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Na história do planeta, a ânsia de milhões de pessoas tem se debruçado sobre os mistérios do universo, mente e natureza no afã de buscar respostas para instigantes questões.
Apesar da rejeição de certas crenças, quer queira quer não, a evolução está comprovada cientificamente. Quando Charles Darwin (1809-1882) escreveu em “A Origem das Espécies” ao mesmo tempo que seu colega Alfred Russel Wallace que ‘somos descendentes de vermes e moluscos’, a comunidade científica e o clero estremeceram. A teoria evolucionista afrontava a Bíblia. Darwin e Wallace tinham chegado em suas pesquisas a ação da seleção natural na origem das espécies, ponto fundamental da teoria da evolução. Ainda hoje a ideia de que o homem possui forte parentesco com os primatas – eles possuem 48 cromossomos, dois a mais que o homem – continua provocando polêmicas e inaceitável para algumas crenças e muitas escolas nos Estados Unidos que não aceitam incluir na grade curricular o estudo da teoria evolucionista. Apegadas ao criacionismo, entram em confronto direto com a paleontologia. Os museus de história natural estão exibindo pois uma mentira. A ideia de um primata meio-homem e meio-chipanzé, passando daí para o homem, foi uma evolução lenta e progressiva no campo genético que demandou cerca de 3,5 milhões de anos pois a natureza não dá saltos. O que a ciência investiga é quando e como teria ocorrido a mutação genética nos nossos parentes mais próximos. Um longo e lento processo do homo habilis, ao homo erectus e desse ao homo sapiens que somos nós. Recuando mais no tempo, atualmente os cientistas concordam que somos subproduto acidental feitos de água, de terra, de ar, da luz e de outros elementos forjados no interior de uma estrela, o Sol. As novas revelações astronômicas e bioquímicas fixam fortemente a crença na ocorrência da vida na amplidão cósmica. Diversas moléculas orgânicas já foram detectadas no meio interestelar e nos cometas existe água e carbono. Há fortes evidências que o impacto de cometas e corpos assemelhados que já contém substâncias pré-bióticas, desencadearam o processo vital na Terra. Essas teorias são objeto de discussões e polêmica no meio científico. Uma coisa contudo não parece haver dúvida como muito bem a Igreja admitiu recentemente: Deus não usou varinha mágica e a evolução é fato comprovado. Charles Darwin dizia que bastasse que lhe apontassem um único ser vivo sem um antepassado e ele rasgaria sua teoria da evolução. Qualquer processo contudo pode e precisa ser ordenado em uma linha do tempo. No universo toda a matéria é sustentada por uma rede em que espaço e tempo se entrelaçam. Ao que parece, tudo começou com uma “flutuação quântica” naquele pontinho minúsculo que concentrava toda a energia e a matéria que viria através de um Big Bang ou agora como creem alguns, uma expansão que marcou o inicio do universo. Para os religiosos que perguntam sempre o que Deus fazia antes de criar o céu e a Terra, a resposta de S. Agostinho registrada em suas “Confissões” era profunda e misteriosamente exata do ponto de vista da melhor ciência atual. “Deus não fazia nada mas não significa que ficava o tempo ocioso. Ele não havia ainda criado o tempo”.
A Terra em um espaço Turbulento
Ao contrário de muitas espécies que desapareceram, o homem conseguiu sobreviver em um planeta palco de violentas mudanças climáticas e toda espécie de doenças, cataclismos e destruições. Vestígios estão em toda parte. Já experimentamos cinco extinções em massa. A última há 65 milhões de anos dizimou 80% da vida e nesse ‘pacote’ lá se foram os dinossauros. Se o homem estivesse presente nessa época longínqua, talvez você não estaria lendo esse artigo. Azar deles, sorte nossa. Na escala geológica do tempo, estamos aqui em um período infinitesimal pequeno. Infelizmente violentas mudanças geológicas, geofísicas, climáticas e contínua agressão a natureza, indica que estamos apressando a ocorrência de eventos que irão ceifar a vida de milhões de pessoas. Da Terra para o céu, ao contrário da antiga concepção de um universo tranqüilo e de ‘paz celestial’, os modernos meios de investigação astronômica tem mostrado um cosmo extremamente violento. Colisões de asteroides e cometas em planetas, explosões de estrelas super e hipernovas aniquilando tudo ao seu redor com radiação X e gama, buracos negros promovendo um canibalismo cósmico a quem se atrever se aproximar deles e colisão de galáxias, este é o universo que a astronomia nos mostra atualmente. Estamos pois indefesos expostos a eventos cósmicos capazes de, a qualquer momento, varrer a vida no planeta. Simplesmente estamos deslocados a um canto de uma galáxia espiral, invisíveis a partir do núcleo central, em torno do qual giram bilhões de estrelas, muitas das quais com planetas ao seu redor e com suas humanidades que podem pensar também que são senhores da criação e donos da verdade.
Os grandes Desafios da Mente
A ciência nos aproxima da natureza, dos mistérios insondáveis do cosmo e nos transporta a uma percepção do mundo que pode ser também profundamente espiritual. Albert Einstein (1879-1955) justificava sua devoção a ciência como ‘sentimento religioso cósmico’. Numa contemplação retrospectiva utilizando o raciocínio e a razão, poderíamos concluir que a fé obrigatoriamente necessita estar condizente com nossa existência desde as cavernas ao homem espacial. Fé e ciência caminhando juntas. Obviamente nesse pensamento não estão incluídos aqueles que acreditam simplesmente que tudo é parte de uma evolução da matéria e que não existe nada além disso. Charles Darwin (1809-1882), pensava assim numa ampla ideia de um determinismo genético. Alfred Russel Wallace (1823-1913), que chegou paralelamente aos mesmos resultados de Darwin, ao contrário, buscou uma explicação para satisfazer sua espiritualidade. Procurou conhecer antigas filosofias orientais e os estudos e revelações feitas pelo ilustre cientista e pedagogo, Hippolyte Léon Denizard Rivail- Allan Kardec. Abraçou a ideia de uma evolução também espiritual. Evolução é vida e seria também espiritual para explicar as enormes diferenças sociais, culturais e ações dos seres humanos. Da Terra para o céu, as extraordinárias descobertas de planetas orbitando outras estrelas, confirmando a escola de Epícuro (341 -271 a.C.), o poeta romano Titus C. Lucretio (97 -55 a.C.), o astrônomo e filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600), o escritor francês Bernard Le Bovier de Fontenelle (1657-1757 e mais recentemente o astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925) de que existem infinitos mundos habitados, atualmente ninguém mais duvida disso. Os cientistas acreditam que podem haver civilizações lá fora e quando chegar aos nossos potentes radiotelescópios aquela tão aguardada mensagem: também estamos aqui! surgirá uma nova era para a humanidade que irá deitar abaixo a crença milenar de que somos seres de uma civilização especial, donos da verdade, centro da criação e eleitos de Deus. A astronomia nos mostra que somos engrenagens microscópicas, um grão de poeira em um vasto universo que existe há bilhões de anos antes do aparecimento do Sol, da Terra e dos humanos e que ele seguirá adiante muito bem sem nós. O universo é um celeiro de vida. Indiferente aos anseios e ambições humanas, está pouco se importando com nosso planeta, nossa existência, nossas conquistas, nossas crenças e nosso futuro. E muito menos com aqueles que crêem que Josué parou o Sol! A origem das origens está além da astronomia e talvez além da filosofia no reino do que é para nós, o Incognoscível.
O autor é astrônomo e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.