta1 e Theta2 Tauri são estrelas que pertencem ao aglomerado aberto das Hyades. A faixa de visibilidade noturna se estende por praticamente toda América do Norte, norte e leste europeu e extremo norte asiático.


Fig. 6

Alpha Tauri = Aldebaran
Em 13/12 a Lua +99% iluminada e com uma elongação de 167o a leste do Sol ocultará a gigante vermelha Aldebaran. Apresentando magnitude 0,9 e classe espectral K5III, esta gigante vermelha está a 66 anos-luz de distância, portanto não faz parte do aglomerado aberto das Hyades. Os países da América do Norte estão melhor posicionados para acompanhar todas as fases de evento. 




Fig. 7

Zeta Cancri = Tegmine
Em 16/12 a Lua -90% iluminada e com uma elongação de 143o a oeste do Sol ocultará a estrela Zeta da constelação de Câncer de magnitude de 5,1 e classe espectral G0V. Os habitantes da Oceania, menos da Nova Zelândia, terão a oportunidade de observar esta ocultação no período noturno.


Fig. 8

Alpha Leonis = Regulus
Em 18/12, a Lua -73% iluminada e com uma elongação de 117o a oeste do Sol, ocultará a estrela Regulus de magnitude 1,4 e classe espectral B8IVn. Este evento será o primeiro de uma série de ocultações que ocorrerão durante o ano de 2017. Alpha Leonis, além de ser uma das estrelas mais brilhantes do céu, também se apresenta como uma estrela dupla. A segunda componente é uma estrela de magnitude 8 afastada a 175” da estrela principal.


Fig. 9


Sigma Leonis
Em 20/12, a Lua -58% iluminada e com uma elongação de 99o a oeste do Sol ocultará Sigma Leão de magnitude 4.1 e classe espectral B9IV. A faixa de visibilidade noturna está localizada na região central da América do Sul. Verifiquem o link:



Fig. 10

Eta Virginis = Zaniah     
Em 21/12, a Lua -47% iluminada e com uma elongação de 86o a oeste do Sol ocultará Eta Virginis de magnitude 3,9 e classe espectral A2IV. A faixa de visibilidade noturna está compreendida ao extremo norte do Canadá e região polar norte.


Fig. 11

Gamma Virginis = Porrima
Em 21/12 a Lua, -42% iluminada e com uma elongação de 80o a oeste do Sol, ocultará a estrela Gamma Virginis, de magnitude 2,8 e classe espectral F0V. Este evento será observado ao Sul do continente asiático no período noturno. Já Indonésia e partes do continente da Oceania já estarão sob a luz do Sol. 


Fig. 12

Gamma Librae = Zubenelakrab
Em 25/12 a Lua -12% iluminada e com uma elongação de 40o a oeste do Sol, ocultará a estrela Gamma Librae de magnitude 3,9 e classe espectral K0III, para uma estreita de visibilidade noturna no Alasca e norte do Oceano Pacífico. Demais regiões da América do Norte e Central estarão sob a luz do Sol no momento da ocultação.


Fig.13
Sistema Solar

Para o mês de dezembro observarmos as seguintes movimentações planetárias:

Mercúrio. O mês inicia com o planeta Mercúrio no céu vespertino aumentando sua elongação a leste do Sol. No dia 11 Mercúrio atinge sua elongação máxima a 20,8o a leste do Sol. A partir desta data a elongação de Mercúrio ao Sol. No dia 14 Mercúrio atinge a dicotomia, quando sua face se apresenta 50% iluminada, melhor momento para observação telescópica de Mercúrio. Por fim, no dia 28 mercúrio atinge a conjunção inferior, quando passa a 2,4o do Sol e no dia 29 atinge a menor distância da Terra, Perigeu, a 0,674 AU.

Vênus. Junto com Mercúrio, Vênus, o segundo planeta com órbita interior à nossa Terra, também passará todo o mês de dezembro despejando todo o seu brilho no céu vespertino. Porém, ao contrário de Mercúrio, Vênus estará a uma elongação que favorece uma observação mais confortável ao telescópio durante todo o mês. Em 1o de dezembro Vênus apresentará um diâmetro aparente de 17” e 68% iluminado. No final do mês, no dia 30 Vênus apresentará um diâmetro aparente de 21,7” e 56,7% iluminado.
A ilustração abaixo mostra a evolução do diâmetro aparente e da face iluminada do planeta Vênus durante sua aparição vespertina. Este trabalho foi realizado em 2007 por mim utilizando um modesto telescópio refletor de 114mm de abertura e uma câmera digital compacta.




Fig. 14

Marte. Durante o mês de dezembro continuamos a testemunhar o afastamento de Marte do planeta Terra. Lentamente o planeta Marte vai reduzindo sua elongação ao Sol e se despedindo do céu vespertino e caminhando para sua conjunção que ainda ocorrerá em 2017. A consequência disso é que vemos marte reduzindo o seu diâmetro aparente e aumentando o valor de sua magnitude aparente. Em 1o de dezembro Marte apresentará um diâmetro aparente de 6,5” e uma magnitude visual de 0,64. Já em 31 de dezembro o diâmetro aparente será de 5,7” e uma magnitude visual de 0,89.

Júpiter. Domina o céu matutino por todo o mês de dezembro. A cada dia surgindo mais cedo no horizonte e aumentando sua elongação ao Sol. No início do mês a elongação será de 52o. No final do mês essa elongação já será de 78o.Este afastamento da linha do horizonte a medida que o mês passa, já facilita uma observação telescópica satisfatória de Júpiter.

Saturno. Inicia o mês de dezembro já mergulhado no brilho do Sol devido ao baixo ângulo de elongação. No dia 10 Saturno passa por sua conjunção com o Sol apresentando uma elongação de apenas 1,3o, consequentemente atinge o seu apogeu, maior distância à Terra. 11,031 UA.

Urano. Ainda bem posicionado durante todo o mês para observação, Urano encerra seu movimento aparente retrogrado no dia 29 e retoma seu movimento aparente de oeste para leste em relação às estrelas de fundo. Por apresentar uma magnitude de 5,7 Urano pode ser observado a olho nu. Mas para tal, procure um céu extremamente limpo e escuro.

Netuno. O mês de dezembro mostra o planeta Netuno já se aproximando do horizonte oeste. Ao passar do mês a observação telescópica de Netuno vai ficando cada vez mais prejudicada devido a presença da turbulência atmosférica. Mesmo assim, tente colocar o máximo de aumento possível em seu telescópio para definir o pequeno disco azulado de 2” de diâmetro aparente.

Plutão. Apenas telescópio acima de 30cm serão capazes de permitir a observação do planeta anão Plutão em meio as estrelas da constelação de sagitário.

Tabela 2

Sol = O quadro abaixo, apresenta alguns elementos úteis a observação solar neste mês como: (P.H) = Paralaxe Horizontal, (PO°) = Ângulo de Posição da extremidade Norte do disco solar, (+) E; (-) W, (BO°) = Latitude heliográfica do centro do disco solar (+) N; (-) S, (LO°) = Longitude heliográfica do meridiano central do Sol e ainda, (NRC) Número de Rotação Solar de Carrington da série iniciada em novembro 1853 9,946.


Quadro 1

A ocorrência das apsides lunares dar-se-á neste mês na seguinte sequência: Perigeu ocorrendo em 11/12 às 23:35 (UT = Universal Time), quando a Lua estará cerca de 358470,0 km do centro da Terra. O Apogeu ocorre em 25/12 às 06:02 (UT = Universal Time), quando a Lua estará cerca de 405841,7 km do centro de nosso planeta.

Asteroides em Oposição
Até o dia 07 de novembro a Lua entre a fase Nova e Quarto Crescente facilitará a localização dos asteroides que estarão em oposição este mês. Entre os dias 07 e 14 a Lua, aumentando a sua face iluminada até chegar a fase cheia coloca um desafio para a tarefa de observar os asteroides de magnitudes mais elevadas. Do dia 14 até o fim do mês, após a fase Cheia, e com a Lua surgindo no céu cada vez mais tarde, permite a localização desses astros de pouco brilho no início da noite. Os links levarão a informações detalhadas que facilitarão a atividade. Vamos a eles:
20/12, mag. 10,6 = (68) Leto, link: https://goo.gl/66JXU1
26/12, mag. 10,1 = (22) Kalliope, link: https://goo.gl/wnzZNN




Constelação – Chamaeleon
Chamaeleon, ou Camaleão, é uma constelação localizada no hemisfério austral batizada em referência a este tipo de lagarto. Esta constelação foi criada pelo astrônomo holandês Petrus Plancius a partir das observações dos navegadores também holandeses Pieter Dirkszoon Keyser e Frederick de Houtman no século 16. Foi representada pela primeira vez no Atlas Uranometria de Johann Bayer em 1603.
Chamaeleon está entre as menores constelações, é a 79a em tamanho ocupando uma área de 132º quadrados. É cercada pelas constelações Apus, Carina, Mensa, Musca, Octans e Volans. E pode ser vista apenas do hemisfério sul.
Não existe um mito associado à constelação de Chamaeleon, apenas o fato de ter sido criada em homenagem ao lagarto exótico que muda de cor para se esconder dos predadores. O cartógrafo Jodocus Hondius desenhou a constelação como um camaleão esticando sua língua para capturar um inseto. Tal inseto é exatamente a constelação Musca, a mosca.

Alpha Chamaeleontis
É uma de classe espectral F5III a aproximadamente 63, 5 anos luz de distância. Tem uma magnitude visual de 4,06.

Beta Chamaeleontis
Pertence a sequência principal com classe espectral B5Vn, tem magnitude visual de 4,3 e está a aproximadamente 270 anos luz de distância.

Delta-1 e Epsilon Chamaeleontis
São estrelas binárias próximas com separações de 0,6” e 0,9” respectivamente. Belo desafio para instrumentos de menor porte.

R Chamaeleontis
É uma estrela variável do tipo Mira com um período de 334 dias. Sua magnitude visual varia entre 7,5 e 14.

HD 63454
É uma estrela da sequência principal do tipo K com uma magnitude visual de 9,40. Está a aproximadamente 116,7 anos luz de nós. É uma estrela um pouco mais fria e menos luminosa que o Sol. Em 2005 um “Júpiter Quente”, HD 63454 b foi descoberto orbitando em torno desta estrela.

NGC 3195
É uma brilhante nebulosa planetária em Chamaeleon. Situa-se visualmente entre Delta e Zeta Chamaeleon. É a nebulosa planetária de maior declinação sul conhecida, portanto apenas observada do hemisfério austral. Foi descoberta por John Herschel em 1835. À uma distância de 5500 anos-luz de distância e com uma magnitude de 11,6 é um bom alvo para telescópios de médio porte.


Fig. 15
OBRIGADO A TODOS
Referências:

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,

CAMPOS, Antônio Rosa. Almanaque Astronômico Brasileiro 2016. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2015. 115p. Disponível em: <http://www.ceamig.org.br/5_divu/alma2016.pdf>

- AMORIM, Alexandre. Anuário Astronômico Catarinense 2016. Florianópolis: Ed: do Autor, 2015.

- CHEVALLEY, Patrick. SkyChart / Cartes du Ciel - Version 3.8, March. 2013. Disponível em:  <http://ap-i.net/skychart/start?id=en/start>.

- HERALD, Dave. Occult4 v4.1.0.27 (24 March. 2014) Update v4.2.0 available in: <http://www.lunar-occultations.com/occult4/occultupdate.zip>

- http://www.calsky.com/cs.cgi - Access in 28 Nov. 2016.

- Chéreau, Fabien. Software Stellarium. versão 15.0, setembro. 2015 Disponível em:  <http://www.stellarium.org/pt_BR/>

-        http://www.constellation-guide.com/constellation-list/chamaeleon-constellation/










 
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