O céu do mês – Maio 2014

arcampos_0911@yahoo.com.br
CEAMIG – REA/Brasil – AWB

“Nobre companheiro Ruy Álvarez Diniz! Sempre é uma honra além de uma alegria muito grande participar do seu hall de amizades; habitando agora as estrelas e o infinito, o acompanhará sempre minha admiração”.

Sempre é uma alegria muito grande poder olhar para o céu e poder de “certa forma” apreciar as estrelas e o infinito. Este mês após alguns contra tempos e hora de voltar a alçar novamente o voo; então será uma boa oportunidade de apreciar a oposição do gigantesco Saturno. Os alinhamentos provados pela Lua também fará com que facilmente localizemos na esfera celeste noturna o planeta Marte, e com um pouco mais de paciência (utilizando um binóculo) Urano e Netuno. Por falar em instrumentos óticos, a temporada observacional de cometas está prometendo boas recompensas observacionais, o que é o caso do C/2014 E2 (Jaques) que destacamos num artigo separado para que seja possível os leitores destes posts mensais o valioso trabalho e contribuição observacional. Não vejamos como um sinal de mau presságio os derradeiros acontecimentos, visto que em seu início o Corvus também teve uma nobre missão, mas sua presumida astucia o levou a erros que o condenaram a tomar seu lugar no céu juntamente com a taça e a Hidra. Por isso também fica o convite: Ouçamos seu grasnar!

As ocultações de estrelas pela Lua neste Mês


Zubenelgenubi (alfa Librae)

Em 14 de maio, a Lua +100% iluminada e com a elongação solar de 172°, ocultará a brilhante estrela Zubenelgenubi (alfa Librae) de magnitude 2.8 e tipo espectral A3IV. Esse evento poderá ser observado na América do norte e também na Groenlândia de acordo a figura A, apresentada no quadro 1.

Rho Sagittarii

Em 18 de maio, a Lua -81% iluminada e com a elongação solar de 128°, ocultará a estrela Rho Sagittarii de magnitude 3.9 e tipo espectral K1III. Esse evento poderá ser observado no extremo oriente da Ásia (Japão, Coreia do Sul, Coreia do Norte, China, e oeste da Mongólia) de acordo com a figura B, apresentada no quadro 1.

Dabih Major (beta Capricorni)

Em 19 de maio, a Lua -70% iluminada e com a elongação solar de 114°, ocultará a estrela Dabih Major de magnitude 3.1 e tipo espectral F8V+A0. Esse evento poderá ser observado do norte do oceano Pacífico (Hawaii, Alasca, Federação dos Estados da Micronésia, Palau e regiões adjacentes) ao sudeste da Ásia (Filipinas, Indonésia, Malásia, Brunei, Japão, Coreia do Norte e Coreia do Sul e extremo oeste da China) de acordo com a figura C, apresentada no quadro 1. 

Planetas, asteroides e cometas!

Antes do nascer do Sol, Vênus (-4.0) vem chamando bastante a atenção dos apreciadores do céu matutino em meio a estrelas da constelação de Pisces; entretanto em 15/05 ele estará aparentemente junto do longínquo planeta Urano cuja magnitude (5.9) estará bem aquecível a observação de binóculos.  O diminuto Mercúrio (mag. -0.6) estará ainda muito próximo ao disco do Sol, o que impossibilita qualquer tentativa observacional. 

Enquanto isso junto à linha do poente, Júpiter (mag. -2.0) continua sendo um objeto de interesse as observações aos pequenos telescópios. Então eu sugiro a observação do duplo trânsito de sombra envolvendo seu satélite natural, Callisto em 17/05; mas o que realmente fará com que a atenção dos nossos observadores fique presa será a oposição de Saturno (mag. 0.1), em nossa última atividade observacional de atendimento ao público no CEAMIG, conseguimos observar com um telescópio skywatcher dobsoniano, cerca de 6 de seus principais satélites naturais, sob um céu com muita interferência luminosa; mesmo assim fica o convite para que todos possam observar esse fantástico planeta.  A tabela 2 abaixo, ilustrando essas afirmativas será um bom referencial para essa época.


Juntamente com ele no céu, Marte bastante favorável às observações telescópicas continuará prendendo a nossa atenção (mag. -0.9), sua proximidade com o planeta anão (1) Ceres (magnitude 7.4) e também com o asteroide (4) Vesta (mag. 6.0), na constelação de Virgo; ali também será possível identificar o asteroide (43) Ariadne (mag. 10.4).

Lua = As fases lunares neste mês, ocorrerão nas datas e horários abaixo mencionadas em Tempo Universal de acordo com a figura 2:

A ocorrência das apsides (Perigeu e Apogeu) lunares dar-se-á neste mês na seguinte seqüência: Apogeu em 06/05 às 10:23 (UT); Lua estará a 404.318 km do centro de nosso planeta e Perigeu em 18/05 ocorrendo às 11:59 (UT), quando a Lua então estará somente 367.098 km do centro da Terra.


Os Cometas

Estamos ainda com boas oportunidades para realizar registros observacionais do cometa C/2012 X1 LINEAR (Lincoln Near Earth Asteroid Research); ele estará com a magnitude 8.3, transitando pela constelação do Capricornus (Cap) até o dia 18/05, quando então passará a ser acompanhado em meio as estrelas da constelação de Aquarius.

Um pouco mais acessível aos observadores setentrionais, o cometa C/2012 K1 (Pan-STARRS) estará neste período aumentado suas magnitudes, sendo um a boa oportunidade para os que puderem acompanhar na primeira parte da noite; ele estará na constelação de Canes Venatici (CVn) com magnitude até 14/05, quando então já estará no dia seguinte na constelação da Ursa Major (UMa), permanecendo alí o restante do mês, entretanto sua magnitude estará estimada em 9.1. 

Enquanto isso e ainda na primeira fase da noite, poderemos acompanhar o C/2014 E2 (Jacques) transitando na constelação de Monoceros (Mon). Ele fará uma breve incursão em Canis Minor (CMi) entre os dias 11 e 12 retornando a Monoceros em seguida. Nós publicamos um post sobre essa descoberta (vejam em: http://skyandobservers.blogspot.com.br/2014/05/o-cometa-c2014-e2-jacques_4.html) apresentando suas efemérides para o período, mas sem dúvidas esse cometa vem surpreendendo aos observadores pelos relatos e estimativas realizadas com pequenos instrumentos óticos.

CONSTELAÇÃO:

Corvus

A história mitológica talvez marque algumas lições, que sempre no comprimento do dever lembro em minhas reminiscências e certa vez li o caso em que o Deus Apolo mandou para o céu como castigo, um Corvo, e juntamente com ele uma taça e uma Hidra, conta-se que certa vez ele tendo sede ordenou a um corvo que o trouxe água de uma fonte não muito distante; obedecendo nos primeiros momentos a ordem recebida este levou em suas garras uma taça para pegar essa água, entretanto durante seu voo ele deparou-se com uma figueira que estava com seus frutos por amadurecer, ele então ali permaneceu até que isso ocorresse; entretanto a divindade teve que solucionar o problema da sua sede por outros meios; passado algum tempo o Corvo retornando trouxe consigo uma cobra de água (Hidra), dizendo-lhe que essa tinha destruído a fonte, mas Apolo que tinha a virtude de conhecer as coisas ocultas, além de condenar o Corvo a uma sede eterna, o colocou no céu juntamente com a taça (Crater) e a Hidra (Hydra) para recordar esse acontecimento.

Embora não tenha essa constelação brilhantes estrelas que chama a atenção num primeiro momento dos observadores, essa é uma região celeste de fácil localização (figura. 3) aos observadores que estão dando seus primeiros passos rumo ao conhecimento do céu. 

Os mais atentos observadores sem dúvidas começarão nossa jornada de reconhecimento por Gienah (Gama Corvi), uma subgigante azul de classe espectral B7IV e magnitude 2.5, passando em seguida para Algorab (Delta Corvi). Na realidade esse é um sistema binário cujas estrelas são muito desiguais em brilho, pois Delta Crv A é uma estrela da sequência principal de magnitude 2.9 e classe espectral A0.5V, já Delta Crv B tem a magnitude de 9.5 e classe espectral K2V, sendo uma estrela anã alaranjada. Kraz (beta Corvi) é uma gigante amarela de magnitude 2.6 e classe espectral G5III que se destaca bastante nesta constelação. 

Corvus também pode ser incluída naqueles casos em que sua estrela mais brilhante não é necessariamente alfa, seguindo a tradicional classificação de Bayer, então vejamos agora Alchiba (alfa Corvi). De magnitude visual 4.0, ela é uma estrela anã branca amarelado de classe espectral F1V que se encontra a cerca de 48 anos luz do Sol e ainda Epsilon Corvi, uma gigante alaranjada tipo espectral K2+ IIIa e magnitude 3.0, mas essa encontra-se cerca de 300 anos luz do Sol. 

Nebulosa Planetária NGC 4361

As nebulosas planetárias sempre prendem a nossa atenção, e suas observações sempre vão requerer de nossos observadores um céu bom e livre de poluição luminosa e um instrumento com uma boa ótica. Não raro nos encontramos comentários desanimadores, mas entrará aqui outra recomendação importante: paciência. Dessa forma a Nebulosa Planetária NGC 4361 (magnitude 10.9) estará perceptível se conseguirmos aliar as nossas jornadas observacionais esses fatores importantes. 

Por isso mesmo a minha recomendação é que utilizemos instrumentos de 140mm de abertura ótica e aumentos da ordem de 110 vezes (ou melhor 20 vezes de aumento por polegada de abertura ótica), caso seja possível utilizar um filtro UHC (Ultra High Contrast) neste instrumento será um tanto quanto melhor. Então você poderá perceber a macha difusa distinguindo a estrela central já quase dentro do limite teórico da capacidade deste instrumento ótico.

Eta Corvi

Ao alcance de nossos telescópios Eta Corvi (magnitude 4.3 e classe espectral F2V), aparentemente  não chegará a ser uma estrela de beleza plástica interessante, mas todavia estaremos cometendo um ledo engano, levando-se em consideração as descobertas do Telescópio Espacial Spitzer realizadas em 2011, quando então detectou-se uma faixa de poeira em torno dessa estrela. A concepção artística da figura 4 ilustra a forma como isso ocorre. 

Essa tempestade em torno de Eta Corvi capturada pelos detectores de infravermelho do Spitzer apresentam assinaturas espectrais de gelo de água, matéria orgânica e rocha em torno de Eta Corvi todos os ingredientes ideais presentes em cometas. Esta é a primeira vez que a prova de uma ocorrência dessa natureza é observada em torno de outra estrela. 

Talvez Apolo sabendo que existindo esses fantásticos componentes em Corvus imaginaria que seu grasnar fosse daquele momento em diante tornar-se-ia rouco e esses novos fatos, definitivamente acaba com a fama de mau agouro existente em torno da figura dessa ave. Por isso, um brinde a vida!

Boas Observações!

Referências:

- Mourão, Ronaldo Rogério de Freitas - Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro (RJ) - 1987, 914 P.

- Campos, Antônio Rosa - Almanaque Astronômico Brasileiro 2014, Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), Belo Horizonte (MG) - 2013, 111P.

- Cartes du Ciel - Version 3.8, Patrick Chevalley -  http://astrosurf.org/astropc - acesso em 31/04/2014.

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