O céu do mês – Setembro 2013

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CEAMIG – REA/Brasil – AWB

Do macro ao micro! A beleza do céu nesta época do ano na maioria das vezes, faz com que voltemos nossos pensamentos para o infinito Universo buscando um entendimento racional sobre sua dinâmica, isso ficou novamente patente tendo em vista a ocorrência da Nova Delphini 2013 no último mês. Desta forma, isso também pode ser visto como mais uma maneira que a humanidade “numa visão futurista” deixa como herança aos nossos descendentes; mas por agora voltemos as lentes e objetivas de nossos instrumentos ao infinitamente grande, quando já no dia 08 próximo a estrela Spica (alpha Virginis, mag 1.0), novamente será oculta pelo disco lunar, recaindo sua faixa de visibilidade noturna no mar Arábico, contemplando observadores situados no oriente médio, leste e norte europeu e também no leste da África setentrional. Já os observadores localizados em grande parte do sudeste da América do Sul (Argentina, Brasil, Chile e Uruguai), terão a oportunidade de contemplar a ocultação do disco de Vênus pela Lua neste mesmo dia. Entretanto logo no dia seguinte a Lua, o brilhante planeta Saturno, Vênus e Spica formarão um belo conjunto celeste, e para isso basta que utilizemos nossa visão desarmada; mas dispondo de um pequeno tempo para a identificação de algumas estrelas a configuração já estará ali. Não menos importante, mas que com o passar do tempo sentiremos a diferença em nosso dia a dia será a chegada do Equinócio marcando o início da Primavera no Hemisfério Sul e o Outono do Hemisfério Norte em 22 de setembro às 20:23 (TU – Universal Time), aqui podemos notar o reflorescimento da vegetação, que empresta seu perfume aos quadros da paisagens naturais que bordarão nessa estação, assim também a janela celeste convida aos seus observadores a mais uma oportunidade de encantamento. Diante então dessa descrição do céu que sempre vale a pena ser admirado, me lembro que o genial observador do século XVIII, Niçolas Louis Lacaille, a qual certamente podemos também dizer que “foi um homem a frente de seu tempo”, não deixou de completar essa esfera celeste de igual beleza, mas uma das maiores homenagens a ciência de seu tempo, foi a inclusão de um valioso instrumento de perquirição do universo em sua escala micro, então (e justamente) um grande “microscópio” celeste, foi ali inserido para sinalizar aos homens de seu tempo e gerações futuras, os avanços da ciência também nesta escala que estariam por vir. Aos céus! 


Planetas!

Mercúrio = Como o pequeno disco de Mercúrio já realizou sua conjunção com o Sol em 24/08 passado, ele estará no horizonte oeste já nestes primeiros dias deste mês, embora inicialmente suas elongações ainda não estejam favoráveis a uma busca para sua identificação no poente, mais precisamente na constelação de Leo, onde permaneceu até 05/08, quando em seguida ingressou na constelação de Virgo. Devido ao aumento de sua elongação, pois elas começam a ficar mais favoráveis, Mercúrio poderá ser identificado ainda dentro do crepúsculo vespertino após o ocaso do Sol a contar do dia 19 de setembro, Em 25 de setembro próximo ele estará no seu afélio com uma distância 0.466701 (ua) do Sol e já com uma magnitude estimada em -0.1. 

Vênus = Pelo que já descrevemos acima, Vênus neste mês marcará sua presença também de forma marcante até atingir sua máxima elongação oeste (até mesmo em virtude da ocultação pelo disco lunar que está publicada em Paper separado). Logo no início da noite do dia 05 próximo a sua proximidade junto a estrela Spica (alpha Virginis, mag 1.0), chamará bastante a atenção, pois sua magnitude (-4.0) fará com que o grande público venha a chama-lo por um de seus conhecidos nomes (Estrela D’Álva, Estrela Vésper, etc...). Ficará difícil então não ficar admirado com o alinhamento (figura 2) ocasionado pela presença desses astros.

A tabela 2 acima mencionada apresenta os dados de Vênus para esse mês facilitando bastante seu planejamento observacional. Esses e outros dados observacionais de um modo geral poderão ser consultados no Almanaque Astronômico de 2013, a qual eu recomendo o seu download (essa é uma publicação gratuita) no seguinte endereço: http://www.ceamig.org.br/5_divu/alma2013.pdf. 

Lua = As fases lunares este mês, ocorrerão nas datas e horários abaixo mencionadas em Tempo Universal (UT = - 03:00h,  fuso horário de Brasília) de acordo com a figura 3:

A ocorrência das apsides (Perigeu e Apogeu) lunares ocorrerão neste mês na seguinte seqüência: Perigeu em 15/09 às 16:35 (UT), quando a Lua chegará a distância de 367.388 km do centro da Terra, e seu Apogeu em 27/09 às 18:18 (UT), quando a Lua estará a 404.308 km  do centro de nosso planeta.

Marte = O Céu matutino continuará sendo emoldurado pela presença do planeta Marte antes do nascer do Sol. Em função do constante aumento de sua elongação e a diminuição de sua distância a Terra (2.1778551 ua em 24/09), faz com que seu diâmetro aparente também cresça (4.1” no dia 03 e 4.3” em 24/09); Marte que esteve até o dia 24 passado na constelação de Gemini do último neste período estará até o dia 25 próximo na constelação de Câncer, ingressando no dia seguinte na constelação de Leo. Sua magnitude continua estimada em 1.6. 

Júpiter = De certa forma podemos até mencionar que Júpiter e Marte nesta época do ano, são os companheiros da madrugada, mas Júpiter é o mais brilhante naquela área do céu na ausência da Lua, pois sua magnitude já nos primeiros dias deste mês atinge -2.1, o que faz com que o gigante gasoso fique a cada dia mais resplandecente no céu matutino. Em virtude ainda da constante diminuição de sua distância a Terra (5.3480036 ua em 24/09), seu diâmetro aparente também cresça para 37.5” de arco em 30/09. Como conseqüência temos também um aumento de magnitude dos satélites galileanos, sendo possível monitorar os principais eventos deles (neste mês ocorrerão diversos eventos envolvendo Io, Europa e Ganimedes), novamente na tabela 3 abaixo, temos informações das respectivas magnitudes para o início, meio e término do mês às 00:00 (TU) desses satélites incluindo também os dados para o satélite Callisto.

Saturno = Professor! Parece que Saturno tem  um chapeuzinho! Essa foi sem dúvidas uma das melhores interpretações que tivemos a oportunidade de ouvir de alguns dos simpáticos alunos em visita ao Observatório Osvaldo Néri (sede do CEAMIG – Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais) em Belo Horizonte-MG, Brasil), quando ao observar Saturno através de alguns dos telescópios disponibilizados para a realização de mais uma edição (dentre os inúmeros atendimentos a escolas de ensino fundamental).  De fato a interpretação da visão de Saturno nesta época e após uma breve observação, faz com que o público (principalmente o infantil) faça essa analogia devido à inclinação aparente dos anéis (19.3° em 15/09), isso faz com que muito pouco se possa observar do hemisfério sul desse gigante gasoso. Saturno é visível agora somente na primeira fase da noite após o crepúsculo vespertino, pois suas elongações já estão abaixo de 60° oeste. É ainda visível como uma estrela de 1.8 magnitude na constelação de Libra. 

Urano = Agora mais próximo de sua oposição Urano pode ser acompanhado por quase toda a noite; muito embora sua magnitude esteja fora do alcance da visão desarmada e possível que em locais mais afastados dos grandes centros urbanos e longe da poluição luminosa possa ser localizado, é ideal para essa tentativa a ausência completa da Lua. Desta forma eu creio que a melhor data neste período será justamente em sua oposição no próximo mês quando será Lua Nova. Sua magnitude já estimada em 5.7 e consequentemente seus satélites de maiores magnitudes: Titânia (III) (mag. 13.9), Oberon (IV) (mag. 14.1) e Ariel (I) (mag. 14.4), posam ser percebidos longe da poluição luminosa e com a aplicação de um telescópio de porte médio (300mm ou acima), considerando esse de boa ótica. 

Netuno = Ao contrário do que pensa a maioria dos observadores iniciantes, não é muito difícil a localização de Netuno dentre as estrelas, alguns reportam que uma vez identificado sua localização entre as estrelas, ele se apresenta de modo fácil no campo da ocular, próximo a Sigma Aquarii de magnitude Visual 4.8 e Ancha (theta Aquarii) de magnitude 4.1. Isso possibilitará não somente a sua localização como também em sua volta o reconhecimento quase de imediato de seu satélite natural Tritão (mag. 13.5) Ele estará separado 12.7" segundos de arco do disco do planeta num ângulo de posição de 280.5° conforme é apresentado na figura 4 abaixo. 
Com a indicação acima a tarefa é mais fácil, entretanto aconselho a aplicação de um telescópio de 300mm, também de boa ótica e (principalmente) afastado da poluição luminosa.  

Ceres e Plutão = Nesta época é impossível realizar uma busca no céu do planeta anão (1) Ceres, sendo que as elongações somente ficarão propícias após o dia 16 no horizonte leste na fase do crepúsculo matutino. Entretanto o planeta anão (134340) Plutão estará favorável uma vez que pode ser localizado dentre as estrelas da constelação de Sagittarius. Como esse longínquo planeta anão teve sua oposição em 01 de julho último, ele estará estacionário no dia 20 próximo. Sua magnitude está estimada em 14.1 e sua elongação que vem diminuindo após a oposição atinge 92°. 

Asteróides = Neste mês ocorrerão diversas ocultações de estrelas por asteróides, sendo que chamo a atenção para as seguintes ocultações cuja faixa de visibilidade estarão recaindo sobre a América do Sul: TYC 6915-00024-1 de magnitude 11.2, na constelação de Capricornus em 05/09 às 04:04 (TU) pelo asteróide (81) Terpsichore, com uma duração prevista do fenômeno estimada em 19,1 segundos;  ocultação de TYC 5205-01185-1 de magnitude 11.2, na constelação de Aquarius em 09/09 às 23:01 (TU) (está também visível no continente africano) pelo asteróide (7) Íris, com uma duração prevista do fenômeno estimada em 41,1 segundos e TYC 6836-00262-1 de magnitude 10,6, na constelação de Sagittarius em 11/09 às 22:39 (TU) pelo asteróide (37) Fides, com uma duração prevista do fenômeno estimada no máximo 9,7 segundos. Ocorrerão as seguintes oposições favoráveis: em 23 de setembro de (89) Julia, com uma elongação de 156.3° na constelação de Pegasus, em 28 de setembro de (69) Hesperia, com uma elongação de 179.5° e (94) Aurora, com uma elongação de 179.0°, ambos na constelação de Pisces. 

CONSTELAÇÃO:

Microscopium

Muito embora seja uma constelação bastante apagada e de pequena área celeste, com um bom céu noturno livre da poluição luminosa, nos poderemos reconhecer as estrelas de magnitude 4.7 e acima, que formam essa constelação, onde certamente as lentes oculares de nossos instrumentos saberão o que observar. Como mencionado a genialidade do francês Niçolas Louis Lacaille buscou oferecer a humanidade algo tão precioso e digno de sua inteligência. 

Sua área de 210 graus quadrados encontra-se compreendida ao sul entre as constelações de Indus, a oeste por Sagittarius, ao norte por Capricornus e a leste por Pisces Austrinus e Crux (Mourão, 1987); podemos reconhecer sua limitação visualizando a figura 5 abaixo.

Conhecendo o Equipamento Celeste

A familiarização com esse fantástico instrumento e também com a similitude que existe na distribuição das estrelas que compõem o instrumento celeste e incrível, então logo na sua platina (ou mesa) poderemos designar alpha microscopii, uma estrela dupla constituída por duas estrelas de iguais magnitudes (estimadas em 4.9), mas de classe espectral diferentes G7III o par primário que é uma gigante e a secundária de cor alaranjada de classe espectral K0. Naquela área também encontraremos beta Microscopii, uma estrela branca de magnitude visual aparente estimada em 6.04 cujo espectro exibe linhas que indica a presença de metais. Podemos considerar nossa interpretação da base (ou pé) desse  instrumento gamma Microscopii, uma estrela gigante amarela e brilha com  uma magnitude visual aparente 4.7 e epsilon Microscopii essa uma estrela subgigante branca de classe espectral A1V (o que lembra as características da brilhante Sirius) e magnitude também de 4.7. A partir dessa estrela também, podemos considerar a coluna de nosso instrumento chegando até as estrelas theta2 microscopii, de  magnitude visual aparente de 5.7 e theta1 microscopii de magnitude 4.8 uma estrela branca componente de um sistema de estrelas múltiplas; mas na nossa análise eta microscopii, uma estrela gigante laranja de magnitude visual aparente de 5.5 e classe espectral K3III seria o que considera-se a lente ocular e como objetiva, zeta microscopii, de magnitude visual mag.  5.30 e classe espectral F3V na realidade uma estrela anã branca cuja abundância de ferro é -0,04 (91,2% do Sol). 

A variável Theta1 microscopii

Existe um consenso entre os observadores de que naquela região celeste a existência de objetos de céu profundo (Deep-sky) aquecíveis aos nossos instrumentos de pequeno porte é inexistente, eles estão cobertos de razão quando pensamos em objetos cujos limites de magnitudes visuais aparentes estejam estimados até a 8ª magnitude. Não obstante e num simples passar de olhos pelo “Burnham's Celestial Handbook”, encontramos as seguintes galáxias: I. 5039 (mag 12.6), IC 5105 (mag 11.6), NGC 6923 (mag. 11.9), NGC 6925 (mag. 11.3) e a NGC 6958 (mag. 11.4). 


Entretanto é bem interessante conhecer a variável Theta1 microscopii; pertencente à seqüência principal do “Diagrama HR” (uma linha identificada numa região desse gráfico que chamamos dessa forma por indicar a fase evolutiva em que a maioria das estrelas se encontra. “Vide figura 6 acima”) ela é de coloração branca considerada variável intrínseca; isto é variam realmente seu brilho e são quimicamente peculiares. O ciclo das variações de luminosidade apresentam pequenas variações na ordem de 0,01 até 0,1 magnitudes e neste caso, o período entre máximo e mínimo dessa estrela está entre 4.82 e 4.84 no transcorrer de 2,12 dias.  

(a.l) = Ano Luz. Unidade de distância e não de tempo, que equivale à distancia percorrida pela luz, no vácuo, em um ano, a razão de aproximadamente 300.000 Km por segundo. Corresponde a cerca de 9 trilhões e 500 bilhões de quilômetros.

Apogeu = Para um corpo em órbita elíptica em torno da Terra (a Lua ou um satélite artificial, por exemplo), é o ponto da órbita onde um astro tem o maior afastamento da Terra. Oposto de perigeu.

Apside = Nome genérico dos pontos de maior afastamento ou de menor afastamento de um corpo que está em órbita de outro. Quando nos referimos ao Sol ou à Terra, existem nomes específicos (apogeu e perigeu para a Terra, e afélio e periélio para o Sol).

Dicotomia = Aspecto de um planeta ou de um satélite quando apresenta exatamente a metade do disco iluminada.

MPa = Movimento Próprio anual, sendo: (-) em aproximação, (+) em recessão.

NGC = Catálogo de Objetos; Abrev. (New General Catalogue - NGC).

Periélio = Menor distância do Sol de um corpo em órbita ao seu redor. 

Perigeu = Para um corpo em órbita elíptica (em forma de elipse) em torno da Terra (a Lua ou um satélite artificial, por exemplo), é o ponto da órbita onde um astro tem a maior proximidade da Terra. Oposto de apogeu.

(ua) = Unidade Astronômica. Unidade de distância equivalente a 149.600 x 106m. Convencionou-se, para definir a unidade de distância astronômica, tornar-se como comprimento de referência o semi-eixo maior que teria a órbita de um planeta ideal de m=0, não perturbado, e cujo período de revolução fosse igual ao da Terra.

″ = Segundos de arco.

Boas Observações!

Referências:

- Mourão, Ronaldo Rogério de Freitas - Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro (RJ) - 1987, 914 P.

- Campos, Antônio Rosa - Almanaque Astronômico Brasileiro 2013, Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), Belo Horizonte (MG) - 2012, 100P.

- Burnham, Robert Jr. – Burnham's Celestial Handbook. Dover Publications, Inc., 1978. ISBN 0-486-23568-8,  pp. 1181 – Inc. New York – USA, 1978. 

- Cartes du Ciel - Version 2.76, Patrick Chevalley -  http://astrosurf.org/astropc - acesso em 19/02/2013.

- http://www.asteroidoccultation.com/ - Acesso em 22 julho 2013.


- http://server1.sky-map.org/ - Acesso em 23/07/2013



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