O céu do mês – Julho 2014

arcampos_0911@yahoo.com.br
CEAMIG – REA/Brasil – AWB

Mensurar os objetos celestes para que se possa melhor apreciar a beleza do céu; talvez seja essa uma das concepções básicas que são ensinadas aos recém-diletantes na ciência astronômica.  Observar o céu então de forma simples, vai somente complementar as nossas aspirações. Os eventos para esse mês então, não passarão despercebidos pois novamente a Lua brindará os observadores no hemisfério ocidental com duas fantásticas ocultações que envolverão Marte em 06/07 e posteriormente Saturno em 08/07. É importante mencionar também que Rho Sagittarii, Dabih Major e Hyadum II serão ocultas pelo disco lunar neste período e que esses a amplitude desses fenômenos, vem despertando a cada vez mais o interesse de diversos observadores para esse tipo de evento, facilmente acessíveis a telescópios de pequeno e médio porte. Aos diletantes: Já conseguiram localizar Spica (alfa Virgo) e Aldebaran (alfa Tauri)? A Lua dará novamente a bela oportunidade de localizar essas brilhantes estrelas em neste mês, sendo que a partir desse referencial e utilizando uma carta celeste poderemos localizar outros pontos interessantes da abobada celeste. Então que tal apreciar também uma celestial Régua imaginada no século XVIII por Lacaille? A única certeza que tenho até o momento e que não iremos ficar decepcionados na contemplação da esfera celeste local.


Ocultações de Marte e Saturno (e estrelas) pela Lua

A ocultação de Marte em 06 de julho 2014

Em 6 de julho próximo, a Lua + 56% iluminada e com uma elongação de 97°, ocultará o planeta Marte cuja magnitude estará estimada em  0.1. Os observadores localizados na América Central, na América do Norte e ainda na região central da América do Sul  poderão acompanhar esse evento, de acordo com a figura A, apresentada no quadro 1. Veja maiores informações em sobre as circunstâncias de visibilidade nas diversas regiões em: http://skyandobservers.blogspot.com.br/2014/07/a-ocultacao-de-marte-pela-lua-em-6-de.html.

A ocultação de Saturno em 08 de julho 2014

Em 08 de julho próximo, a Lua + 75% iluminada e com uma elongação de 121°, ocultará o planeta Saturno com a magnitude de 0.4  Os observadores localizados na região mais austral da América do Sul, poderão acompanhar esse evento, de acordo com a figura B, apresentada no quadro 1. Veja maiores informações em sobre as circunstâncias de visibilidade nas diversas regiões em: http://skyandobservers.blogspot.com.br/2014/07/a-ocultacao-de-saturno-pela-lua-em-08.html.

Rho Sagittarii

Em 12 de julho, a Lua +100% iluminada e com a elongação solar de 176°, ocultará a estrela Rho Sagittarii de magnitude 3.9 e tipo espectral K1III. Esse evento poderá ser observado no Pacífico Norte (ilhas Havaianas) e durante o período diurno na América do Norte de acordo com a figura C, apresentada no quadro 1.

Dabih Major (beta Capricorni)

Em 13 de julho, a Lua -98% iluminada e com a elongação solar de 166°, ocultará a estrela Dabih Major de magnitude 3.1 e tipo espectral F8V+A0. Esse evento poderá ser observado na América Central e América do Norte, bem como ainda no oceano Pacífico de acordo com a figura D, apresentada no quadro 1. 

Hyadum II (delta 1 Tauri)

Em 22 de julho, a Lua -20% iluminada e com a elongação solar de 53°, ocultará a estrela Hyadum II (delta 1 Tauri) de magnitude 3.8 e tipo espectral K0-IIICN0.5. Esse evento poderá ser observado na região oeste da África setentrional, de acordo com a figura E, apresentada no quadro 1.

Planetas, asteroides e cometas!

Já a contar deste primeiro dia, as elongações de Mercúrio encontram-se favoráveis a alguma tentativa observacional, mas agora será necessário buscar o seu posicionamento nos instantes que antecedem o nascer do Sol. Vênus da mesma forma é um dos objetos mais brilhantes do firmamento (-3.8), até a presença da Lua e do Sol ofuscarem seu brilho. A configuração celeste apresentada na figura 2 (dentro da faixa crepuscular matutina) em 24 de julho, certamente fará com que apreciamos um pouco mais desta manhã que promete ser radiante. 

As condições observacionais de Júpiter (-1.8) estão bastante prejudicadas, pois ele está localizado nesta época bem próximo a linha do ocaso, encaminhando-se para sua conjunção com o Sol que ocorrerá em 24/07. Enquanto isso os distantes planetas Netuno (7.8) na constelação de Aquarius e Urano (5.8) na constelação de Pisces, gradativamente aumentam suas elongações evidenciando suas oposições neste próximo trimestre; entretanto o planeta menor (134340) Plutão, com uma magnitude um pouco além da possibilidade de resolução de instrumentos de pequeno porte, estará em oposição no dia 04 próximo, a uma distância de 31.6660 ua (unidades astronômicas).  

Marte (0.1) e Saturno (0.4), por vez predominam na esfera celeste sendo que as ocultações acima mencionadas serão o diferencial envolvendo estes planetas neste período. Marte encontra-se na constelação de Virgo e Saturno na constelação de Libra (vide tabela 2). Nas últimas oportunidades observacionais, pudemos observar com telescópios de pequena abertura ótica (150 mm) seus principais satélites naturais, causando uma boa surpresa a fácil identificação de Titã (8.5), Rheia (9.8) Dione (10.5) e Enceladus (11.8), pelo público e astrônomos presentes na visitação pública promovida pelo CEAMIG em 24/05 último. 

Lua = As fases lunares neste mês, ocorrerão nas datas e horários abaixo mencionadas em Tempo Universal de acordo com a figura 3:

A ocorrência das apsides (Perigeu e Apogeu) lunares dar-se-á neste mês na seguinte sequência: Perigeu em 13/07 às 08:28 (UT), quando a Lua então estará somente 358.258 km do centro da Terra e Apogeu em 28/07 às 03:28 (UT), quando a Lua estará a 406.568 km do centro de nosso planeta.

Os Cometas

O cometa C/2014 E2 (Jacques) na constelação de Orion (Ori), poderá ser acompanhado antes do nascer do Sol já partir do dia 06/07, quando suas elongações passam novamente a serem favoráveis à observação; já a contar do dia 07 ele ingressa na constelação de Taurus (Tau), permanecendo naquela região celeste até o dia 19. Após este dia então este cometa passará no dia 20 a constelação boreal de Auriga (Aur), o conhecido Cocheiro, permanecendo lá até o fim deste mês conforme podemos verificar na tabela 3.


Os observadores que se encontram no hemisfério norte terão certamente após o dia 16 de julho, suas atenções voltadas para dois cometas: A) C/2013 A1 (Siding Spring), muito embora suas magnitudes estejam ao alcance de instrumentos de médio porte (200 mm) ou acima, ele estará muito bem posicionado sendo visível na segunda fase da noite e B) C/2013 UQ4 (Catalina), pois sua magnitude o fará também um objeto celeste a ser registrado entre as constelações de Draco e Bootes. Entretanto convém lembrar ainda que nos primeiros dias deste mês e ainda, muito bem posicionado no céu austral, o Cometa P/2008 Y12 (SOHO) estará ao alcance de pequeno instrumental, se bem que teremos a presença do luar nesta época, mas isso obviamente não deverá dificultar a localização deste cometa.

CONSTELAÇÃO:

Norma

Certamente a genialidade do astrônomo francês Niçolas-Louis La Caille, (15/05/1713 – 21/03/1762), naquela épica viagem no Cabo da Boa Esperança, sendo que também (em meio caminho para a África) esteve na cidade do Rio de Janeiro (Brasil), o fez realizar medidas de objetos das mais variadas formas e aplicações. Certamente esses instrumentos de utilização diária, por parte de artífices de carpintaria a estudiosos de geometria, não passaram despercebidos a este espírito aventureiro e interprete do céu austral. Assim “régua”, “Esquadro” ou ainda “nível”, podem ser representados de forma equânime por uma única constelação (figura. 4).  

Nosso instrumento celeste então pode ser delineado da seguinte forma: no vértice superior do triângulo encontramos Delta Normae, uma estrela branca de magnitude 4.7 e classe espectral A1MA7-F(3), encontra-se cerca de 122 anos-luz do Sol. Eta Normae, uma estrela gigante branco-amarelada de magnitude 4.6 e classe espectral G8 III, que encontra-se cerca de 218 anos luz; já Epsilon Normae é uma estrela branco-azulada de magnitude 4.4 e classe espectral B4V; sendo a componente principal de um sistema de estrelas, cuja uma das secundárias (HD 147970) é uma branca de magnitude 7.4 e tipo espectral A, sendo uma outra estrela, uma branca azulada de magnitude 7.5 e classe espectral B3; naquela região ainda encontraremos duas estrelas que são de fácil localização, pois virão a completar o raciocínio inicial do esquadro, são elas: Gamma2 Normae e Gamma 1 Normae. Gamma 2 Nor e uma gigante alaranjada de magnitude visual 4.0 e classe espectral: K2-IIIa bem luminosa, sendo Gamma 1 Nor uma supergigante branco-amarelada de magnitude visual 4.9 e classe espectral F9Ia, também bem luminosa. Desta forma elas complementarão as partes da régua celeste desta constelação. 

Entretanto no setor norte daquela região celeste, será importante também mencionar presença das seguintes estrelas: Theta Nor e uma estrela branco-azulada de magnitude visual 5.1 e classe espectral B8 V e lambda Nor, uma estrela branca de magnitude visual 5.4 e classe espectral A4(V). Já no setor oposto desta constelação temos: Iota 1 Normae e Iota 2 Normae. Iota 1 Nor  que é também uma múltipla, e uma estrela branca de magnitude visual 4.6 e classe espectral A7V+n necessitará de um telescópio de 8” para ser resolvido, enquanto Iota 2 Nor e uma estrela azul de magnitude visual 5.5 e classe espectral B9.5V.

Aglomerados de Estrelas

Eu não tenho o mínimo constrangimento em mencionar que fiquei maravilhado com as observações que realizamos na última Star Party no Observatório Wykrota [859] na noite de 31/05 para 01/06 última, quando então tivemos a oportunidade de observar três magníficos aglomerados de estrelas, existentes nesta constelação. 

O Aglomerado Globular NGC 5946

No post do mês anterior já havia mencionado como é “extremamente gratificante” a observação destes tipos de aglomerados. Fico cada vez mais convicto dessa afirmativa. Muito embora seja sua magnitude aparente 8.4, ele foi facilmente perceptível quando utilizamos um telescópio Obsession 18"UC. Aplicando um aumento de 250 vezes, com uma noite em que as condições do céu sejam favoráveis (essa data foi um caso desses), a sua aparência lembrou o aglomerado globular Ômega Centauri, embora ele tenha dimensões menores, 7.1 x 7.1'.  

Os Aglomerados abertos NGC 6067 e 6087

Os aglomerados abertos são geralmente de fácil localização, podendo ser percebidos através de binóculos (embora minha sugestão seja sempre os 7x50mm, mas neste caso aconselho maiores aberturas e uma boa ótica), pois que a visão do NGC 6067 ainda presente na memória, será pouco para narrar o quão é compensadora a busca e observação deste objeto. Facilmente você poderá perceber a profusão de estrelas azuis muito brilhantes que existe nesta região celeste; essa foi uma opinião geral dos observadores nesta jornada observacional. 

Embora tenhamos observado uma boa quantidade de objetos de céu profundo (Deep-Sky Objects), e também algumas estrelas duplas, desta vez em meu planejamento inicial, fiz questão de incluir a identificação em meio das estrelas do NGC 6087 (magnitude aparente de 5.6 e diâmetro de 12.0 x 12.0'). Embora sua quantidade de estrelas seja menor que o NGC 6067, é ressaltado no campo da ocular a presença de S Normae (classe espectral F8-G0Ib), uma estrela variável tipo cefeída clássica, cujo raio de brilho varia entre 6.1 a 6.7 magnitudes num período de apenas 9,75411 dias (AAVSO, 2014). 

“Mensurar os objetos celestes para que se possa melhor apreciar a beleza do céu”, exatamente essa é a mensagem passada pelo astrônomo La Caille, naquele século XVIII; Isso hoje reverbera numa das concepções básicas que são ensinadas aos recém-diletantes na ciência astronômica.  Observar o céu então de forma simples, vai somente complementar as nossas aspirações.

Boas Observações!

Referências:

- Mourão, Ronaldo Rogério de Freitas - Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro (RJ) - 1987, 914 P.

- Campos, Antônio Rosa - Almanaque Astronômico Brasileiro 2014, Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), Belo Horizonte (MG) - 2013, 111P.

- Cartes du Ciel - Version 3.8, Patrick Chevalley -  http://astrosurf.org/astropc - acesso em 31/04/2014.

- http://rea-brasil.org/cometas/14e2.htm - Acesso em 13/05/2014.

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