Messier 78 é um
objeto do céu profundo que se localiza na constelação Orion (Órion). Assim,
serão apresentadas primeiramente informações sobre essa constelação.
Falta
pouco tempo para a chegada do verão no hemisfério sul. Com a chegada dessa
estação, será possível visualizar no céu uma das mais belas constelações:
Órion. Facilmente reconhecível pela sua região central em forma de ampulheta, a
constelação é constituída por estrelas brilhantes que facilitam sua
identificação, mesmo em ambientes com considerável poluição luminosa. Por esse
motivo, é muito indicada para aqueles que pretendem iniciar-se na prática
observacional do reconhecimento do céu. Além disso, também é muito rica em
Objetos do Céu Profundo (DSO), sendo ainda mais tentador desejar observá-la por
meio de binóculos ou telescópios.
Vamos
conhecer primeiro um pouco mais sobre a constelação na qual a nebulosa se
encontra? Para entender a origem do nome Órion e sua conformação, é preciso
voltar a tempos remotos, quando se cultuavam divindades cujas histórias
ficcionais constituíram as mitologias greco-romana:
Órion, filho de Netuno, era um belo gigante e
poderoso caçador. Seu pai deu-lhe o poder de andar pelas profundezas do mar ou,
segundo outros dizem, de caminhar sobre sua superfície. (...) Órion viveu, como
caçador, com Diana, de quem era favorito, chegando-se mesmo a dizer que ela
quase se casou com ele. O irmão da deusa, muito desgostoso, censurava-a,
frequentemente, mas em vão. Certo dia, observando Órion que vadeava o mar
apenas com a cabeça acima d'água, Apolo mostrou-o a sua irmã, afirmando que ela
não seria capaz de alvejar aquele objeto negro sobre o mar. A deusa caçadora
lançou um dardo, com pontaria fatal. As ondas empurraram para a terra o cadáver
de Órion e, percebendo, com muitas lágrimas, seu erro, Diana colocou-o entre as
estrelas, onde ele aparece como um gigante, com um cinto, a espada, a pele de
leão e uma clava. Sírius, seu cão, o acompanha, e as Plêiades fogem diante
dele.” (BULFINCH,
2002)
Com
essa descrição, fica mais fácil então compreender como os antigos enxergaram o
gigante no céu. Veja na Figura 1 a conformação da constelação Orion:
Figura
1 - Constelação Orion conforme visualizada no software Stellarium. Note a
imagem do caçador-gigante, que reproduz com precisão a descrição contida no
texto citado anteriormente. Fonte: (STELLARIUM
DEVELOPERS, 2022)
Orion pode ser vista em latitudes
entre +85° e -75°, tendo como constelações vizinhas Gemini, Taurus, Eridanus, Lepus
e Monoceros (Figura 2) (CONSTELLATION
GUIDE, 2021).
Figura 2 - Constelações de Gemini, Taurus,
Eridanus, Lepus e Monoceros, conforme visualizadas no software Stellarium. A linha branca delimita a área de cada
constelação. Fonte: (STELLARIUM
DEVELOPERS, 2022)
A
constelação recebeu a designação oficial de Orion, a abreviatura Ori e as
estrelas pertencentes a essa constelação podem ser referenciadas pelas letras
gregas seguidas pela palavra Orionis (que indica que a estrela pertence à
constelação de Órion). As estrelas mais facilmente reconhecidas, conforme
mostrado na Figura 3, são: Betelgeuse (α Orionis ou α Ori), Meissa (l
Orionis ou l Ori), Bellatrix (γ Orionis ou γ
Ori), Tabit (1 Ori), Alnitak (ζ Orionis ou ζ Ori), Alnilam (ε Orionis ou ε
Ori), Mintaka (δ Orionis ou δ Ori), Hatysa (i
Orionis ou i Ori), Saiph (κ Orionis ou κ Ori)
e Rigel (β Orionis ou β Ori).
Figura 3 - Constelação Orion conforme visualizada no software
Stellarium e as suas principais estrelas. Fonte: (STELLARIUM
DEVELOPERS, 2022)
Em
Orion, há um asterismo muito conhecido popularmente no Brasil como as Três
Marias (composto pelas estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka). É ainda
reconhecido também pelas denominações Três Reis Magos ou Cinturão de Órion
(veja a Figura 4). Portanto, para ficar claro, as Três Marias não são uma
constelação por si só, mas um agrupamento de estrelas pertencentes à
constelação de Órion.
Figura
4 – Localização do Cinturão de Órion e do objeto Messier 78, conforme
visualizadas no software Stellarium. onte:
(STELLARIUM
DEVELOPERS, 2022)
É nesta constelação que se
localiza Messier 78, sendo também identificada no New General Catalog
como NGC 2068 (Figura 5). Sua descoberta foi realizada por Pierre Méchain, em
1780. Trata-se de uma nebulosa de reflexão difusa, a mais brilhante do
céu. Está distante aproximadamente 1.600 anos-luz de nós, possui magnitude
visual de +8.3. Em termos de área, ocupa 8’ x 6’ de arco, que corresponde a um
diâmetro linear de 10 anos-luz (MESSIER OBJECTS,
2015).
Figura 5 – Messier 78 Fonte: (ESO/IGOR CHEKALIN, 2011)
Um aspecto interessante a ser
notado é a cor azulada da nebulosa. Ela ocorre porque há estrelas jovens azuis
ao centro e porque as pequenas partículas de poeira possuem uma maior
refletividade na cor azul. Vale ainda destacar que a nebulosa sedia muitas
estrelas muito jovens que, na sua maioria, ainda não atingiram sua posição de
equilíbrio na sequência principal (STOYAN et al.,
2008).
A nebulosa Messier 78 está localizada em uma região de objetos conhecida como Complexo
de Nuvem Molecular de Órion, que inclui outras nebulosas como NGC 2064, NGC
2067 e NGC 2071, sendo M 78 a nebulosa de reflexão mais brilhante do grupo (MESSIER OBJECTS,
2015).
A nebulosa M 78 pode ser facilmente localizada, estando aproximadamente
2° a nordeste da estrela
Alnitak, que se localiza no Cinturão de Órion (ver Figuras 3 e 4). Com binóculos
10 x 50, Messier 78 aparecerá como um objeto fraco e, mesmo assim, precisará de
céus escuros para que se consiga visualizá-lo. Já com grandes binóculos e
telescópios pequenos, será possível visualizar uma mancha de luz similar a um
cometa, com duas estrelas de magnitude visual 10 a iluminando. Cabe destacar
que, com uma abertura de 70 mm e uma ampliação de 16 vezes, já seria suficiente
para revelar sua característica aparência de cometa, com as duas estrelas. Com
um telescópio de 100 mm, dependendo-se das condições, poderão ser vistas a névoa
ao redor de M 78 e a nebulosa de reflexão próxima NGC 2071. Já com um de 200 mm,
já se começa a observar os detalhes de Messier 78 (MESSIER OBJECTS,
2015)
(STOYAN et al.,
2008).
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skyandobservers@gmail.com.
Referências:
BULFINCH,
Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 418 p.
CONSTELLATION
GUIDE. Orion Constellation (the Hunter): Stars, Facts, Myth, Location. 2021.
Disponível em:
https://www.constellation-guide.com/constellation-list/orion-constellation/.
Acesso em: 18 dez. 2022.
ESO/IGOR CHEKALIN. Messier 78: a reflection nebula
in Orion. 2011. Disponível em: https://www.eso.org/public/images/eso1105a/.
Acesso em: 2 nov. 2022.
MESSIER OBJECTS. Messier 78. 2015. Disponível
em: https://www.messier-objects.com/messier-78/. Acesso em: 2 nov. 2022.
STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação Orion:
conformação, constelações vizinhas, principais estrelas e localização. Boston Stellarium.org, 2022.
Disponível em: https://stellarium.org/pt_BR/.Stellarium Astronomy Software
STOYAN,
Ronald; BINNEWIES, Stefan; FRIEDRICH, Susanne; SCHROEDER, Klaus-Peter. M 78. Em:
Atlas of the Messier Objects Highlights of the Deep Sky. New York:
Cambridge University Press, 2008. p. 269–71. ISBN: 978-0-511-42329-1. Acesso
em: 20 nov. 2022.