A Ocultação de Antares pela Lua em 18/12/2025

Antônio Rosa Campos

Em 18 de dezembro próximo, a Lua -2% iluminada e uma elongação solar de 17° ocultará a brilhante Antares (Alfa Scorpii), Magnitude visual: 1.07 (Figura 1). Esse evento poderá ser observado no extremo sul do Brasil, bem como em partes adjacentes da América do Sul, incluindo a Argentina, extremo sudoeste da Bolívia, Chile e Uruguai. Observadores munidos com pequenos instrumentos óticos como binóculos, lunetas e telescópios terão a oportunidade de presenciar o desaparecimento e reaparecimento de Antares, proporcionando um belo espetáculo celeste. 

Fig. 1 - Trajetória da Ocultação de Antares: Cidades no RS - Brasil.

Nesta oportunidade, esse fenômeno será visível de forma diurna na América do Sul e também ao sul do continente africano, com desaparecimento e reaparecimento ocorrendo na cidade de Cape Town.

Como mencionado, os observadores situados na região austral da América do Sul poderão acompanhar as duas fases deste evento durante o dia. O fenômeno será visível a partir dessa área, mas será necessário o uso de equipamentos apropriados devido à proximidade com a luz solar, conforme indicado na Tabela 1. Nessas condições gerais de visibilidade, é essencial que os observadores estejam adequadamente preparados e utilizem instrumentos apropriados para a observação.

Circunstâncias Gerais de visibilidade no Brasil

Observadores localizados no Brasil, especialmente nas cidades do extremo sul do estado do Rio Grande como as citadas na tabela 1 e áreas adjacentes, terão a oportunidade de acompanhar a ocultação de Antares. Esses eventos de ocultações de estrelas pela Lua e outros semelhantes poderão ser consultados no Almanaque Astronômico Brasileiro de 2025, disponível para download gratuito no link: (https://is.gd/Alma2025)

Os observadores na África do Sul, especificamente na região de Cape Town, poderão acompanhar as duas fases do fenômeno. Já nas regiões de Gauteng, Pretória e em Maputo, Moçambique, será possível observar apenas a fase de desaparecimento, conforme apresentado na Tabela 2. Recomenda-se que os observadores dessas áreas estejam devidamente equipados com instrumentos adequados para garantir uma melhor visualização.

Além das circunstâncias gerais de visibilidade apresentadas nas tabelas acima, incluímos o mapa global com a faixa de visibilidade do fenômeno, que abrange todas as regiões mencionadas, bem como as ilhas na região sul do oceano Atlântico e junto à costa da África.

Fig. 2 - Mapa de Visibilidade da Ocultação Lunar de Antares (18 de Dezembro de 2025). 

Registro de Ocultações de Antares pela Lua no Brasil: 1986-1991

Durante a série de 68 ocultações de Antares pela Lua ocorridas entre 30 de março de 1986 e 04 de abril de 1991 (CORRÊA et al., 1990), diversos observadores brasileiros registraram as ocultações de alguns desses eventos, os quais podem ser visualizados na Tabela 3 abaixo. 

Essa tabela foi construída após consulta ao Acervo Astronômico (link: http://acervoastronomico.org/) mantido pelo astrônomo amador Edvaldo Trevisan e no presente texto voltaremos a fazer menção ao registro contido na CBA (Circular Popular de Astronomia) nº 121.

Esta estrela pôde ser observada no Brasil em 24/05/2024, quando nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste tiveram a oportunidade de vislumbrar o evento (CAMPOS, 2024). Os observadores Romualdo Caldas, Carlos Vasconcelos, Demisson Lopes, Péricles Terto, Flávio Fortunato, Neftali Jr, Gabriella Vitória, Paulo Coutinho, Andreia Juelle, Betânia Pereira e Ítalo Adriano, de Maceió/AL, e Geovandro Nobre, do Observatório Astronômico Rei do Universo, em Manaus/AM, realizaram registros desse evento. 

Antares

Antares é a 15ª estrela mais brilhante do céu sendo a guia perfeita ao delinearmos uma das grandes constelações existentes na esfera celeste sendo seu nome romano Cor Scorpionis, o "Coração do Escorpião", uma escolha por demais acertada para a designação desta magnífica estrela de primeira magnitude (BURNHAM'S, 1978) naquela região celeste. Flanqueiam Antares a inferior Paikauhale (Tau Scorpius) e a superior Al Niyat, ambas consideradas diretamente como: "as artérias", ligadas a estrela brilhante no coração do Escorpião (KALER, 2017) conforme vemos no mapa celeste (figura 3).

Fig. 3 - Localização de Antares e M4 no Escorpião

Antares e uma supergigante vermelha de classe e tipo espectral M1.5Iab-Ib sendo considerada uma variável semirregular de tipo tardio apresentando cerca de 1 magnitude em períodos entre máximos e mínimos de luz com variações entre: 0.75 - 1.21 V (AAVSO, 2023).  Suas dimensões excepcionalmente grande (aproximadamente 700 vezes maior que o do Sol) faz com que provavelmente seja superada em tamanho apenas por Betelgeuse (BURNHAM'S, 1978). Entretanto novos dados indicam que sua atmosfera se estende por um tamanho 12 vezes maior que esse diâmetro (MOTA, 2020) conforme concepção artística apresentada na Figura 4.

Durante o início da década de 1950, Evans e outros reconheceram que uma série única de ocultações lunares de Antares e Aldebarã, eventos que ocorrem em um ciclo de 19 anos, proporcionaria a oportunidade de tentar medir os diâmetros angulares dessas estrelas. Usando técnicas fotométricas convencionais, foram obtidas cinco observações bem-sucedidas da ocultação de Antares. Evans analisou os dados dessas ocultações e concluiu que Antares possivelmente não era esférica ou tinha manchas severas. Embora os resultados de Evans tenham sido recebidos com ceticismo na época, sua análise foi posteriormente confirmada por medidas interferométricas e estudos posteriores de ocultações (GLASS, 2014).

Observadores interessados não devem deixar de aproveitar as ocultações de Antares, especialmente aquelas que ocorrem entre a lua cheia e a nova, quando o reaparecimento ocorrerá na borda escura da Lua, e o companheiro surgirá primeiro, permanecendo visível por 5 ou 6 segundos antes que a primária apareça. As ocultações de Antares para esta série iniciaram em 23 de agosto de 2023 e encerrarão em 27 de agosto de 2028, totalizando 68 ocultações, sendo que 18 serão possíveis de ser registradas na América do sul.

Fig. 4 - Tamanho e Atmosfera de Antares: Uma Supergigante que Envolve o Sistema Solar

A companheira

Alpha Scorpii tem uma pequena estrela companheira (figura 6) geralmente descrita de coloração verde, Mv = 5.4, classe e tipo espectral B3V (MULLANEY, 2005), isso seja possivelmente um efeito ótico devido ao contraste com o "amarelo-dourado e rosa" profundo da primária. No entanto, existem pequenas controvérsias em relação a quem foi o primeiro a registrar essa observação em primeira mão. Durante uma ocultação de Antares pela Lua em 13 de abril de 1819, realizada em Viena, há um relato intrigante fornecido pelo Professor Johann Tobias Bürg. Ele descreveu o reaparecimento da seguinte maneira: "Às 12h 03m 17,1s, observei a emersão de uma estrela com magnitude 6,7. Cerca de 5 segundos depois, ela subitamente se transformou em uma estrela de primeira magnitude. Foi a partir dessa transição que o momento da emersão foi datado" (BURNHAM'S, 1978). Essa pequena estrela foi vista novamente pelo astrônomo escocês James William Grant (SHUBINSKI, 2021), na Índia em 1844 e, independentemente por Ormsby Macknight Mitchel com o refrator de 11,7 polegadas no Observatório de Cincinnati em 1845-1846 (BURNHAM, 1978; BELL, 2014). 

Fig. 5 - Órbita Binária de Antares: Movimento e Parâmetros

Quando as condições atmosféricas estão boas, ele aparece claramente em um telescópio de 6 polegadas (152 mm) como uma pequena centelha de esmeralda cintilante, quase afogada na luz rubra ardente da gigante Antares.  W. Dawes, na década de 1850, observou a estrela repetidamente utilizando igual abertura; E.J. Hartung (1968) a acha visível "em boas condições com 75 mm". W. Edgecomb usou Antares como objeto de teste para seu novo espelho de 15½" (393 mm) em julho de 1887 e relatou que: "o companheiro... destaca-se claro e ousado com 140 vezes o aumento. Imagens muito boas." (BURNHAM, 1978). 

Robert Burnham Jr. sempre a achou bastante fácil no refrator de 7 polegadas (177,8 mm) do Observatório Lowell quando o ar está calmo. Quanto à cor do companheiro, há as diferenças usuais de opinião; Hartung a considera: "verde pálido”, a qual menciona: que vi bem com 300 mm sob luz solar forte contra o céu azul". W.T. Olcott a chama de "verde vivo", enquanto K. McKready (1912) se refere a ela como azul; Mary Proctor em Evenings With the Stars (1924) a descreve como: "a astuta companheira de matiz verde", enquanto E. Crossley, J. Gledhill e J.M. Wilson, em seu Handbook of Double Stars (1879), citam as estimativas de cor de vários observadores: "azul", "roxo", "muito azul" e "verde". 

Unicamente pelo efeito de contraste, não é surpreendente que a pequena estrela pareça realmente esverdeada (BURNHAM, 1978), pois foi identificada essa coloração por uma equipe de astrônomos amadores do CEAMIG utilizando o Telescópio 0,6 m Zeiss do Observatório Astronômico Frei Rosário da UFMG em Caeté-MG em 1980. Registro semelhante ocorreu durante o reaparecimento de Antares em 22 de janeiro de 1990 (tabela 3 acima), quando o observador Roberto Ferreira Silvestre de Uberlândia reportou ter observado a companheira verde por pouco mais de 3s (SILVA, 1990).  

Essa companheira foi também registrada com sucesso pelos observadores brasileiros acima mencionados, durante a ocultação de 24/05/2024, conforme descrito no skyandobservers.com de julho de 2024, que você poderá acessar em: https://tinyurl.com/OccAlpSco0524RepObs.

Importância

As ocultações de estrelas pela Lua oferecem uma oportunidade ímpar para contribuir com a ciência enquanto se explora o céu. Ao testemunhar e registrar esses momentos, os astrônomos amadores desempenham um papel crucial na coleta de dados valiosos. Seu envolvimento não apenas enriquece o conhecimento coletivo sobre as estrelas envolvidas, mas também proporciona uma jornada única e emocionante de descoberta pessoal do meio interestelar que nós encontramos. A união de esforços para observar, registrar e compartilhar esses eventos inspira a todos com a maravilha do universo. 

Cada registro é uma peça importante, e sua próxima observação pode revelar novos detalhes que ainda aguardam ser compreendidos. Que tal contribuir para essa jornada científica?

Sites recomendados:

www.rea-brasil.org/ocultacoes

"Como observar"

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/observar.htm

"formulário de reporte"

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/1reporte_ocultacoes_lunares_v2.0c2_portugues.xls (ocultações lunares) ou

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/reporte_asteroides.xls 

(ocultações de estrelas por asteroides).

No Facebook:

https://www.facebook.com/groups/806932362709528/

Ocultações Astronômicas”.

Este grupo destina-se à divulgação e discussão de eventos astronômicos na área de 'Ocultações'; Ocultações de estrelas e planetas pela Lua, ocultações de estrelas por asteroides e as técnicas empregadas para o registro destes eventos (PADILLA FILHO, 2016).

Boas observações e céus limpos!

Referências:

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

CAMPOS, Antônio Rosa. Almanaque Astronômico Brasileiro 2025. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2024. 146 p. Disponível em: <https://is.gd/Alma2025>  Acesso em 02 Dez 2024.

PADILLA FILHO. A. A ocultação de TYC 5667-00417-1 por 236 Honoria. Sky and Observers, jul 2016. Disponível em:< https://sky-observers.blogspot.com/2016/07/a-ocultacao-de-tyc-5667-00417-1-por-236.html >, Acesso em 22 mai. 2017.

HERALD, D. Occult4 v4.1.0.27 (24 March. 2014) Uptade v4.2.0 available in: <http://www.lunar-occultations.com/occult4/occultupdate.zip> Acesso em: 02 Nov. 2022.

BURNHAM, Robert Jr. – Burnham´s Celestial Handbook (23567-X, 23568-8, 23673-0)– An Observer´s Guide to the Universe beyond the Solar System – Vol. Three – Dover Publications, Inc. New York – USA, 1978.

AAVSO, (Web site) The International Variable Star Index (VSX).Available in: <https://www.aavso.org/vsx/index.php?view=detail.top&oid=34002> Acess: 07 Set. 2023.

KALER, JB. Stars (HP WEB; last update on June. 26, 2009) - <http://stars.astro.illinois.edu/sow/antares.html> Acess in: 07 Set. 2023.

STELLE DOPPIE (Database), WDS - Available in: <https://www.stelledoppie.it/index2.php?iddoppia=66437> Acess in: 04 Setp. 2023.

MOTA, Renato. Olhar Digital (HP) Ciência e Espaço > Mapeamento atmosférico de Antares mostra o quão gigante a estrela é, (2020). Disponível em: <https://olhardigital.com.br/2020/06/17/ciencia-e-espaco/mapeamento-atmosferico-de-antares-mostra-o-quao-gigante-a-estrela-e/> - Acesso em: 07 Set. 2023.

MULLANEY, James. Double and Multiple Stars and How to Observe Them. 131 p. (Astronomers' Observing Guides). Editor: © Springer-Verlag London Limited, 2005. ISBN 1-85233-751-6 (acid-free paper).

SHUBINSKI, Raymond. Astronomy Magazine (HP) 22 Dec. 2021, Available in: <https://www.astronomy.com/observing/discover-the-skys-best-double-stars/> - Acess: 04 Setp. 2023.

GLASS, I.S. (2014). Evans, David Stanley. In: Hockey, T., et al. Biographical Encyclopedia of Astronomers. Springer, New York, NY. https://doi.org/10.1007/978-1-4419-9917-7_429 - Acesso em: 04 Set. 2023

BELL, T.E. (2014). Mitchel, Ormsby MacKnight. In: Hockey, T., et al. Biographical Encyclopedia of Astronomers. Springer, New York, NY. https://doi.org/10.1007/978-1-4419-9917-7_962 - Acesso em: 04 Set. 2023.

CORREA, Odilon Simões; SILVESTRE, Roberto Ferreira. Ocultação de Antares em 14/04/90. Paper Inédito, 9P. Correspondência Pessoal de 29 Jan. 1990 - R.F. Silvestre - Uberlândia – MG.

SILVA, Luiz  Augusto Leitão da (Editor). CBA-“Circular Brasileira de Astronomia” nº 109. Porto Alegre-RS, Brasil: [Luiz Augusto Leitão da Silva], 1989. (Link de Acesso para download: http://acervoastronomico.org/acervo/CBAs/CBAs%20-%20n%20109.pdf)

_________________________ - CBA-“Circular Brasileira de Astronomia” nº 121. Porto Alegre-RS, Brasil: [Luiz Augusto Leitão da Silva], 1990. (Link de Acesso para download: http://acervoastronomico.org/acervo/CBAs/CBAs%20-%20n%20121.pdf)

_________________________ - CBA-“Circular Brasileira de Astronomia” nº 130. Porto Alegre-RS, Brasil: [Luiz Augusto Leitão da Silva], 1990. (Link de Acesso para download: http://acervoastronomico.org/acervo/CBAs/CBAs%20-%20n%20130.pdf)

_________________________ - CBA-“Circular Brasileira de Astronomia” nº 132. Porto Alegre-RS, Brasil: [Luiz Augusto Leitão da Silva], 1990. (Link de Acesso para download: http://acervoastronomico.org/acervo/CBAs/CBAs%20-%20n%20132.pdf)

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