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sexta-feira, 1 de março de 2019

A ocultação de Saturno pela Lua em 29 de março 2019.


Em 29 de março próximo, a Lua - 40% iluminada e com uma elongação de 78°, ocultará o planeta Saturno com a magnitude de 0.6 (Figura 1). Proporcionando um belo espetáculo aos observadores munidos com pequenos instrumentos óticos como: lunetas e telescópios; esse evento poderá ser observado numa grande extensão do globo atravessando grande parte África, Sul da Ásia onde o evento já na fase diurna na América do Sul antecedendo ao nascer do Sol.


Observadores localizados na região austral da do continente africano (África do Sul, Angola, Madagascar, Maurício, Moçambique, Ilha Reunião, Zâmbia e Zimbabwe), poderão acompanhar esse evento, conforme e apresentado na tabela 1 abaixo.

Como acima mencionado, durante a fase de desaparecimento, as localidades de Huambo e Luanda em Angola e ainda a Cidade do Cabo na África do Sul estarão na fase noturna deste evento; já nas demais localidades ele ocorrerá na fase crepuscular muito próximo ao nascer do Sol.

O mesmo ocorrerá para no Sri-Lanka, conforme podemos vislumbrar na tabela 2 abaixo, onde o evento ocorrerá a luz diurna e o reaparecimento ocorrerá instantes antes do ocaso da Lua.

Atravessando toda a porção sul do oceano Atlântico algumas regiões litorâneas do Brasil (exceto Belo Horizonte-MG) poderão acompanhar a fase de reaparecimento de Saturno conforme poderemos consultar as circunstâncias para as capitais mencionadas na tabela 3 abaixo. 

Circunstâncias Gerais de visibilidade no Brasil

Não podemos deixar de mencionar ainda que além das localidades mencionadas na tabela 3, este evento também será visível em outras localidades do Brasil. Assim sendo, encontra-se disponível (figura 2 - Ilustrativa) para download no link: https://drive.google.com/file/d/14U9vljz6aNKZHCVBdpXNAT1PQJ8SlwUR/view?usp=sharing as condições de desaparecimento e reaparecimento para 391 municípios (incluso os acima mencionados) localizados nas regiões nordeste e sudeste do Brasil.

Além das circunstâncias de gerais de visibilidade e também de desaparecimento e reaparecimento acima mencionadas, abaixo apresentamos o mapa global (figura 3) com a faixa de visibilidade do fenômeno que abrange as demais localidades localizadas no sul dos oceanos Atlântico e Indico.

Saturno

Não resta a menor sombra de dúvidas que um dos planetas mais belos objetos de todo o Sistema Solar seja o gigantesco planeta Saturno. Ele é conhecido desde a mais remota antiguidade e a simples visão apresenta-se como uma estrela de primeira grandeza de coloração amarelada. Seus registros de ocultações pela Lua na antiguidade datam de 21 de fevereiro de 583 a.C em Atenas; sendo que a ocultação da estrela 28 Sagittarii por Saturno ocorrida em 02 de julho de 1989, foi amplamente acompanhada por diversos observadores (FERRÍN, 1989).


As ocultações de planetas pela Lua são fenômenos de rara beleza, onde seus registros constituem uma excelente oportunidade do astrofotógrafo, por exemplo, incrementar sua coleção (figura 4), bem como ainda, ao astrônomo amador manter um registro significativamente importante destes dados, desde que são encaminhados para associações de pesquisas como a ALPO (Association Lunar and Planetary Observers), IOTA (International Occultation Timing Association) e no Brasil a REA (Rede de Astronomia Observacional).

Sites recomendados:

"Como observar"
"formulário de reporte"
(ocultações de estrelas por asteroides).


Boas Observações!

Referências:

- MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987, 914P.

- CAMPOS, Antônio Rosa. Almanaque Astronômico Brasileiro 2019. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2018. 197p. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1MDUD98pgALzQFNmM200ftLQRuVDS0Vsu/view> Acesso em 02 Dez 2018.

- HERALD, Astronomical Software Occult v4.1.0.27 (David Herald - IOTA) (24 March. 2014) Uptade v4.2.0 available in: <http://www.lunar-occultations.com/occult4/occultupdate.zip> Acesso em: 28 Abr. 2016.

- FERRÍN, Ignácio - UNIVERSO - LIADA - Liga Iberoamericana de Astronomia, nº 31, Volume 10, Col. Reportes - 56 p. - Mérida - Venezuela - 1989.

O asteroide (44) Nysa em 2019.


Em 25 de abril próximo, o asteroide Nysa estará com seu posicionamento favorável às observações (fase da Lua = -0.684), quando então sua magnitude chegará a 9.9, portanto dentro dos limites de magnitudes observáveis de instrumentos óticos de pequeno porte. A tabela abaixo apresenta suas efemérides e bem como uma carta celeste ilustrativa, objetivando sua localização nos próximos dias. 

Como demonstra seu número em ordem de nomeação indicado acima entre parênteses, 44 Nysa foi descoberto em 27 de maio de 1857 pelo astrônomo Herman Goldschmidt (1802-1866) no Observatório de Paris. (MOURÃO, 1987).

Notas:
1 = (ua)* Conforme a Resolução da IAU 2012 B2, acolhendo proposta do grupo de trabalho “Numerical Standards for Fundamental Astronomy”, redefiniu-se a unidade astronômica de comprimento correspondendo à distância media da Terra ao Sol equivalendo assim a 149.597.870.700 metros, devendo ser representada unicamente por au (“astronomical unit”) (OAM, 2015).

2 = As coordenadas equatoriais ascensão reta e declinação (J2000.0) são apresentadas no formato HH:MM:SS (hora/grau, minuto e segundo).

3 = Na carta celeste acima apresentada, encontra-se estacada a presença do asteroide (308) Polyxo, sua Magnitude Visual e estimada em 11.8, portanto acessível a instrumentos de médio porte.

4 = A fase lunar acima mencionada assume os seguintes valores: 0.000 = Nova; +0.500 = Quarto crescente;  1.000 = Cheia e -0.500 = Quarto minguante.

Referências:

- MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

- CAMPOS, Antônio Rosa. Almanaque Astronômico Brasileiro 2019. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2018. 197p. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1MDUD98pgALzQFNmM200ftLQRuVDS0Vsu/view> Acesso em 02 Dez 2018.

- CHEVALLEY, Patrick. SkyChart / Cartes du Ciel - Version 4,0, March. 2017. Disponível em:  <https://www.ap-i.net/skychart/en/news/version_4.0>. - Acesso em: 04 Jan. 2019.


O asteroide (67) Asia em 2019.


Em 14 de abril próximo, o asteroide Asia estará com seu posicionamento favorável às observações (fase da Lua = +0.637), quando então sua magnitude chegará a 11.0, portanto dentro dos limites de magnitudes observáveis de instrumentos óticos de médio porte. A tabela abaixo apresenta suas efemérides e bem como uma carta celeste ilustrativa, objetivando sua localização nos próximos dias. 


Como demonstra seu número em ordem de nomeação indicado acima entre parênteses, 67 Asia foi descoberto em 17 de abril de 1861 pelo astrônomo inglês Norman R. Pogson (1829-1891), no Observatório de Madrasta. Seu nome é homenagem do descobridor a Ásia, esposa de Japeto, mãe de Atlas e Prometeu. Nome lembrado porque foi na Ásia que Pogson fez a sua primeira descoberta astronômica. (MOURÃO, 1987).

Notas:
1 = (ua)* Conforme a Resolução da IAU 2012 B2, acolhendo proposta do grupo de trabalho “Numerical Standards for Fundamental Astronomy”, redefiniu-se a unidade astronômica de comprimento correspondendo à distância media da Terra ao Sol equivalendo assim a 149.597.870.700 metros, devendo ser representada unicamente por au (“astronomical unit”) (OAM, 2015).

2 = As coordenadas equatoriais ascensão reta e declinação (J2000.0) são apresentadas no formato HH:MM:SS (hora/grau, minuto e segundo).

3 = Na carta celeste acima apresentada encontram-se estacadas as presenças dos seguintes asteroides: (31) Euphrosyne (Mv= 11.2), (57) Mnemosyne (Mv= 11.9) e (444) Gyptis (Mv= 12.2). Bem próximo a (67) Asia podemos também observar o asteroide (540) Rosamunde (Mv 12.5), portanto também acessíveis a instrumentos de médio porte.

4 = A fase lunar acima mencionada assume os seguintes valores: 0.000 = Nova; +0.500 = Quarto crescente;  1.000 = Cheia e -0.500 = Quarto minguante.

Referências:

- MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

- CAMPOS, Antônio Rosa. Almanaque Astronômico Brasileiro 2019. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2018. 197p. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1MDUD98pgALzQFNmM200ftLQRuVDS0Vsu/view> Acesso em 02 Dez 2018.

- CHEVALLEY, Patrick. SkyChart / Cartes du Ciel - Version 4,0, March. 2017. Disponível em:  <https://www.ap-i.net/skychart/en/news/version_4.0>. - Acesso em: 04 Jan. 2019.


O asteroide (31) Euphrosyne em 2019.


Em 14 de abril próximo, o asteroide Euphrosyne estará com seu posicionamento favorável às observações (fase da Lua = +0.637), quando então sua magnitude chegará a 11.2, portanto dentro dos limites de magnitudes observáveis de instrumentos óticos de médio porte. A tabela abaixo apresenta suas efemérides e bem como uma carta celeste ilustrativa, objetivando sua localização nos próximos dias. 
 

Como demonstra seu número em ordem de descoberta, Euphrosyne foi descoberto em 1º de setembro de 1854 pelo astrônomo inglês James Ferguson (1710 - 1776) no Observatório de Washington. O seu nome é uma alusão à figura mitológica de uma das três Graças; as outras são Tália e Aglaja. Foi ainda o primeiro asteroide descoberto nos EUA. (Mourão, 1987).

Notas:
1 = (ua)* Conforme a Resolução da IAU 2012 B2, acolhendo proposta do grupo de trabalho “Numerical Standards for Fundamental Astronomy”, redefiniu-se a unidade astronômica de comprimento correspondendo à distância media da Terra ao Sol equivalendo assim a 149.597.870.700 metros, devendo ser representada unicamente por au (“astronomical unit”) (OAM, 2015).

2 = As coordenadas equatoriais ascensão reta e declinação (J2000.0) são apresentadas no formato HH:MM:SS (hora/grau, minuto e segundo).

3 = A fase lunar acima mencionada assume os seguintes valores: 0.000 = Nova; +0.500 = Quarto crescente;  1.000 = Cheia e -0.500 = Quarto minguante.

Referências:

- MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

- CAMPOS, Antônio Rosa. Almanaque Astronômico Brasileiro 2019. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2018. 197p. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1MDUD98pgALzQFNmM200ftLQRuVDS0Vsu/view> Acesso em 02 Dez 2018.

- CHEVALLEY, Patrick. SkyChart / Cartes du Ciel - Version 4,0, March. 2017. Disponível em:  <https://www.ap-i.net/skychart/en/news/version_4.0>. - Acesso em: 04 Jan. 2019.


O asteroide (7) Iris em 2019.


Em 05 de abril próximo, o asteroide Iris estará com seu posicionamento favorável às observações (fase da Lua = -0.003), quando então sua magnitude chegará a 9.3, portanto dentro dos limites de magnitudes observáveis de instrumentos óticos de pequeno porte. A tabela abaixo apresenta suas efemérides e bem como uma carta celeste ilustrativa, objetivando sua localização nos próximos dias. 


Como demonstra seu número em ordem de nomeação indicado acima entre parênteses, 7 Iris foi descoberto em 13 de agosto de 1847 pelo astrônomo inglês John Russel Hind (1823 - 1895) no Observatório de Londres. Seu nome é homenagem a Íris ou Íride, filha de Taumas e Electra, e mensageira de Juno, em particular, e dos deuses, cuja aparição era anunciada pelo arco-íris. (MOURÃO, 1987).

John Russell Hind teve seu nome imortalizado na superfície lunar, quando uma cratera de 29 Km de diâmetro e 3 Km de profundidade, localizada nas coordenadas selenográficas LAT: 07° 54' 00 S e LON: 007° 24' 00 E, foi nomeada oficialmente em 1935 como HIND, pelo Working Group for Planetary System Nomenclature (WGPSN), da International Astronomical Union (IAU). Hind também descobriu e observou estrelas variáveis, além de descobrir Nova Ophiuchi 1848 (V841 Ophiuchi), a primeira nova dos tempos modernos (desde a supernova SN 1604).

Esse relevo foi registrado fotograficamente em duas oportunidades pela equipe do Vaz Tolentino Observatório Lunar (VTOL), em 24 de agosto de 2012 e 01 de maio de 2013. A composição de ambas imagens poderá ser visualizada em: http://www.vaztolentino.com/imagens/7587-Cratera-HIND.

Notas:
1 = (ua)* Conforme a Resolução da IAU 2012 B2, acolhendo proposta do grupo de trabalho “Numerical Standards for Fundamental Astronomy”, redefiniu-se a unidade astronômica de comprimento correspondendo à distância media da Terra ao Sol equivalendo assim a 149.597.870.700 metros, devendo ser representada unicamente por au (“astronomical unit”) (OAM, 2015).

2 = As coordenadas equatoriais ascensão reta e declinação (J2000.0) são apresentadas no formato HH:MM:SS (hora/grau, minuto e segundo).

3 = Na carta celeste acima apresentada, encontra-se estacada as presenças dos asteroides (57) Mnemosyne de magnitude visual 11.8 e ainda: (554) Peraga, sua magnitude visual e estimada em 12.5, portanto ambos acessíveis a instrumentos de médio porte.

4 = A fase lunar acima mencionada assume os seguintes valores: 0.000 = Nova; +0.500 = Quarto crescente;  1.000 = Cheia e -0.500 = Quarto minguante.

Referências:

- MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio e Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1987,  914P.

- CAMPOS, Antônio Rosa. Almanaque Astronômico Brasileiro 2019. Belo Horizonte: Ed. CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais), 2018. 197p. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1MDUD98pgALzQFNmM200ftLQRuVDS0Vsu/view> Acesso em 02 Dez 2018.

- CHEVALLEY, Patrick. SkyChart / Cartes du Ciel - Version 4,0, March. 2017. Disponível em:  <https://www.ap-i.net/skychart/en/news/version_4.0>. - Acesso em: 04 Jan. 2019.



- TOLENTINO, Ricardo J. Vaz; (VTOL) Disponível em: < http://www.vaztolentino.com/imagens/7587-Cratera-HIND> - Acesso: 13 Nov. 2017.

Sob o luminoso céu do Brasil.


Há cem anos a Relatividade de Einstein era confirmada no Brasil e pouca gente sabe que os conceitos da ciência no século XX mudaram radicalmente após um eclipse total do Sol tendo como palco a cidade de Sobral no Ceará.

A partir do dia 10 de maio de 1919, a cidade com apenas 10 mil habitantes foi surpreendida com a chegada de astrônomos brasileiros, ingleses e americanos. Na Praça do Patrocínio (fig. 1) em frente a igreja, várias tendas com um arsenal de instrumentos científicos começaram a ser montadas. Tudo teria que estar pronto para a manhã do dia 29, dia do eclipse. A equipe brasileira era composta por Henrique Morize, Domingos Costa, Lélio Gama e Allyrio de Mattos, todos do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, ON.  A inglesa por Charles R. Davidson e Andrew Claude de La Cherois Crommelin do Real Observatório de Greenwich e a americana por Daniel Wise e Andrew Thomson, comissionados pela fundação Carnegie Institution de Washington, interessada nos possíveis efeitos do eclipse sobre o magnetismo terrestre. A equipe brasileira instalou um fotoheliógrafo Zeiss com objetiva de 10,5 cm com a missão de fotografar a coroa solar, e a inglesa um celostato com os dois espelhos direcionados a uma luneta com objetiva de 33 cm diafragmada para 20,3 cm e uma outra de 10,1 cm, ambas para o teste da possível curvatura do raio luminoso de estrelas próximas ao bordo solar.

As várias Tentativas


Depois que Einstein anunciou que um eclipse total do Sol poderia comprovar sua teoria, o astrônomo alemão Erwin Freundlich (1885-1964) do Observatório de Potsdam, Alemanha, examinou antigas placas fotográficas de eclipses totais do Sol para ver se isso era verdadeiro. Não encontrou nada. A primeira tentativa para comprovação do efeito Einstein aconteceu no Brasil em 1912 no eclipse de Passa Quatro, MG, mas choveu torrencialmente. Uma outra oportunidade ocorreu em 1914 na Criméia, no dia 21 de agosto, mas foi interrompida pela deflagração da 1ª Guerra Mundial. Uma equipe alemã viu-se prisioneira do exército russo e nada pode ser feito, bem como uma inglesa, que se retirou em razão do clima reinante da guerra. Outra oportunidade aconteceu em 8 de junho de 1918 nos Estados Unidos, mas a equipe do Observatório Naval, no momento da totalidade, nada pode observar em razão de muitas nuvens que cobriram o céu. A próxima oportunidade para a comprovação do efeito Einstein seria o eclipse de 29 de maio de 1919, que faria famosa a cidade de Sobral e o Brasil.


Hipótese já era conhecida


A teoria que a luz é atraída pela gravidade e assim nem sempre viaja em linha reta pelo espaço não era novidade. Em 1803 o físico, matemático e astrônomo alemão Johann George Von Soldner (1776-1833) já havia suposto que a luz fosse feita de partículas e que a luz de uma estrela distante, ao passar bem perto do Sol, sofreria um desvio que ele calculou em 0,84” segundos de arco. O ângulo era tão pequeno que sem o recurso da fotografia inventada somente em 1830, essa comprovação era impensável. Por isso a comunidade científica da época ignorou a hipótese de Soldner, visto que em ciência, as teorias precisam ser comprovadas experimentalmente. Muito provavelmente Einstein conhecia a ideia de Soldner.

Porque Sobral?

A faixa de totalidade com 130 km de largura, começou no Peru, Brasil, Oceano Atlântico, Ilha do Príncipe, África Central e Moçambique. Após consenso geral, os melhores locais escolhidos foram o Brasil e a Ilha do Príncipe, (fig. 2). No Brasil, após criterioso exame, os astrônomos optaram por Sobral em pleno sertão cearense por várias razões: próxima a linha de centralidade; tempo de exposição da luz solar que oferecia durante o eclipse; facilidade no transporte dos instrumentos pela Estrada de Ferro Viação Cearense e pelo apoio logístico oferecido pelo ON. Sobral encontrou-se, pois, no lugar e no tempo certo para ser palco de um espetáculo científico que trouxe profundas repercussões científicas para a humanidade.



O grande dia

As atenções do mundo inteiro estavam convergidas para Sobral e a Ilha do Príncipe. Seria uma oportunidade única para comprovar se a teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein (1879-1955) estava correta segundo a qual a luz de uma estrela passando de raspão por um corpo maciço, no caso o Sol, seria levemente desviada de sua posição original devido a deformação do espaço pela gravidade do Sol. Conhecida a posição da estrela antes, durante e depois do eclipse, essa posição seria alterada devido a força gravitacional do Sol deformando o espaço (fig. 3). Em Sobral, o inicio do eclipse estava previsto para às 08:56 com duração de 6 minutos e 14 segundos, um tempo ótimo considerando o máximo previsto de um eclipse total do Sol de 7 minutos e 14 segundos. Mas o tempo amanheceu com forte nevoeiro causando grande apreensão nos astrônomos. Contudo, como num passe de mágica, 5 minutos antes da totalidade, dissipou-se o nevoeiro deixando o Sol num campo livre e desembaraçado para a obtenção das fotografias desejadas. A equipe brasileira obteve 7 chapas e a inglesa 19 chapas com a luneta de 20,3 cm e 8 com a luneta de 10,1 cm, num total de 27 chapas sendo 8 consideradas muito boas.



As exposições fotográficas variaram de 5 a 58 segundos. A mais famosa fotografia foi obtida por Henrique Morize do ON (fig. 4) mostrando uma grande protuberância chamada “Tamanduá” pela semelhança com esse animal. Todo o eclipse com as fases parciais terminou às 10:29.

Einstein x Newton

Segundo Isaac Newton (1642-1727), os raios de luz não têm massa e não teriam sua trajetória afetada pela gravidade. Para ele, o espaço-tempo eram absolutos e não falava nada sobre aceleração e tampouco sobre a curvatura do espaço. Com a teoria da Relatividade Geral, Einstein explicou primeiramente um fenômeno que a física newtoniana não explicava: o avanço do periélio de Mercúrio após múltiplas órbitas. Entretanto, para derrubar Newton de seu pedestal intocável por mais de três séculos, a comunidade de físicos exigiam mais. Ademais, Einstein era alemão e os ânimos contra a Alemanha estavam acirrados em 1919 após o armistício de 1918. Na Inglaterra muitos olhavam torto para a ideia de patrocinar expedições a cantos remotos do planeta com objetivo de comprovar a teoria de um alemão com sua teoria revolucionária e mesmo audaciosa revolucionando a concepção do espaço-tempo e gravidade. Entretanto, como a ciência paira sempre acima da estupidez humana, a Relatividade Geral de Einstein que descreve a distorção do espaço-tempo quando um raio de luz se encurva, ao passar por um corpo de muita massa, precisaria ser provado experimentalmente e nada melhor que um eclipse total do Sol. Segundo Newton, uma estrela atrás do Sol não poderia ser vista. Einstein dizia que sim e calculou que o desvio dos raios de uma estrela próxima a borda solar seria de 1. 75” segundos de arco, durante um eclipse total do Sol. Confrontando com sua posição original, ela se mostraria alterada devido a deformação do espaço pela força gravitacional do Sol. No eclipse de 29 de maio o Sol estaria na constelação do Touro (fig.5) numa região rica de estrelas brilhantes e isso era um fator altamente favorável para provar a teoria.



A comprovação de Einstein

No dia do eclipse o tempo esteve chuvoso na Ilha do Príncipe e só duas chapas foram conseguidas, mas somente uma apresentou estrelas com resultados precários e bastante incertos. Ela não permitiu a equipe chefiada por Arthur S. Eddington (1882-1944) do Observatório Real de Greenwich, provar a contento a teoria de Einstein. Ao contrário, 8 chapas obtidas pelos ingleses em Sobral foram consideradas muito boas e 7 estrelas (fig. 5) apareciam nelas. As medidas deram o valor de 1.98” segundos de arco de deflexão da luz, muito próximo do previsto por Einstein de 1.75” segundos de arco. Os resultados confirmando o chamado efeito Einstein, só foi possível ao se comparar as chapas do dia 29 de maio com chapas obtidas posteriormente nos dias 10, 13, 14, 16 e 17 de julho, na mesma região do céu onde o Sol estivera antes, no mesmo local e com os mesmos instrumentos. Os resultados foram divulgados em 6 de novembro de 1919 no famoso encontro da Royal Society em Londres. No dia seguinte, manchetes ocupavam os jornais de todo o mundo. Na Inglaterra, particularmente em Londres, o impacto foi enorme e produziu manchetes como: “A teoria do alemão Einstein suplantou a teoria do inglês Newton”. No Times: “Uma revolução na ciência: as idéias de Newton estão arruinadas”! A observação do eclipse solar em Sobral, foi a primeira comprovação convincente da Relatividade Geral. Atualmente não se usa mais eclipses solares totais para comprovação da teoria e sim ondas de rádio emitidas por quasares e detectadas por rádio telescópios. Mais tarde Einstein visitou o Brasil de 4 a 12 de maio de 1925, ocasião em que disse: “O problema concebido pelo meu cérebro, incumbiu-se de resolve-lo o luminoso céu do Brasil”.



Referências – Para conhecer mais
Einstein no Brasil, Marcomede R. Nunes, ON, Editora Régis Aló, 2005;
Astronomia no Ceará, Rubens de Azevedo, IOCE, Fortaleza, 1986;
Correio da Semana, jornal de Sobral, dias 17, 24 e 31 de março e 12 de julho de 1919;
Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ronaldo R. F. Mourão, Editora Nova Fronteira, 1995;
Testing Relativity from the 1919 Eclipse a question of bias, Daniel Kennefick, American Institute of Physics, 2009;
A Determination of the Deflection of Light by the Sun’s Gravitational Field, from Observations made at the Total Eclipse of May 29, 1919, by Sir F. W. Dyson, F. R. S. Astronomer Royal, Prof A. S. Eddington, F. R. S. and Mr. C. Davidson;
Observatório Nacional 185 Anos, Terezinha Rodrigues, ON, 2012;
História do Observatório Nacional, Antonio A. Passos Videira, gráfica Duo Print, 2007.

Agradecimentos
Ao Dr. Julio Penereiro, astrofísico do Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini, pela revisão e sugestões ao presente artigo.

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