Guilherme de Almeida
guilhermedealmeida@clix.pt
APAA – REA/Portugal
Poucas pessoas ouviram falar na poluição luminosa, mas esta apresenta inconvenientes de vária ordem que atingem o cidadão no bolso, no descanso e na qualidade de vida. Poderiam poupar-se 40 por cento dos custos energéticos se a luz fosse doseada e orientada para onde e quando interessa.
O que é a poluição luminosa?
A poluição luminosa (PL) é o efeito produzido pela luz exterior mal direcionada, que é dirigida para cima, ou para os lados, em vez de iluminar o solo e as áreas pretendidas. Na maioria dos casos resulta de candeeiros e projetores de conceção inadequada ou instalação incorreta, que emitem luz para além do seu alvo, sem qualquer efeito útil. Muitas vezes até emitem luz para as nuvens. E essa luz também se paga. Muitas pessoas, para conseguirem dormir, têm de fechar os estores porque o candeeiro da rua faz entrar luz pela janela, mesmo quando esta fica acima desse candeeiro!
No caso da iluminação pública sabemos que são os cidadãos que pagam a conta da energia desperdiçada. Há quem diga que a poluição luminosa é inevitável, constituindo um indicador de progresso e modernidade, mas isso não é verdade. Ela é o resultado do mau planeamento dos sistemas de iluminação, não da necessidade de iluminação, em si, cuja utilidade não discutimos. As consequências desse imenso desperdício têm ainda outros custos indiretos: parte dessa energia provém de centrais térmicas, elas mesmas poluidoras do ambiente, que assim têm de consumir mais recursos, lançando mais dióxido de carbono na atmosfera, o que agrava o aquecimento global.
O que fazer para melhorar a situação?
Não sugerimos apagar as luzes nem andar às escuras. É possível otimizar a iluminação pública mantendo, apesar disso, bons níveis de iluminação no solo: onde interessa. Existem luminárias concebidas de raiz para minimizar a poluição luminosa.
Para mudar o estado actual da iluminação caótica é preciso que os cidadãos protestem e que os municípios escolham equipamentos de iluminação adequados. Uma lâmpada mais eficiente e de luz bem direcionada (veja-se a figura) consegue produzir o mesmo nível de iluminação, consumindo muito menos. Economizar 40% não é irrelevante: são milhões de euros anuais.
A figura mostra a emissão de luz de diversos tipos de candeeiros (luminárias), onde o modelo A é o pior e C é o melhor. O feixe luminoso ótimo é o da ÁREA 1. O feixe indicado na ÁREA 2 é incómodo e sem iluminação relevante; A iluminação nas ÁREAS 3 e 4 é inadmissível. Na verdade, os feixes luminosos nas áreas 2, 3 e 4 deveriam ser redirecionados, por reflexão (e refração), para dentro da área ótima 1.
Como avaliar a poluição luminosa num local
Um bom indicador da poluição luminosa num local é a abundância de estrelas visíveis a olho nu. Quanto mais estrelas forem vistas, menor será a poluição luminosa. Muitos jovens já não reconhecem as estrelas e constelações. Se nada for feito, a tendência, será para piorar as coisas. É preciso sensibilizar a opinião pública para os efeitos prejudiciais da poluição luminosa na beleza do céu noturno, que é um património da Humanidade e uma das maiores maravilhas que podemos contemplar.
Texto, esquema e fotografia de Guilherme de Almeida
Para saber mais:
Guilherme de Almeida – “O Céu nas Pontas dos Dedos”, 1.ª Edição, Plátano Editora, 2013.
(pack livro+planisfério celeste multifuncional)
Guilherme de Almeida e Pedro Ré — “Observar o Céu Profundo” (Cap. 3), Plátano Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2003.
Veja o artigo mais desenvolvido e um artigo complementar.
Guilherme de Almeida, nasceu em 1950. É licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária. Realizou mais de 80 palestras e comunicações sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, em escolas, universidades e no Observatório Astronómico de Lisboa. Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação.
Escreveu mais de 90 artigos de Astronomia e Física. É autor de oito livros: Sistema Internacional de Unidades; Itens e Problemas de Física–Mecânica (co-autor); Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas (co-autor); Roteiro do Céu; Observar o Céu Profundo (co-autor); Telescópios; Galileu Galilei; O Céu nas Pontas dos Dedos. A obra Roteiro do Céu foi publicada em inglês, sob o título “Navigating the Night Sky (Springer Verlag–London). O livro Galileu Galilei também está publicado em castelhano e catalão.