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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Largue o cel e olhe para o céu #2

Nebulosa de Órion

Aléxia Lage


Para que você possa guardar um resumo sobre o assunto desta coluna, disponibilizamos para download gratuito um documento contendo os dados básicos sobre o objeto estudado a cada edição. Denominado como Ficha de Catalogação, a ideia é oferecer-lhe uma forma prática e objetiva de você poder imprimir e guardar essas notas, de forma que possa sempre consultá-las rapidamente quando precisar. Você pode baixar o arquivo aqui: Ficha de Catalogação #001 - Nebulosa de Órion.

Falta pouco tempo para a chegada do Verão no hemisfério sul. Com a vinda dessa estação, será possível visualizar uma das mais belas constelações no céu: Órion. Facilmente reconhecível pela sua região central em forma de ampulheta, a constelação é constituída por estrelas brilhantes que facilitam sua identificação, mesmo em ambientes com considerável poluição luminosa. Por esse motivo, é muito indicada para aqueles que pretendem iniciar-se na prática observacional do reconhecimento do céu. Além disso, também é muito rica em Objetos do Céu Profundo (DSO), do qual a Nebulosa de Órion se destaca, sendo ainda mais tentador desejar observá-la por meio de binóculos ou telescópios.

Vamos conhecer primeiro um pouco mais sobre a constelação na qual a nebulosa se encontra? Para entender a origem do nome Órion e sua conformação, é preciso voltar a tempos remotos, quando se cultuavam divindades cujas histórias ficcionais constituíram as mitologias greco-romana: 

“Órion, filho de Netuno, era um belo gigante e poderoso caçador. Seu pai deu-lhe o poder de andar pelas profundezas do mar ou, segundo outros dizem, de caminhar sobre sua superfície. (...) Órion viveu, como caçador, com Diana, de quem era favorito, chegando-se mesmo a dizer que ela quase se casou com ele. O irmão da deusa, muito desgostoso, censurava-a, frequentemente, mas em vão. Certo dia, observando Órion que vadeava o mar apenas com a cabeça acima d'água, Apolo mostrou-o a sua irmã, afirmando que ela não seria capaz de alvejar aquele objeto negro sobre o mar. A deusa caçadora lançou um dardo, com pontaria fatal. As ondas empurraram para a terra o cadáver de Órion e, percebendo, com muitas lágrimas, seu erro, Diana colocou-o entre as estrelas, onde ele aparece como um gigante, com um cinto, a espada, a pele de leão e uma clava. Sírius, seu cão, o acompanha, e as Plêiades fogem diante dele.” (BULFINCH, 2002).
Com essa descrição, fica mais fácil então compreender como os antigos enxergaram o gigante no céu. Veja na figura 1 a conformação e as estrelas que compõem a constelação de Órion:

Figura 1 - Constelação de Órion conforme visualizada no software Stellarium. Estão indicadas as principais estrelas. Note ainda a imagem do caçador-gigante, que reproduz com precisão a descrição contida no texto citado anteriormente. Fonte:(STELLARIUM DEVELOPERS, 2019a).

A constelação recebeu a designação oficial de Orion, a abreviatura Ori e as estrelas pertencentes a essa constelação podem ser referenciadas pelas letras gregas seguidas pela palavra Orionis (que indica que a estrela pertence à constelação de Órion). As estrelas mais facilmente reconhecidas, conforme mostrado na Figura 1, são: Betelgeuse (α Orionis ou α Ori), Bellatrix (γ Orionis ou γ Ori), Alnitak (ζ Orionis ou ζ Ori), Alnilam (ε Orionis ou ε Ori), Mintaka (δ Orionis ou δ Ori), Rigel (β Orionis ou β Ori) e Saiph (κ Orionis ou κ Ori).

Em Órion, há um asterismo muito conhecido popularmente no Brasil como as Três Marias (composto pelas estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka). É ainda reconhecido também pelas denominações Três Reis Magos e Cinturão de Órion (veja a Figura 2). Portanto, para que fique claro, as Três Marias não são uma constelação por si só, mas um agrupamento de estrelas pertencentes à constelação de Órion.

Logo abaixo do Cinturão, acha-se a Nebulosa de Órion, também conhecida pelas designações M42 e NGC 1976. Quando nos encontramos em uma região onde o céu é mais escuro, livre de poluição luminosa, essa nebulosa de reflexão e emissão poderá ser mais fácil de ser visualizada a olho nu, possuindo magnitude absoluta igual a 4.0. Ela é o objeto que se encontra no meio de duas outras estrelas, dispostas em fileira, como se fosse uma estrela de brilho difuso (veja Figura 2).

Distante de nós a 1344 anos-luz, M42 abrange uma área de 65 por 60 minutos de arco de céu aparente e seu diâmetro é igual a 24 anos-luz. A massa que ela contém é surpreendente, chegando a ser 2.000 vezes maior que a do Sol, contendo associações de estrelas, nebulosas de reflexão, nuvens neutras de poeira e gás, além também de gás ionizado (MESSIER OBJECTS, 2015a).

Figura 2 - Localização da Nebulosa de Órion (M42), abaixo do Cinturão de Órion. Fonte: (STELLARIUM DEVELOPERS, 2019b).

Trata-se de um objeto dos mais estudados pelos pesquisadores, considerado um verdadeiro berçário, onde o processo de formação estelar pode ser melhor observado, já que novas estrelas vão surgindo a partir das nuvens de gás e poeira, abrigando dezenas de milhares delas, que se formaram nos últimos dez milhões de anos (EUROPEAN SOUTHERN OBSERVATORY (ESO), 2004). 

A nebulosa possui em seu interior uma área bastante brilhante, onde se encontra um aglomerado aberto de estrelas denominado Trapézio (Figura 3). É conhecido também pelas denominações de Aglomerado Trapézio de Órion ou Theta-1 Orionis, com magnitude aparente igual a 4.0 e distante da Terra a 1.600 anos-luz. Possui essa designação devido a suas 4 estrelas mais brilhantes que se configuram de forma trapezoidal, sendo responsáveis por grande parte do brilho da nebulosa ao redor, com massa estimada entre 15 e 30 vezes mais que a massa solar. A descoberta do aglomerado está envolvida em um aspecto curioso. O astrônomo italiano Galileu Galilei, seu descobridor, chegou a observar 3 dessas estrelas, porém não notou a nebulosa que as circundavam. Pequenos telescópios com maiores aumentos permitirão visualizar as quatro estrelas mais brilhantes do aglomerado (MESSIER OBJECTS, 2015b).

Figura 3 - Ao centro desta foto, acha-se o aglomerado aberto Trapézio, composto por 4 estrelas brilhantes. 
Crédito: ESO/IDA/Danish 1.5 m/R.Gendler, J.-E. Ovaldsen, and A. Hornstrup (EUROPEAN SOUTHERN OBSERVATORY (ESO), 2009)

Já a Nebulosa de Órion poderá ser vista utilizando algum instrumento óptico, tal como, por exemplo (RÉ; ALMEIDA, 2000):
  • Binóculo 7 x 50mm: visualização de diversas estruturas que compõem a M42.
  • Luneta de 80mm f/5: excelente para se observar a nebulosa em toda a sua extensão.
  • Telescópio de 114mm:  visualização de diversas ramificações e uma certa coloração (em um tom verde esmeralda). 

E se você quiser, pode até mesmo fazer uma pequena viagem virtual à nebulosa. Basta acessar o vídeo abaixo:

Crédito: ESO, N. Risinger (skysurvey.org), H. Drass, A. Hacar, ALMA (ESO/NAOJ/NRAO). Music: Johan B. Monell (EUROPEAN SOUTHERN OBSERVATORY (ESO), 2017).

Este texto foi útil para você? Agradecemos a todos aqueles que puderem deixar seus comentários com críticas e sugestões para a coluna e o material por ela disponibilizado.


Referências:

BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 

EUROPEAN SOUTHERN OBSERVATORY (ESO). Revisiting the Orion Nebula. 2004. Disponível em: <https://www.eso.org/public/brazil/news/eso0421/?lang>. Acesso em: 27 out. 2019. 

______. The Orion Nebula*. 2015. Disponível em: <https://www.eso.org/public/brazil/images/eso1103a/>. Acesso em: 27 out. 2019. 

______. The Trapezium cluster. 2009. Disponível em: <https://www.eso.org/public/brazil/images/trapeziumdk15b/>. Acesso em: 27 out. 2019. 

______. Zoom na Nebulosa de Órion. 2017. Disponível em: 
<https://www.eso.org/public/brazil/videos/eso1723b/>. Acesso em: 27 out. 2019.

MESSIER OBJECTS. Messier 42: Orion Nebula. 2015a. Disponível em: <https://www.messier-objects.com/messier-42-orion-nebula/>. Acesso em: 27 out. 2019. 

______. Trapezium Cluster. 2015b. Disponível em: <https://www.messier-objects.com/trapezium-cluster/>. Acesso em: 27 out. 2019. 

RÉ, Pedro; ALMEIDA, Guilherme de. Observar o céu profundo. Lisboa, 2000. 

STELLARIUM DEVELOPERS. Constelação de Órion. Belo Horizonte: Stellarium.org, 2019a.

______. Localização da Nebulosa de Órion. . Belo Horizonte: Stellarium.org, 2019b.

4 comentários:

  1. Parabéns !!! Excelente material . Divulgarei no CANF e nas listas de que faço parte.

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  2. Boa tarde. Acabei de conhecer o blog. Gostei muito do trabalho e iniciativa. Meus parabéns, muito instrutivo

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  3. Parabéns pelo blog e pela coluna, conheci após assistir uma live no canal AstroNeos no Youtube.
    Estou iniciando na Astronomia e o que me encantam além da lua, são as nebulosas, meu interesse cresceu após conseguir fazer um registro da nebulosa mesmo com uma câmera DSLR e tripé fixo, de dentro da cidade, onde a poluição luminosa é bem alta (Londrina-PR).

    Parabéns pela matéria!!!

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  4. Alexia, excelente o texto. Uma linguagem simples e bem compreensível sem muito termos técnicos. Ficou muito rico, vou passar para os meus alunos quando começar a trabalhar com eles para as OBA. Gostei muito. Parabéns. Estou lendo seus texto nas pausas das infindáveis lives de aulas e reuniões.

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