O Céu do mês – Junho 2013

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CEAMIG – REA/Brasil - AWB

Até mesmo para os observadores ocasionais do céu noturno, a Lua novamente despertará a atenção quando neste período proporcionará grandiosos espetáculos com as oportunas conjunções de estrelas brilhantes como: Aldebaran (alpha Tauri – mag. 0.99) e Regulus (alpha Leonis, mag. 1.41), que ocorrerão nos dias 07 e 14 próximo. Será ainda a ocasião muito propícia as observações de Saturno e também do brilhante Vênus, que um dia após o solstício de Inverno no hemisfério Sul que terá início em 21/06 às 04:59 (UT), fará uma conjunção que envolverá brilhante Pollux (beta Gemini, mag. 1.22); Mercúrio, o planeta anão (1) Ceres, como ainda o brilhante asteróide (2) Vesta; tudo isso visível ainda durante o crepúsculo vespertino do dia 22/06. Já os mais atentos à dinâmica celeste, este mês novamente, a Lua ocultará a brilhante Spica (alpha Virginis, mag 1.0), em 18 de junho, quanto então os observadores localizados na África meridional (englobando os oceanos índico e atlântico), bem como porções sul da parte setentrional daquele continente poderão acompanhar essa ocultação na fase noturna do dia. Já no continente americano, somente as regiões ao norte e nordeste da América do sul, bem como também em algumas localidades da América central situadas nas “Pequenas Antilhas” (Ilhas de sotavento) poderão acompanhar essa ocultação em sua fase diurna. O diminuto Plutão novamente será oculto pelo disco lunar em 24 de junho sendo que nesta oportunidade a faixa de visibilidade recairá sobre o território do norte da África setentrional e grande parte do continente europeu. Fascinado ainda pelas fantásticas imagens proporcionadas pelas regiões da circunvizinhança do braço da Via-Láctea, será uma oportunidade ideal conhecer Lupus e alguns dos objetos deep-sky  ali localizados. 



Planetas!

Mercúrio = Ao que tudo vem indicando, este mês será uma das ocasiões mais propícias às observações do planeta Mercúrio. Como havíamos comentado na abertura dessa resenha, ele protagonizará com Vênus e a brilhante Pollux em 21/06 em belo alinhamento no crepúsculo vespertino. Na constelação de Gemini neste período já no dia 05 próximo sua magnitude chegará a 0.0, entretanto no dia 06 terá sua fase em dicotomia, alcançando sua elongação máxima de 24.3° (E) o que favorecerá em muito as observações com telescópios de pequeno porte. Muito embora o afélio de sua órbita ocorra em 28 de junho e sua distância ao Sol seja de 0,4667 ua, a sua distância a Terra será de 0,610095 ua, o que influi na visualização de seu diminuto disco planetário. 

Vênus = Finalmente as elongações de Vênus começam a ficar mais propícias as observações com instrumentos de pequeno e médio porte, do mesmo modo, essas condições favoráveis serão o prenúncio de um período extremamente vantajoso que extender-se-á até o fim deste ano. Por enquanto sua magnitude permanecerá estimada em -3.8 muito embora suas elongações estejam aumentando progressivamente; em função da constante queda de distância a Terra, seu diâmetro aparente vai aumentando também. Inovando apresento na tabela 2 abaixo os dados importantes para a observação de Vênus neste período, lembrando ainda que o periélio ocorrerá em 13 de junho com uma distância ao Sol de 0,7184 ua.


Lua (Fases) = As fases lunares este mês, ocorrerão nas datas e horários abaixo mencionadas em Tempo Universal (UT = - 03:00h,  fuso horário de Brasília) de acordo com o quadro 1:


Marte = Lentamente as condições de visualização começam a ficar favoráveis, mas eu creio que alguma observação telescópica da superfície de Marte já seja possível de se obter êxito, a contar do dia 20 deste mês, visto que ele estará mergulhado no crepúsculo matutino, portanto será Marte nesta época, visível alguns instantes antes do nascer do Sol. A importância dessas observações reside no fato que deverá estar por término à fase de tempestades de poeira na superfície marciana, lembremos que em 23 de fevereiro passado tivemos o início do verão no hemisfério Sul de Marte; então com esse hemisfério atualmente mais voltado para a Terra e seu apogeu também previsto para o dia 04 deste mês, será uma boa oportunidade para constatar essas previsões após o dia 20 próximo. Marte estará na constelação de Taurus e sua magnitude bem como elongação para o dia 30/06 serão de 1.5 e 17 17°.6 (W). 

Júpiter = As elongações de Júpiter farão com que ele esteja em conjunção com o Sol no dia 19 próximo, desta forma ele estará mergulhado na intensa claridade do dia. Essas condições somente terão alguma mudança significativa no mês seguinte, quando a partir do dia 28 deste mês já estará na constelação de Gemini chegando sua elongação em 30/06 em 7.5° (W). Sua magnitude neste dia é estimada em -1.8 e seu diâmetro aparente de 32”.1 de arco.

Tão logo as condições observacionais sejam novamente favoráveis retomaremos as informações das respectivas magnitudes para o início, meio e término do mês às 00:00 (TU) dos seus principais satélites.

Saturno = A exclamação Uau! Durante as observações de Saturno, realmente não faltou à última astrofesta que participamos na última quinta-feira de maio, realizada nas quadras do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande Norte) em Natal – Brasil, quando os astrônomos(as) da ANRA (Associação Norte-riograndense de Astronomia) brindaram a todos os participantes do XIII EANE (Encontro de Astronomia do Nordeste) uma jornada observacional. Saturno estará presente na esfera celeste por quase todo o período noturno deste mês, embora suas magnitudes começam ligeiramente a baixar (0.4 em 15/06 e 0.5 em 30/06). Nos limites da constelação de Virgo, seus satélites naturais continuam apresentando um espetáculo à parte ao lado dos anéis, embora suas magnitudes começam a diminuir, conforme constatamos na tabela 3.

Urano = Urano chegará ao meio deste mês com uma elongação de 71.9°, com a magnitude estimada em 5.9. Ele embora esteja somente estacionário no próximo mês quando sua magnitude começa a ter ligeiro aumento, é um bom exercício identificar esse planeta através de um binóculo. Eu fico sempre na expectativa, pois Pisces na fronteira com aquela região celeste da constelação de Cetus apresenta diversas galáxias de menor brilho, mas que podem ser facilmente observáveis com um telescópio de porte médio (250mm ou acima). 

Netuno = O planeta Netuno será de fácil localização neste mês, se buscar-mos a identificação correta de 57 Aquarii, uma subgigante branca de tipo espectral A0IV e magnitude 4.8. 58 Aquarii, uma gigante também branca de classe espectral A8III, estará no campo de um binóculo o que facilitará muito a sua localização na segunda quinzena deste mês. As elongações desse planeta ficam a cada dia mais favoráveis alcançando em 30/06 123.1°(w). Sua magnitude é estimada em 7.9 neste mês.

Ceres e Plutão = As elongações do planeta anão (1) Ceres, vem reduzindo as possibilidades de suas observações, mas ainda nesta primeira quinzena as fases da Lua ajudarão bastante, embora seja menos brilhante que o longínquo Netuno, ele também um ótimo exercício no tocante a sua identificação na constelação de Gemini. Entretanto ele estará lá até o dia 16, quando então chegará às limitações celestes da constelação de Câncer com magnitude de 8.7. Já o planeta anão (134340) Plutão continua seu trânsito pela constelação de Sagittarius, sendo que em 24/06 está previsto uma ocultação pelo disco lunar; dessa forma a faixa de visibilidade abrange os observadores localizados no continente europeu, África Setentrional e ilhas do Atlântico Norte.  

CONSTELAÇÃO:

Lupus

A cultura desenvolvida pelos grandes filósofos do mar Egeu e Mediterrâneo, deu origem a uma transição cultural que chega até os dias atuais devido as épicas histórias do poeta Homero. Talvez venha com a deusa romana Diana e sua identificação grega como Ártemis, a lenda que "o lobo foi caçado pelo Centauro". Em todo caso, Lupus (figura. 2) torna-se uma constelação com boas surpresas para os astutos e perspicazes observadores. Os objetos celestes marcados em sua área celeste comprovam essa afirmativa.


A Associação Scorpius—Centaurus

alfa Lupi e uma estrela gigante branco azulada de magnitude 2.3 e tipo espectral B1.5III, que está associada a um grupo de estrelas chamado Associação Scorpius—Centaurus, que tem como ilustre representante a estrela Antares (alfa Scorpii), algumas estrelas da constelações de Ophiuchus, Crux, Hydra, Libra e Centaurus. Essa associação (atualmente de 47 estrelas listadas) mostra que os seus respectivos deslocamentos ocorrem quase em paralelo ao Sol (Jones. 1971). Ela encontra-se a uma distância 460 anos luz sendo também uma variável do tipo beta Cephei. Muito embora beta Lupi (mag. 2.6 e tipo espectral B2III) seja luminosa e massiva, ela não toma parte de uma lista de 47 estrelas dessa associação, mesmo que estejam naquelas proximidades omicron Lupi (mag. 4.3 e tipo espectral B5IV) e kapa Centauri (mag. 3.1 e tipo espectral B2IV), essa última em constelação diferente também está  incluída nessa associação.

Outras representantes dessa associação são: gama Lupi (mag. 2.7 e tipo espectral B2IV), binária de difícil separação de seu par embora seus componentes sejam quase idênticos, suas distâncias médias de separação corresponde a cerca de 140 unidades astronômicas, ou quase duas vezes a distância da órbita do planeta anão (134340) Plutão. A proximidade visual com delta Lupi (mag. 3.2 e tipo espectral B1.5IV) será neste caso somente um efeito visual, pois além de não existir uma estrela companheira ela estará um pouco mais distante das demais associadas, semelhante a omicron Lupi e kapa Centauri acima mencionadas.   

Existem ainda duas anãs brancas associadas desta constelação, que ajudarão também no correto delineamento dessa constelação; phi2 Lupi (mag. 4.5 e tipo espectral B4V) e psi2 Lupi (mag. 4.7 e tipo espectral B5V). Entretanto a subgigante branca azulada eta Lupi (mag. 3.7 e tipo espectral B2.5IV) será o destaque celeste, pois num pequeno telescópio essa estrela é uma dupla atraente, pois seu par HD143118 (mag. 3.4 e classe espectral B3), fará com que a cor branco polida fique esteja evidente. A separação estimada de ambos os componentes é cerca de 2.600 UA.

As binárias de Lupus

Tornar-se-á uma atividade bastante interessante ao observador, fazer uma varredura na constelação de Lupus para identificação de uma série de estrelas binárias (duplas e/ou múltiplas) ali existentes desde que empregue bons aumentos e selecione as que são facilmente separáveis com seu respectivo equipamento. 

Assim a seleção sugerida acompanha alguns comentários que em minha opinião são válidos; então: phi2 Lupi e um belo par com estrelas de magnitudes 4.53 e 4.54, ambas azuis, pedindo uma abertura mínima de 80mm para a resolução. kapa1 Lupi é um par com magnitudes 3.8 e 5.6. Nas proximidades de lambda Lup (mag. 4.0 e tipo espectral B3) uma anã branco azulada de difícil resolução, poderemos identificar de modo mais fácil um sistema que foi enumerado no J. Dunlop´s Catalogue (elaborado por James Dunlop 1793 – 1848)  como ∆ 178. Esse par é constituído por duas gigantes alaranjadas de magnitudes 6.4 e 7.3 respectivamente. Já mais ao norte nesta constelação, poderemos localizar também a anã branco azulada xi Lupi com estrelas de magnitude 5,1e 5.6 respectivamente, identificada por ele como ∆ 196.

Obviamente a dupla h 4788 não passou despercebida pelo observador John Herschel na compilação do General Catalogue of 10.300 Multiple and Double Stars, subgigantes branco azuladas de magnitudes 4.5 e 6.6 respectivamente, a separação de ambas é de 2.5”. 

A Explosão da SN1006 

Dos dias atuais ao longínquo ano de 1006 d.C, mudanças significativas ocorreram na esfera celeste, mas os registros sobreviventes de diversas culturas daquela época dão informação do súbito aumento de brilho de uma estrela, quando observadores viram-na também durante o dia e acompanharam por mais de dois anos durante o período noturno; certamente tal brilho supera facilmente em magnitude o planeta Vênus na esfera celeste e isso obviamente não deixaria de ser registrados pelos diversos sábios daqueles tempos. Chega assim o relato que “provavelmente uma supernova” - apareceu na vizinhança da estrela Beta Lupi. Essa ocorrência permaneceria a única até o ano de 1054, quando foi registrada a SN1054, que produziu a Nebulosa do Caranguejo (M1).

O mais interessante nestes registros e justamente à possibilidade de se localizar a exata posição do restante do material que certamente foi ejetado para o espaço e ao que tudo indica, uma “anã branca” capturou matéria de mais de uma estrela companheira e explodiu. Hoje já se realizaram inúmeras varreduras daquela região e poucos filamentos aparecem, assim mesmo quando está se empregando telescópios gigantes, como foi utilizado o telescópio refletor de 4 metros em Cerro Tololo no Chile. 

A Nebulosa Planetária NGC 5882 e o Aglomerado Globular NGC 5986

Os eventos “supernovas” cujo termo foi empregado em 1933 para associar corretamente as gigantescas explosões de estrelas nas fases finais de seus ciclos de vidas (Napoleão. 2006), certamente Walter Baade (1893 – 1960) não conseguiu também qualquer traço certo de uma nebulosa remanescente da SN1006, mas torna-se impossível ele não deixar de apreciar próximo dali uma das nebulosas planetárias mais coloridas do céu, a NGC5882. 

Observadores reportam que telescópios de 150mm já conseguem detalhar uma coloração azul esverdeado, na NGC5882, embora mais detalhes de seu halo não sejam percebidos com esta abertura ótica. Até mesmo por sua magnitude ela pode ser considerada um dos objetos celestes mais atraentes daquela constelação. 

Apreciando todo o conjunto da constelação de Lupus e regiões celestes adjacentes, os observadores são de certa forma unânime ao afirmar que esta área é uma das regiões mais interessantes e excitantes de todo o céu. Aglomerados de todos os tipos, abertos e globulares são uma constantes devido à região da Via Láctea. Ela apresenta muitos campos ricos, recompensando o observador que os apreciam seja com binóculos ou um telescópios de pequena resolução. Assim ligeiramente menos brilhante que seus vizinhos em Scorpius e Ophiuchus encontraremos o Aglomerado Globular NGC 5986 que poderá facilmente ser localizado entre as estrelas Eta Lupi e Phi2 Lupi. O NGC 5986, tem uma magnitude de 7.1, sendo que ao observarmos com um telescópio de 140mm (ou acima) de abertura, será possível conseguir observar as estrelas que constituem esse aglomerado. 

Como naqueles tempos em que a civilização continuava seu avanço nos litorais do mares mediterrêano e Egeu, o animal também não perdeu seu instinto de marcação de território e hoje, os modernos caçadores que sabiamente trocaram as armas e alforjes por binóculos e telescópios, tenham a descrição daquela área celeste, encontrando assim a motivação necessária para que sua busca tenha êxito. 

Glossário: 

(ua) = Unidade Astronômica. Unidade de distância equivalente a 149.600 x 106m. Convencionou-se, para definir a unidade de distância astronômica, tornar-se como comprimento de referência o semi-eixo maior que teria a órbita de um planeta ideal de m=0, não perturbado, e cujo período de revolução fosse igual ao da Terra.

(a.l) = Ano Luz. Unidade de distância e não de tempo, que equivale à distancia percorrida pela luz, no vácuo, em um ano, a razão de aproximadamente 300.000 Km por segundo. Corresponde a cerca de 9 trilhões e 500 bilhões de quilômetros.

Afélio = Maior distância do Sol de um corpo em órbita ao seu redor.

Dicotomia = Aspecto de um planeta ou de um satélite quando apresenta exatamente a metade do disco iluminada.

Periélio = Menor distância do Sol de um corpo em órbita ao seu redor. 

MPa = Movimento Próprio anual, sendo: (-) em aproximação, (+) em recessão.

E3 = Galáxia Elíptica de achatamento intermediário.

SO = Galáxia de forma Lenticular.

" = Segundos de arco.

Boas Observações!

Referências:

- Mourão, Ronaldo Rogério de Freitas - Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro (RJ) - 1987, 914 P.

- Campos, Antônio Rosa - Almanaque Astronômico Brasileiro 2013, Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), Belo Horizonte (MG) - 2012, 100P.

- Burnham, Robert Jr. – Burnham's Celestial Handbook. Dover Publications, Inc., 1978. ISBN 0-486-23568-8 pp. 1111–1122.– Inc. New York – USA, 1978. 

- Cartes du Ciel - Version 2.76, Patrick Chevalley -  http://astrosurf.org/astropc - acesso em 19/02/2013.

- Ratcliffe, M et al. - Astronomy Brasil, Maio 2006, P.39, Vol. 1, n° 1. Ed. Andrômeda - São Paulo -  Brasil. 

- Napoleão, Tasso – Astronomy Brasil, Dezembro 2006, P. 67/67. Vol. 1, n° 8. Duetto Ed &. Ed. Andromeda – São Paulo -  Brasil.

- Jones, D. H. P. - Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, Vol. Vol. 152, p. 231 – 259 Bibliographic Code: 1971MNRAS.152..231J – Acesso em 1704/2013.
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