Dia Nacional da Astronomia, Dia do Astrônomo


Astrônomos de todo País comemoram neste domingo, 2, de dezembro, o seu dia. Eu estava presente em Recife - PE, durante o 2º Encontro de Astronomia do Nordeste celebrado de 30 de junho a 3 de julho de 1978 quando aprovamos por unanimidade o título de Patrono da Astronomia Brasileira a D. Pedro II (1825-1891). A escolha do dia 2 de dezembro celebra a data de nascimento do mais erudito governante brasileiro. A partir da escolha a efeméride ganhou força e a data passou a celebrar o Dia Nacional da Astronomia, o Dia do Astrônomo.

MOTIVOS

Foram muitas as razões da escolha. Além de astrônomo amador, modernizou o Imperial Observatório do Rio de Janeiro criado pelo seu pai D. Pedro I através do decreto de 15/10/1827  e contratou astrônomos europeus de renome para aqui trabalhar. No dia 29/07/1887 a convite do renomado astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925) esteve presente na inauguração do Observatório de Juvisy, ocasião em que inaugurou a luneta de 24 cm, plantou um pinheiro nos jardins do Observatório (que existe até hoje) e concedeu a Flammarion a comenda da Ordem da Rosa.

Membro da Sociedade Astronômica da França, sócio honorário da Academia de Ciências de Paris desde 1877, honraria alcançada por poucos, em seu observatório particular construído no telhado do Palácio de São Cristovão, hoje Museu Nacional, recebia alunos para aprender a observar o céu e usar os instrumentos. No Imperial Observatório tinha um apartamento para descansar após horas de observação. Sob forte oposição do Parlamento e até merecendo críticas e caricaturas na imprensa, concedeu aos astrônomos as verbas necessárias para instalar três missões científicas, uma delas em Punta Arenas, Patagônia chilena, para a observação da passagem do planeta Vênus pelo disco solar em 6/12/1882, fenômeno que   só iria se repetir em 8/6/2004.

As observações foram um sucesso pois permitiram desenvolver cálculos precisos para determinar a distância Terra-Sol e com isto as demais distâncias dos outros planetas. Junto com Luiz Cruls no Imperial Observatório efetuou a primeira análise espectroscópica de um cometa. Observou do seu observatório o eclipse do Sol de 1857. Doou vários instrumentos ao Imperial Observatório, dentre eles a luneta astrográfica que deveria ser usada no programa da Carta do Céu. Os trabalhos do Imperial Observatório passaram a ser reconhecidos e admirados internacionalmente. Em 1890, já no exílio, D. Pedro II foi homenageado com o nome do asteróide Brasilia de numero 293 descoberto em Nice pelo astrônomo A. Charlois (1864-1910).

Faltava contudo ao Imperial Observatório, atual Observatório Nacional do Rio de Janeiro, um grande telescópio e ele foi encomendado por D. Pedro II  na Inglaterra. Desgraçadamente contudo o navio que transportou o instrumento chegou ao Rio justamente na ocasião da Proclamação da República e os republicanos não perderam tempo: mandaram o telescópio de volta! Para a astronomia era o inicio da idade das trevas que culminaria em 1930 com a extinção da cosmografia dos bancos escolares pelo então ministro da educação Francisco Luiz da Silva Campos. Enquanto nossos vizinhos, o Uruguai e a Argentina a conservavam, nós a eliminávamos. Era o inicio de um analfabetismo cósmico que iria perdurar por muitas gerações.

O NOVO CÉU DO BRASIL

É  somente na década de 60 com a criação do primeiro curso de formação em astronomia pela UFRJ, pela importação de instrumentos e planetários pelo governo militar, pela implantação em 1980 do Laboratório Nacional de Astrofísica do Observatório Nacional em Brasópolis - MG, pela  presença do Brasil nos dois maiores complexos astronômicos do mundo no Havaí e no Chile  e recentemente com mais um curso de formação em astronomia pela USP, podemos dizer que estamos no caminho certo.

Cumpre ressaltar que pós-graduação e doutorado em astronomia é realizado por várias universidades, pelo Observatório Nacional e pelo IAG-USP. Por outro lado a criação de observatórios e planetários até em escolas, em clubes de astronomia, as “Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica”, OBAA, os “Encontros Nacionais de Astronomia”, ENAST que deram origem aos EREAs, “Encontros Regionais de Astronomia”, bem como os da Sociedade Brasileira de Astronomia, SBA, estão desenhando um novo perfil para a astronomia nacional. Também é importante salientar a notável contribuição da astronomia ao Programa Espacial Brasileiro. Aliás, astronomia e astronáutica estão indelevelmente, ligadas.

*Nelson Travnik é astrônomo nos observatórios municipais de Americana e Piracicaba, SP e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
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