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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Vicente Ferreira de Assis Neto

Personagens da nossa Astronomia

Vicente Ferreira de Assis Neto
1936-2004


*Nelson Travnik

No dia 3 de novembro de 2004, com apenas 68 anos, aquele homem que desfrutava a vida saudável do campo, trazia, contudo, uma debilidade em seu peito que o apartaria do nosso convívio. Embora agropecuarista, sempre ligado a Fazenda do Perau de seus pais, no município de São Francisco de Paula, MG, Vicente estudou matemática em nível superior no INCA de Lavras, MG. Fascinado pela beleza do céu, guiado pela erudição de sua mãe Maria Santos, vislumbrou na coleção ‘Tesouros da Juventude’ uma janela para o céu e nunca mais parou. Astronomia era certamente a única ciência apta a lhe responder as três perguntas que mais aguçam o espírito humano: de onde vim, onde estou e para onde vou. Assim a partir dos 16 anos tornou-se um discípulo de Urânia e não tardou muito para em 1963 fundar o seu Observatório do Perau. Era membro da Société Astronomique de France,SAF, Société d’ Astronomie Populaire de Toulouse, British Astronomical Association, BAA, Liga Ibero Americana de Astronomia, LIADA, Sociedade Astronômica Brasileira, SAB e coordenador da seção de cometas do Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais, CEAMIG. Sua afinidade maior tanto pelo domínio do idioma como admirador da obra de Camille Flammarion (1842-1925) era com a SAF. Recebia regularmente a revista L’ Astronomie fundada por Flammarion em 1887. Sob suas mãos na urna funerária o seu filho Paulo César colocou um exemplar da L’ Astronomie que o acompanhou para o túmulo a para a vida em outros planos e mundos. Como dizia o Mestre de Juvisy: que mistério é a vida, que mistério é a morte...

SEMPER OBSERVANDUM

Suas observações de cometas, estrelas variáveis e do Sol eram publicadas pelas entidades a qual pertencia bem como nas circulares da União Astronômica Internacional, da International Comet Quarterly, Comet News Service, e no Solar Bulletin, EEUU. Até 1994 havia observado 112 cometas o que lhe valeu citação no Guiness Book como um recorde sul-americano. O astrônomo John Bortle considerou Vicente como um dos três maiores observadores de cometas do hemisfério sul. Chegou a descobrir independentemente o cometa White-Ortiz-Bolleli (C/1970 LI) em 25/05/1970 e a Nova Cygni em 29/08/1975. Na época da aparição do cometa Halley em 1985/86, foi convidado para ser o Primary Contact para o Brasil e América Latina em relação ao International Halley Watch da NASA-JPL e o Smithsonian Institution. Em março de 1986 hospedou e realizou observações do cometa Halley junto com o astrônomo e escritor francês Jean Claude Merlin, autor dos livros “Les Comètes” e “Les Asteroïdes” entre outros. Quando do Programa LION (Lunar International Observers Network) do Center for Short-Lived Phenomena do Smithsonian Institution, por ocasião do Projeto Apollo, (1968-72), foi convidado pelo insigne astrônomo Ronaldo R. F. Mourão, coordenador no Brasil, a fazer parte do Programa no sentido de realizar durante as missões Apollo um patrulhamento intensivo do nosso satélite com vistas a detectar os famosos Fenômenos Transitórios Lunares conhecidos pela sigla TLP’s. Vicente era um assíduo observador solar enviando regularmente suas observações para o Observatoire Royal de Belgique, um dos órgãos centralizadores do mundo. Observou os eclipses totais do Sol em Alegrete, RS, (1966) e o de 1994 em Concórdia, SC. No Observatório do Perau utilizava um telescópio refletor newtoniano de 310mm com óptica de José Scarel, SP, um outro de 96mm da DFV e um binoculo 10X70. Seu nome consta do Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica de Ronaldo R. F. Mourão, Editora Nova Fronteira.

FAMILIA – RELACIONAMENTO

Leitor assíduo dos clássicos, amante da musica erudita, além de sua devoção a Astronomia, Vicente dedicava-se muito a família. Casou-se com sua prima Júnia B. Santos Assis e teve cinco filhos: João Américo, Paulo César, Cassio, Marco Júnio e Carlos Eduardo. Estive duas vezes no Perau. A primeira vez foi em julho de 1968, ocasião que foi feita a fotografia em anexo. Éramos então jovens, ambos imbuídos em prestar efetiva contribuição científica a Astronomia. A publicação dos nossos trabalhos no exterior fala por si. E isso é o que importa. O grande legado deixado pelo amigo e companheiro Vicente Ferreira de Assis Neto.


Referências: - Vicente, o astrônomo que foi para o céu, João Ribeiro de Barros
- Apontamentos sobre Vicente F. Assis Neto, Carlos E. Santos Assis
- Arquivo Nelson Travnik

*O autor é astrônomo nos observatórios astronômicos de Americana e Piracicaba, SP, e Membro Titular da SAF.

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